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Língua Afiada

Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte V

E eis a continuação da saga da Ísis.

Se não leram ainda este conto não sabem o molho de brócolos que estão a perder, a Mula deu o mote e eu e a Fatia continuamos.

 

Podem ler os capítulos anteriores aqui:

Quem conta um conto #8 - À tua espera  - Parte I

Quem conta um conto #8 - À tua espera  - Parte II

Quem conta um conto #8 - À tua espera  - Parte III

Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte IV

 

As minhas desculpas aos fãs e às coautoras pela demora da parte V.

 

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André nem queria acreditar no que ouvia. Grávida? Como? Quando? Porquê?

Não podia conceber esta situação, não estava preparado para enfrentar mais um problema, não estava preparado para ser pai, não estava preparado para nada do que estava a acontecer na sua vida.

Apenas conseguiu dizer quase num murmúrio:

- Acalma-te Maria, vamos resolver isto. Onde estás? Temos de falar de pessoalmente.

Ísis não estava a perceber nada da conversa, mas pela expressão lívida de André adivinhava que não teria ouvido boas notícias. Olhava para André com uma expressão inquietante queria perceber a causa da sua angústia.

- André o que vamos fazer? Tu sabes que eu não posso ter este filho, não agora. Ainda mais sozinha? O meu pai, o meu pai não vai aceitar isto. Dizia Maria por entre soluços.

- Onde estás Maria, diz-me onde estás que vou ao teu encontro.

- Estou na clínica, mas eu não consigo fazer isto, não consigo…

- Estás onde? Ias abortar sem falar comigo? Em que clínica estás? Diz-me vou já buscar-te.

Ísis nem queria acreditar no que estava a ouvir.

- Ok, sei onde fica vou já para aí. Acalma-te. Disse André.

- Ísis…

- Vai André, ela precisa de ti, tomes a decisão que tomares tens o meu apoio.

- Obrigado meu amor, obrigado. Disse André abraçando-a. Deu-lhe um beijo demorado e saiu.

 

Assim que a porta se fechou Ísis deixou-se cair no chão e desatou num choro angustiante, encostou-se a uma parede da sala e chorou, abandonou-se ao choro até lhe secarem as lágrimas.

Quando despertou do pranto, não sabia quanto tempo teria passado, ergueu-se, tomou um banho, vestiu-se e ligou a André.

- Olá Ísis. Atende André.

- Olá amor, como estas?

- Mais calmo, ainda atordoado, mas mais calmo.

- Ainda bem… Disse Ísis sem saber muito bem o que dizer.

- Tirei a Maria da clínica e vim traze-la a casa, está a dormir. Estava exausta, já não dormia há 3 dias.

- Claro, não é uma situação fácil. Respondeu Ísis na esperança que ele lhe desse mais informações, mas sem querer perguntar-lhe se tinham tomado alguma decisão.

- Ísis… Será que podes vir ter comigo? Não quero deixar a Maria sozinha mas preciso de falar contigo.

- Sim, dá-me a morada por favor.

 

Ísis respirou profundamente antes de tocar à campainha, foi André que atendeu, abriu a porta da entrada e ela subiu até ao último andar.

À medida que o elevador subia ela estranhamente sentia-se cada vez mais distante dele, o elevador aproximava-se mas o coração dela sentia-se cada vez mais distante.

- Obrigada por terers vindo Ísis. Disse André.

Só aí Ísis percebeu que André não a estava a tratar por “amor” como era habitual e retraiu-se dentro do vestido preto e mordeu o lábio inferior.

- Não tens de agradecer, estou aqui para te apoiar. Respondeu a medo.

- Ísis… Não há uma forma fácil de dizer isto… Mas… não podemos continuar juntos. Eu… Eu… tenho de estar junto da Maria neste momento. Disse André com voz trémula e os olhos marejados de água.

- O destino não quer que fiquemos juntos, isto é o castigo, roubei a noiva do meu irmão, terminei com a minha namorada de sempre, coloquei a minha família em alvoroço. Não posso continuar com uma relação que só causa sofrimento.

- Não tem de ser Ísis, eu amo-te, mas não… não posso ficar contigo quando isso causa tanta dor.

- Vais mesmo ficar com uma mulher só porque ela está grávida de ti? Vais casar com ela? Estamos em 2015 e não em 1815? Podes assumir a paternidade e apoia-la sem teres uma relação com ela. Respondeu Ísis tentando controlar a raiva que sentia.

- Eu não fui educado assim, não sou um desses homens que não assumem as consequências.

- Mesmo que as consequências te impeçam de seres feliz? Perguntou Ísis.

- Ísis… Estou entre a espada e a parede, tive de escolher entre a vida do meu filho e a minha felicidade. Não consegui permitir que ela fizesse o aborto.

- Como? Ela só te deu essas duas hipóteses? Ela estava desesperada se falares com ela com mais calma, tentares chama-la à razão tenho a certeza que ela terá outra atitude.

- Não adianta, conheço a Maria desde sempre se eu não me casar com ela, ela não terá a criança, não há ninguém mais obstinado que ela.

- E eu André? Como é que eu fico? Pensaste ao menos em mim?

- Pensei, desculpa-me ter-te tirado dos braços do meu irmão para logo depois te abandonar.

- Perdoa-me, tenho a certeza que estarias melhor com ele…

- Eu amo-te como estaria melhor com ele? Como podes dizer-me uma coisa dessas?

- Perdoa-me… Arruinei a tua relação com ele, arruinei a minha família para nada. Nunca deveria ter-me deixado levar pelo coração.

- Tens a certeza que é isso que queres fazer André? Não queres dormir sobre o assunto, pensares melhor, tentares chegar a um entendimento com a Maria? Por favor, não podemos terminar assim… Disse Ísis já em desespero.

- Não Ísis, não há nada a fazer e mais nada a dizer a não ser que nunca te esquecerei, uma parte de mim amar-te-á para sempre, mas não posso ficar contigo. Perdoa-me.

- Eu amo-te André mas não sei se algum dia poderei perdoar-te…

- Adeus.

 

Ísis saiu. André ainda tentou dizer alguma coisa mas as palavras não lhe saíram.

Ísis despertou lentamente do sono, primeiro com o som da campainha depois com o bater de uma mão e depois duas na porta.

Ísis não se recordava da viagem do apartamento de Maria até sua casa, não se recordava há quanto tempo estava deitada na escuridão do quarto, desconfiava que se tinham passado dias, tinha apenas uma vaga ideia de ter ligado para a redação a dizer que necessitava de uns dias de férias por motivos pessoais, era freelancer não lhe colocaram nenhuma objeção.

Sabia que tinha falado com a sua amiga Sara mas não lhe tinha confidenciado nada, apenas lhe disse que não tinha disponibilidade para jantar com ela.

Procurou o telemóvel, estava sem bateria, acendeu a luz do candeeiro e viu que apesar da escuridão do quarto eram 2h da tarde.

Levantou-se cambaleante e dirigiu-se à porta de entrada à medida que se aproximava o ruído aumentava o que fazia com que despertasse lentamente e começa-se a lembrar-se da confusão que estava a sua vida.

Abriu a porta e surpreendida disse:

- Ricardo?! O que estás aqui… Não teve tempo de terminar a frase porque entretanto desmaiou.

(Continua)

 

Agora que o molho de brócolos passou a puré, passo o passe-vite à Mula.

Estou curiosa para ver o desenrolar, tenho a certeza que será completamente diferente do que aquilo que eu imaginei e por isso está experiência é tão divertida.

 

 

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