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Língua Afiada

Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte VIII

E a história atribulada de Ísis continua. Será agora que encontra a paz que tanto procura?

Podem ler os capítulos anteriores aqui:

Se perderam os últimos episódios podem lê-los aqui:

 

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Naquele final de tarde em Março chovia violentamente em Londres, Ísis pensava que não devia ter aceitado o convite para lanchar de Emily, grávida de 37 semanas não era nada confortável andar a saltitar de transporte em transporte com a pasta de projetos, a carteira, o guarda-chuva e a barriga que começava a dificultar-lhe os movimentos.

Foi nesse preciso momento que percebeu que tinha deixado a umbrela no metro.

- Bolas, já é a segunda umbrella que perco esta semana.

Pensou ficando com a música de Rihanna a martelar-lhe na cabeça.

Pediu ao taxista que a deixasse o mais próximo possível do passeio mas não lhe serviu de muito, assim que o táxi arrancou um outro passou que a salpicou de água e lama, valeram-lhe as galochas e o trench coat que impediram que ficasse encharcada mas não ofereceram grande obstáculo à lama.

 

Entrou na pastelaria francesa com o ar mais descabelado e alheado possível, sentiu-se observada e com razão, efetivamente estava num estado lastimável e no meio de tanta gente elegante ela sobressaía pelos piores motivos.

Avistou a amiga na mesa ao fundo e apressou-se a chegar junto dela. Enquanto passava por uma mesa ouviu a seguinte conversa.

- Coitada deve ter sido molhada por um carro. Disse um homem.

- Ahahaha, mesmo que não tivesse sido já viste como tem aquele cabelo e de galochas, uma lady nunca anda de galochas na cidade, e cheia de tralhas, já não existem mulheres elegantes como as de antigamente. Retorquiu o outro.

- Mas pensas que estás em Portugal? Aqui no Inverno não existem grandes soluções, tomara eu que fosse moda os homens andarem de galochas.

- Eu sei, e sabes eu até gosto de galochas, mas gosto de mulheres elegantes. Disse rindo.

Ísis ainda pensou em responder mas não esteve para se chatear. Limitou-se a pensar

- Estes portugueses esquecem-se sempre que existe sempre outro português que percebe o que eles dizem.

 

- Minha querida o que te aconteceu? Perguntou Emily vendo-a naquele estado.

- Eu disse-te que hoje não me dava jeito vir aqui. Olha para mim cheia de tralhas, com roupa casual, cabelo em desalinho, tinhas de me convidar para vir logo aqui à confeitaria mais elegante do bairro?

- Foi um táxi que ao passar me deixou neste estado, não é que antes estivesse muito melhor.

- Mas conta-me lá o que era tão urgente para me fazeres atravessar a cidade.

- Estou apaixonada! Quase que grita Emily.

- Conseguiste apaixonar-te em 2 dias? Tens a certeza? Disse Ísis já habituada aos delírios da amiga.

- Sim, e sabes porque tinha muito de falar contigo? Apaixonei-me por um português imagina.

- Um português? Mas tu não gostas de homens portugueses?

- Mas gosto deste! É diferente, juro-te que é diferente. E preciso que me digas o que é que os homens portugueses gostam.

- Emily, se eu soubesse o que os homens portugueses gostam eu não estaria grávida e sozinha. Disse sorrindo.

- Mas tens de me dar mais informações. E tens de ir comigo hoje, tens de ir comigo a uma festa no apartamento do amigo dele. És a única portuguesa que conheço, tens de ir comigo.

- Já viste bem o meu estado? Estou cansada, fizeste-me atravessar a cidade e agora queres que vá contigo a uma festa? Estás doida? Não posso, tenho demasiadas coisas em que pensar e a tratar.

- Vá lá, eu fiz-te vir aqui porque sabia que pessoalmente não me conseguirias dizer que não. Vá lá por favor… Pedinchou.

- Eu vou… Mas vou em modo Cinderela, à meia-noite estou em casa.

- Pode ser, só não quero chegar lá sozinha.

- Tu queres é chegar lá com alguém que te faça parecer uma sereia, essa é a verdade.

 

Ísis era muito mais bonita que Emily mas grávida no final do tempo não era propriamente um bom partido, embora fosse necessário olhar duas vezes para perceber a sua gravidez.

Sem grande vontade lá se arranjou, vestiu um vestido que lhe disfarçava tanto a barriga que quase nem parecia grávida, atreveu-se a usar saltos e maquilhou-se cuidadosamente, o seu lindo cabelo tratou de dar o toque final.

Chegaram ao apartamento indicado, tocaram à porta de entrada e nem tiveram tempo de dizer nada, abriram a porta imediatamente, subiram para o andar indicado. Assim que a porta do elevador se abriu ouviram o barulho vindo do lado esquerdo era lá a festa e a porta estava apenas semifechada.

Entraram e foi difícil dizer o que as surpreendeu mais se a dimensão e a decoração do apartamento, o número de pessoas espalhadas pela sala ou a quantidade de comida e bebidas espalhadas por toda a parte.

Uma miúda veio ter com elas, deu-lhes as boas vindas, recebeu os seus casacos e disse que independentemente de quem as tinha convidado que se sentissem em casa.

- Como vou sentir-me em casa num local onde só conheço uma convidada que só conhece uma outra pessoa? Pensou Ísis.

 

Emily procurava incessantemente o apaixonado mas não o encontrava em lugar nenhum. Finalmente avistou-o agarrou na mão de Ísis e caminhou apressadamente para ele.

- Boa noite! Disse Emily entusiasmada.

Ele reconhecendo-lhe a voz vira-se e exclama: - Emily minha querida! Finalmente chegaste.

Ísis estava estupefacta, a amiga estava mesmo a falar a sério quando disse que este era diferente, ele era diferente em todos os aspetos, extramente elegante, cordial e eles pareciam realmente enamorados. Tomás era realmente um bom exemplo de um homem português.

Emily apresentou-os mas facilmente os dois se esqueceram dela. Ísis olhou à volta na esperança de reconhecer alguém, sendo Tomás e o dono do apartamento portugueses havia uma possibilidade remota de reconhecer alguém mas não reconheceu ninguém. Avistou um lugar vazio num dos sofás e sentou-se, retirou o telemóvel e começou a organizar a semana seguinte, afinal eram esses os seus planos para essa sexta à noite.

Entretanto ouviu uma voz familiar, era de um homem que estava de costas, prestou atenção à conversa e ficou incrédula quando percebeu que estava a referir-se a ela, estava a contar a história de uma pobre rapariga que tinha tido a excelente ideia de ter entrado na pastelaria Burle num estado lastimoso.

Ísis nem queria acreditar, levantou-se tocou no ombro do desconhecido e disse-lhe:

- Lastimável é gozar com uma mulher grávida de 37 semanas, que quase foi atropelada por um taxista descuidado, carregada com coisas do seu importante trabalho, com roupa apropriada ao tempo de Londres que deixou as peneiras em casa para ir ao encontro de uma amiga necessitada.

Tinha empolado um bocadinho a história mas nem acreditava que tinha tido coragem de falar assim com um desconhecido. As hormonas tinham destas coisas.

- Seja bem-vinda há minha humilde casa, defensora das mulheres. Chamo-me Tiago. Tenho o prazer de estar falar com a menina?

- Ísis.

- Parece muito informada sobre a senhora das galochas amarelas.

- Não fosse eu que as tivesse calçadas.

Tiago ruborizou, desfez-se em mil perdões, não podia acreditar que a linda mulher que tinha diante dele era a mesma que viu a entrar na pastelaria.

Ela desculpou-o mas Tiago só se conformou depois de ela lhe prometer que tomava um brunch com ele e um restrito grupo de amigos portugueses na mesma pastelaria no dia seguinte.

 

A conversa decorreu animada, mas Ísis sentia-se cansada e vendo que se aproximava a meia-noite disse a Emily que se ia embora. Despediu-se de alguns convidados com os quais tinha estado à conversa e saiu.

Ao entrar no elevador, reconheceu um cheiro familiar, era um perfume masculino, inalou profundamente e recordou Ricardo, era o seu perfume, não conseguiu deixar de esboçar um sorriso lembrando-se dos momentos mais quentes que tinham passado. Nesse momento sentiu um pontapé forte da pequeno Dinis a recordar-lhe que estava na hora de descansar.

 

Após a saída de Ísis Tiago apressou-se a fazer mil e uma perguntas a Emily sobre a amiga, nem o facto de Ísis estar grávida de 37 semanas lhe tinha quebrado o fascínio, quando descobriu que era uma mãe independente ficou orgulhoso e esperançoso.

 

No dia seguinte deixou-se dormir até tarde, escolheu uma roupa clássica que não englobasse galochas e sorriu quando viu a sua imagem refletida no espelho e constatou que apesar de grávida continuava com boa figura.

A sua entrada na pastelaria em nada se assemelhou à do dia anterior, muitos olhos se viraram na sua direção mas porque estava encantadora. Avistou Tiago que lhe fez sinal, contornou a mesa para o cumprimentar com dois beijos.

Vira-se sorridente e bate com os olhos em Ricardo.

- Ísis? Ando há meses a tentar encontrar-te quem diria que te iria encontrar aqui. Exclama Ricardo feliz.

- Ricardo o que estás aqui a…

Fica branca, sente-se a desfalecer.

- Ísis não me faças isso novamente.

Tiago agarrou-a a tempo de não cair no chão.

Perdeu os sentidos que só voltou a recuperar no hospital. Abriu os olhos e viu Ricardo.

- Ísis porque não me disseste que estavas grávida? Estás de 37 semanas… Não consigo precisar datas… Diz-me por favor eu irei ser tio ou irei ser pai? Diz-me por favor!

 

Mula, o destino da Ísis é todo teu.

 

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