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Língua Afiada

O mundo (im)perfeito para receber um bebé

A pressão social para que tudo o que rodeia o nascimento de um bebé seja perfeito é imensa, a inspiração passou a obrigação e o sonho passou a ser realidade, o baby shower, as sessões fotográficas, as roupinhas, as festas, a decoração do quarto, tudo passou a ser uma obsessão sustentada por um consumismo desenfreado e uma aguerrida competição.

Se há momentos que surgem com naturalidade porque fazem parte de nós, já outros parecem mais uma imposição da sociedade, o baby shower foi uma ideia natural, algo que foi fazendo sentido, planeado em menos de duas semanas foi extremamente cansativo, mas muito gratificante, rústico e caseiro foi realizado com muito amor e muita ajuda dos amigos, das tias de coração maravilhosas que a minha filha tem e a ajuda preciosa da madrinha, muitas mãos e muito boa vontade proporcionaram um evento amoroso e um dia feliz.

O quarto foi preparado aos poucos, ainda não está completo, estará algum dia? Não sei, mas para pena minha, não estava pronto quando a bebé nasceu e esta pena prende-se apenas com o facto de não lhe ter conseguido tirar fotos no quarto desde sempre.

A pressão para ter fotos perfeitas dos bebés é muita, tínhamos planeado sessões regulares, mas infelizmente o fotógrafo escolhido devido a problemas de saúde não conseguiu realizar o trabalho, estávamos inclinados a selecionar outra opção, mas começaram as cólicas e com as cólicas o bolsar constante e o cansaço.

Tirar fotografias a uma bebé que ora está a chorar, ora está a bolsar, odeio babetes mas elas foram presença constante na nossa vida durante os primeiros três meses, não é fácil se juntarmos a isto uma capacidade fantástica de movimento de uma recém-nascida, conseguir boas fotografias é uma tarefa impossível.

Era nossa intenção, independentemente das fotos contratadas, fazermos as nossas próprias fotos, como fizemos durante a gravidez, tínhamos tantos planos, mas depressa percebi o porquê da necessidade de contratar este serviço, o cansaço, a não rotina, o desgaste emocional deixam-nos com pouco ânimo para sessões fotográficas e com ou sem pressão social arrependo-me de não ter contratado esse serviço, mesmo sabendo o transtorno que isso nos teria causado.

Temos as nossas fotos, mas não são as fotos que desejava ter, primeiro gostava de ter muito mais e segundo gostava de ter feito fotos diferentes, de ter concretizado todas aquelas ideias que retirei o Pinterest, é uma culpa que me acompanhará para sempre, mas não há volta, o pior de tudo é que por mais que tenha consciência da importância de tirar muitas fotos continuo a não tirar fotos suficientes, não sei como as outras mães fazem, mas no pouco tempo que tenho para a minha filha na maioria das vezes nem me lembro de lhe tirar fotos, só a quero encher de beijos.

O Natal é uma época especial para mim e como se trata do primeiro com a minha filhota fora da barriga decidi que iria contratar uma sessão de Natal profissional e no que me fui meter, primeiro a oferta é imensa, mas todos os fotógrafos estão cheios de trabalho e a pressão para reservar é enorme, segundo os preços que praticam são uma loucura! Terceiro a escolha da roupa, sim porque não adianta escolher um bom fotógrafo, um cenário espetacular e depois levar a bebé de pijama.

Gostava de ser imune à pressão, mas não sou, devíamos deixar de ser tão exigentes e de valorizar tanto os detalhes, afinal o que interessa é guardar os bons momentos, mas este assunto das fotos não está resolvido na minha cabeça e atormentar-me-á por algum tempo.

A sociedade exige demasiado de nós ou somos nós próprios que exigimos?

A constante exteriorização da perfeição, da comparação tem elevado esta pressão para níveis insustentáveis, quando me falam em valores gastos em festas arrepio-me até à espinha e penso que exemplo estamos a dar aos nossos filhos, se fazemos as coisas por eles e para eles ou para nós e por nós?

Apercebe-mo que muito mais que dinheiro por vezes é preciso disponibilidade e fico a pensar que vida levam algumas mães que passam meses a preparar as festas dos filhos, usando todo o tempo livre que têm para o fazer?

Esta obsessão com o bonito, diferente, memorável aonde nos levará?

Há exaustão, se a própria vida que levamos nos deixa exaustos qual a necessidade de lhe acrescentarmos ainda mais pressão e desgaste?

Considero-me uma pessoa bem resolvida, mas neste tema tenho ainda muitas arestas a limar, embora tenha as prioridades bem definidas a minha mania da perfeição e do perfecionismo atrapalham na hora de simplificar, este conflito interior não será facilmente resolvido e a pressão (interior) para a festa de aniversário já começou.

Esperam-se tempos de introspeção, reflexão e gestão de conflitos interiores, não são só os filhos que crescem, nós crescemos (muito) com eles.

 

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