Portugal vestido de cinzento
O ar tornou-se irrespirável, no horizonte e norte a sul e de este a oeste o céu é cinzento e denso, mas não é prenúncio de chuva, é consequência da nuvem gigante de fumo que nos assombra.
Portugal ardeu e continua a arder como uma folha de papel que jogamos na lareira e vemos encolher e sucumbir às chamas, impotentes e devastadas as populações lutam com o que têm e não têm até ao último momento, algumas lutam até à morte, pois torna-se demasiado tarde para fugir.
E no meio da desgraça, do medo, do terror, temos de ouvir dos responsáveis palavras como estas:
“Têm de ser as próprias comunidades a ser proactivas e não ficarmos todos à espera que apareçam os nossos bombeiros e aviões para nos resolver os problemas. Temos de nos auto proteger, isso é fundamental”, disse Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna à SIC-Notícias.
O que as comunidades não podem com certeza esperar é algo dos governantes.
Guardem as palmadinhas nas costas, os discursos comoventes encenados, a lengalenga dos relatórios, das responsabilidades e dos inquéritos.
O que acontece em Portugal é negligência criminosa, é uma total desresponsabilização dos organismos que deveriam assegurar o bem-estar da floresta portuguesa, um património de todos nós e de valor inestimável.
Se um cidadão atento e informado sabe que a nossa floresta é um rastilho as autoridades e governantes há muito mais tempo que o sabem.
Por acaso a subida da temperatura média é alguma novidade?
Por acaso a má gestão da floresta é um tema recente?
Por acaso o negócio do combate aos incêndios surgiu agora?
Por acaso as medidas de coação e penas para incendiários só agora se mostraram insuficientes?
Mas alguém ousa culpar o clima por este desvario? Como?
Com que coragem? Com que desplante dizem que a culpa é das temperaturas?
Com que descaramento diz António Costa que isto voltará a acontecer?
Por acaso só sabe agora da situação crítica do país?
Acordou agora da sua ilusão da prosperidade e crescimento?
Farão os incêndios parte da estratégia para baixar o défice?
E que faremos nós perante tamanha tragédia ecológica e humana?
Vamos fazer concertos solidários? Doar dinheiro que ninguém sabe como é gerido?
Vamos consolar as famílias que ficaram sem nada?
O que deveríamos fazer é exigir responsabilidades, dos de hoje e dos de ontem, dos que durante anos e anos sucessivamente contribuíram para o estado de calamidade em que este país se encontra.
Deixemo-nos de compaixão, o que é importante agora é lutar pela justiça, parafraseando Jorge Gomes:
Têm de ser as próprias comunidades a ser proactivas e não ficarmos todos à espera que apareçam os polícias e os juízes para nos resolver os problemas. Temos de nos auto proteger isso é fundamental.
Dado o estado da democracia em Portugal talvez seja realmente melhor devolver o poder ao povo para resolver os assuntos pelas próprias mãos.
Este país necessita de uma purga, é urgente que se este desgoverno termine, basta de compadrios, corrupção, ilusões e assaltos aos nossos bolsos.
Ah esperem estamos a falar de Portugal o país que elege corruptos condenados como presidentes de câmara e recebe em coro um ex-primeiro-ministro acusado de mais de 30 crimes.
Triste por ver este meu país a arder, mas ainda mais triste por saber que toda esta dor é em vão, pois este sofrimento, esta impotência, este sentido de injustiça perdurará, pois se até o primeiro-ministro admite que voltará a acontecer, é porque não tem intenções de resolver o problema.
Há uma expressão que diz devia-lhe nascer um pessegueiro…, a todos os que compactuaram para este cenário dantesco devias-lhe nascer um eucalipto a arder...