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Língua Afiada

O ardil da qualidade de vida portuguesa

Em Portugal vive-se bem, estamos no cantinho do céu, é frequente ouvir estas e outras expressões em relação à qualidade de vida dos portugueses, se em tempos concordei e tive essa opinião, hoje não tenho.

O que mudou? O custo de vida, o custo de vida aumentou consideravelmente nos últimos 10 anos e os ordenados não acompanharam o seu aumento, se o ordenado mínimo foi atualizado os restantes ordenados não acompanharam a subida e eu e muitos outros portugueses ganham o mesmo ou ainda menos do que ganhavam há uma década.

 

O Jornal Negócios avançou esta semana que a carga fiscal em Portugal atingiu o valor máximo dos últimos 22 anos, 22 anos porque antes disso não existem dados, pois creio que poderiam ser muitos mais.

O Governo fez crer a opinião pública que os impostos baixaram, quando na verdade subiram, apenas houve uma canalização dos impostos diretos para os impostos indiretos, uma forma de parecer que pagamos menos, quando na verdade pagamos mais.

Pagar impostos não me choca, são essenciais ao funcionamento do Estado, preocupa-me a forma como são utilizados, um Governo adepto de cativações recebe mais dinheiro e não se vê efetivamente melhorias em nada, Saúde, Educação, pilares de uma sociedade evoluída apresentam cada vez piores condições para utentes e para estudantes e docentes respetivamente.

 

Não vejo vontade, nem tão pouco possibilidade do tecido empresarial português fazer um aumento massivo dos ordenados, as exigências dos funcionários do sector público, totalmente legítimas devo referir, representam um esforço financeiro que o Estado não pode fazer, afinal a dívida portuguesa é de 125% o valor do PIB, esqueçam esse malogrado défice, a dívida, o valor real que devemos é que é preocupante porque não consigo perspetivar saúde financeira para a economia portuguesa.

Entretanto, e sem grande motivo aparente a economia cresce, o consumo interno aumentou, o sector da construção está em força, o que é difícil de explicar já que a maioria dos portugueses tem exatamente o mesmo ou ainda menos rendimento disponível e o Turismo não justifica tudo.

 

As pessoas continuam a acreditar que vivemos bem porque tomar um café ou jantar fora ainda é possível, sair com a família e os amigos ainda é uma possibilidade, para já, mas será até quando?

O nível de vida tende a nivelar-se pelo resto da Europa e o turismo irá acelerar esse nivelamento, infelizmente os ordenados estão longe de se nivelarem com o resto da Europa Ocidental, não se perspetivam aumentos suficientes para que os portugueses consigam acompanhar o aumento do custo de vida, veja-se o exemplo da vizinha Espanha onde o ordenado mínimo é de 825,65€.

 

Em Espanha entrando-se num supermercado o custo de um cabaz de compras é idêntico ao custo de um cabaz em Portugal e pode-se facilmente sair para beber uma cerveja e pagar 1€ tendo ainda direito a um pires de azeitonas ou de frutos secos, a única coisa que em Portugal ainda se encontra a preços incrivelmente baratos é o café, desde que não se entre num local turístico ou da moda, já paguei 2€ por um café em Portugal e em vários locais 1,50€.

 

O Porto está cada vez mais caro e de Lisboa nem é bom falar, todos sabemos que o custo de vida começa a ser incompatível com os salários portugueses, ou começamos a fugir para o interior ou teremos de abandonar os passeios, os cafés e especialmente os jantares, mas viajar cá dentro começa a ser impossível a menos que se vá de avião porque os preços dos combustíveis e portagens tornam viagens que num país grande são curtíssimas, impossíveis de realizar em Portugal, cada vez mais me convenço que a nossa noção de distância não é influenciada pelo tamanho do país, mas pelo enorme custo das viagens.

 

Temos o sol e a paisagem que nos permitem ter atividades de lazer sem gastar muito dinheiro, a segurança é outro ponto a favor de Portugal, tirando isso pouco resta do suposto bom nível de vida.

 

Não estamos no cantinho do céu, estamos bem enganados se pensamos que passar a vida a contar tostões com empregos sem perspetivas de crescimento em empresas que só enriquecem os bolsos dos patrões vivemos bem, não se enganem vivemos bem mal.

 

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