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Língua Afiada

Politiquices #5 – As licenciaturas inventadas

Era uma questão de tempo até encontrarem alguém no Governo de António Costa com uma licenciatura inventada, tenho em crer que se aprofundarem bem a questão às tantas até encontram mais do que uma.

“Em despacho assinado pelo primeiro-ministro, Rui Roque aparece como licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela FCTUC, mas, na verdade, nunca acabou o curso e faltam-lhe várias cadeiras.”

A notícia do Observador está a fazer as delícias das redes sociais, menos mal que os indignados e mal-educados do costume têm desta vez algo com que vale a pena indignarem-se.

 

O que mais me espanta nesta notícia?

O facto de o cargo não exigir qualquer licenciatura!

 

O que nos leva a uma questão bastante pertinente e triste da sociedade portuguesa:

Não basta ser competente, ter experiência, ter provas dadas, é preciso exibir um canudo para ser levado a sério, porque os títulos são de extrema importância, mesmo que tenham sido inventados, fabricados ou tirados em instituições ou situações duvidosas.

No caso da política, este senhor não só foi mentiroso, como demonstrou falta de ética, mas acima de tudo mostrou falta de inteligência ao achar que depois dos últimos escândalos com José Sócrates e Miguel Relvas iria passar impune ao escrutínio da imprensa.

Quanta ingenuidade, menos mal que se demitiu imediatamente, provavelmente na esperança que o caso caia no esquecimento rapidamente, quanto mais depressa for esquecido mais depressa pode encontrar uma posição de relevância, quanto mais depressa for passado, menos danos a sua imagem sofre.

 

Engana-se quem pensa que este flagelo só ataca a classe política, pois claro que não porque a moda de ser licenciado é geral e por isso a tentação de inventar licenciaturas também.

Pessoalmente tenho conhecimento de dois casos de licenciaturas forjadas para obter bons cargos, curiosamente dois supostos engenheiros contratados por duas empresas diferentes, ambos descobertos em pouco tempo, um porque achava que sendo engenheiro tinha uma posição privilegiada e podia passar os dias sem fazer absolutamente nada, o outro porque não só inventou a licenciatura como também inventou contactos, num país tão pequeno foi desmascarado rapidamente.

Se há quem invente licenciaturas para ter acesso a um cargo superior, achando que é fácil enganar a entidade patronal, há também casos em que o colaborador é verdadeiro e é contratado não pelo canudo, mas pela experiência, mas a entidade patronal faz questão de lhe dar um título que não tem, conheço uns quantos casos assim.

É vergonhoso, que as pessoas sejam avaliadas por títulos, as licenciaturas, mestrados e doutoramentos vieram substituir, os viscondes, os condes e os duques.

Se antigamente a linhagem de sangue dava direito a ter e a ser alguém sem que fosse tido em conta qualquer competência, vocação ou conhecimento, agora os graus superiores de escolaridade atestam magicamente a inteligência e a competência de alguém, parece que um curso é essencial para ser bem-sucedido, nem importa se o curso é útil ou se foi tirado numa instituição credível ou não, o que interessa é obter o título e de preferência emoldura-lo em sinal de orgulho desmedido.

Somos o país dos canudos, do Dr. sem doutoramento, dos Lic. quando não se quer afrontar os Doutores da mesma instituição, dos Mestres sem qualquer mestria, alguns são meramente uma conversão de licenciaturas de cinco anos em mestrado, e dos Doutorados que ou são Professores ou podem fazer as malas porque raramente há lugar para eles.

Alguns prezam tanto o título que fazem questão de se apresentarem com ele atrás do nome, como se o título fizesse alguém ser mais do que é, as pessoas estão tão focadas naquilo que os outros pensam delas, naquilo em que aparentam ser que se esquecem de ser quem realmente são.

 

Ninguém se apaixona por um título, ninguém admira um nome, apaixonamo-nos pela pessoa, pelo que ela faz e como o faz. Deixem de inventar licenciaturas, reinventem-se.

14 comentários

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    Psicogata 26.10.2016 11:22

    Obrigada Malik.
    Esta situação dos canucos é algo que sempre me irritou.

    Não tem nada a ver com o assunto mas gosto muito do teu nick :)
  • Anónimo 26.10.2016 11:26

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    Psicogata 26.10.2016 11:43

    Verdade, o problema maior é a mentalidade, os costumes, que raio de sociedade que ao invés de evoluir para melhor cada vez está pior.
  • Anónimo 26.10.2016 11:45

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    Psicogata 26.10.2016 11:48

    Andamos sempre uns bons anos atrás de tudo, particularmente na gestão, já diz o povo que o exemplo vem de cima, enquanto os exemplos forem maus continuará tudo igual até que se bata no fundo, aí talvez a coisa mude, mas não necessariamente para melhor, às vezes crises profundas são aso a regimes.
    Sinceramente receio que demoremos muitos anos a sair desta latência social.
  • Anónimo 26.10.2016 11:55

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    Psicogata 26.10.2016 12:01

    Não acho, os adolescentes de hoje em dia são uns atados, habituados a ter tudo de mão-beijada... Não prevejo grande futuro.
  • Anónimo 26.10.2016 12:03

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    Psicogata 26.10.2016 12:06

    Esperemos que sim, mas apesar de ser optimista neste caso não estou com muito confiante.
  • Anónimo 26.10.2016 12:09

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    Psicogata 26.10.2016 12:14

    Claro que sim, mas a menos que haja um acontecimento dramático e global não será no nosso tempo.
  • Anónimo 26.10.2016 12:17

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    Psicogata 26.10.2016 12:21

    Houve uma evolução tecnológica enorme que não foi acompanhada por uma evolução social adequada.
    Há quem defenda até que neste momento a tecnologia está muito mais desenvolvida do que se julga mas o binómio dos interesses económicos e as questões sociais não permite que seja divulgada.
    Todo o trabalho manual supostamente já poderia ser feito por robots, mas o que fariam as pessoas e como os capitalistas ganhariam dinheiro?
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