Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Língua Afiada

Pedrógão Grande e a exploração da tragédia

Em primeiro lugar quero expressar a minha solidariedade e o meu pesar a todas as pessoas que perderam familiares, amigos, vizinhos, casas, animais, vidas que nunca mais serão as mesmas, serão sempre pautadas pela dor atroz da impotência de não conseguirem fazer nada perante o cenário dantesco.

Vi as imagens da tragédia com os olhos carregados de lágrimas, emocionei-me com as imagens, com os relatos, com o abraço do Presidente ao Secretário de Estado, com as declarações, com a onda de solidariedade e compadeci-me com a dor que não é apenas de Pedrógão Grande, mas de Portugal inteiro.

 

Mas não consigo deixar de me sentir indignada com a exploração da tragédia e a forma crua como alguns jornalistas relatam os acontecimentos.

 

Na TVI a Judite de Sousa achou bem escolher um cenário onde era visível um corpo, um corpo. As imagens da floresta queimada e os carros destruídos não eram suficientemente chocantes, decidiram filmar num local onde jazia um cadáver, a falta de sensibilidade, respeito e empatia é perturbadora.

A jornalista da SIC ontem descrevia que iam transladar os corpos num camião frigorífico, que aguardavam pelo veículo, descreveu todo o processo com uma frieza desconcertante.

Um amigo comentou comigo que um outro jornalista resolveu perguntar à Ministra se iria demitir-se como Jorge Coelho se demitiu após a tragédia de Entre-os-Rios, a Ministra Constança Urbano de Sousa está há horas no centro da tragédia, está visivelmente transtornada e, políticas à parte, tem demonstrado uma grande sensibilidade.

 

Hoje, há um grande contraste entre as capas dos principais jornais, o Correio da Manhã escolheu uma foto com corpos e coloca na capa testemunhos e histórias das vítimas, o Jornal de Notícias coloca uma foto similar e remete também para as histórias das vítimas.

Já os jornais Público e I escolheram capas que na sua simplicidade traduzem toda a dor que o país sente.

Pela capa se denota o caracter da publicação e a forma como tratam a dor.

 

No meio de uma tragédia sem precedentes em Portugal, um terror que devastou uma região e compadeceu o país inteiro é perturbador assistir ao que o jornalismo em Portugal se transformou, uma feira de vaidades, onde quem conta a tragédia maior, quem mostra imagens mais chocantes ganha mais audiências. Vale tudo pela guerra das audiências.

Será que vale? Não. Todas as pessoas com quem falei ontem e hoje estão chocadas obviamente com a tragédia, mas também com a forma como a comunicação social tem explorado a dor e com a sua insensibilidade e falta de empatia.

Não nos podemos esquecer que as vítimas têm família e amigos que não merecem ver o desplante do sensacionalismo invés de jornalismo e informação.

 

 

45 comentários

Comentar post

Pág. 1/2