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Língua Afiada

Rui Pinto, a Justiça Portuguesa e os Portugueses

Rui Pinto é pessoa não grata, porque obteve provas de forma ilícita, essas provas não podem ser usadas em Portugal e os grandes criminosos passeiam-se nas ruas de nariz empinado enquanto Rui Pinto se encontra preso porque meteu o nariz onde não era chamado.

Há pouca justiça para estes justiceiros, que ignorando tudo e todos, têm a coragem de desafiar as pessoas mais poderosas do mundo, a maioria acaba preso ou exilado, em Portugal, país onde a denúncia é vista como pecado, não poderia ser de outra forma.

Os portugueses parece que ainda vivem no tempo da outra Senhora, do Regime, da Ditadura debaixo das barbas de Salazar, ainda acham que denunciar é feio e perigoso e que colaborar com as autoridades é sinal de fraqueza, só isso explica porque se dá sinais de luzes depois de passar por uma operação stop, se dias mais tarde forem assaltados pelos assaltantes que avisaram não é coincidência, é poesia.

Vê-se logo que não conhecem a história do Homem Aranha, que deixou passar o assaltante, com a agravante que depois não poderão vestir um fato de licra e salvarem o mundo para se redimirem.

É avisar possíveis meliantes, infratores, criminosos e a roubar o Estado, os pobres iluminados não percebem que só estão a roubar-se a eles próprios e a roubarem a possibilidade de terem uma velhice condiga, as palas destas pessoas não lhes permitem ver mais longe que o final de cada mês.

 

A polícia francesa fez uma cópia de segurança da informação de Rui Pinto, isto demonstra claramente o que pensam da justiça portuguesa e pensam muito bem porque é bem provável que a informação confiscada desapareça e depois de 32 inquéritos e comissões parlamentares para alimentar tachos e encher chouriços não se descubra quem carregou no delete, às tantas foi a senhora da limpeza a espanar o teclado.

Rui Pinto não deveria chefiar as investigações, não sou tão radical, mas devia estar sob proteção e a trabalhar em colaboração com polícia judiciária para prender os verdadeiros criminosos.

A desculpa dos atos ilícitos, da devassa da privacidade, da invasão do espaço privado, pode ter algum sentido, mas fica relegada para segundo plano quando em causa estão crimes bem mais graves, um verdadeiro exemplo dos fins justificam os meios e a Rui Pinto deveria ser atribuído o estatuto de denunciante como foi atribuído a Antoine Deltour pelo Supremo Tribunal do Luxemburgo.

 

É importante distinguir quando nos invadem o correio eletrónico para nos prejudicarem sem motivo de uma evasão para provar um crime, quem não deve, não teme e é curioso que se permita a monitorização de todos os nossos dados por grandes empresas que recolhem milhões de dados por minuto, mas fiquemos todos ofendidos porque alguém leu os nossos e-mails.

Não se preocupem que os hackers não estão interessados nos detalhes mórbidos e sórdidos, pelo menos estes que denunciam crimes, estão interessados em estratagemas, conspirações, crimes e teias ao mais alto nível, porque para denunciar é para denunciar em grande, para garantir um lugar na história, não fazem isso por altruísmo, mas independentemente de ser por vaidade ou por desdém, o que importa é que o continuem a fazer.

 

No combate à corrupção é importante legislar sobre a denúncia, permitindo o que no Brasil chamam a delação premiada, já que a figura que existe em Portugal, colocação premiada, pela sua configuração não é produtiva e eficaz, a capacidade de o Ministério Público negociar com um ou vários intervenientes para obter provas contra outros, especialmente dos cabecilhas, é uma importante ferramenta no combate à corrupção e permitiria quebrar os pactos de silêncio que os arguidos mantêm, silêncio esse que impede que as investigações avancem.

Na cabeça de muitos portugueses, culpa dos filmes e séries, isto é possível em Portugal, mas só é possível estabelecer acordos por denúncia se o criminoso denunciar livremente o crime até 30 dias depois de o cometer, é claro que isso não acontece, a menos que a polícia judiciária ande a rondar e este se aperceba.

 

Não sejamos crédulos, nem condescendentes, a justiça, assim como os políticos são o espelho da sociedade que temos, num país onde governantes condenados por corrupção são reeleitos, onde denunciar é malvisto, esperavam o quê?  

Políticos e autoridades em geral antes de serem quem são, são portugueses como nós, têm os mesmos valores, a mesma história, o mesmo entendimento e perceção da sociedade, quando algum escolhe ser e fazer diferente é-lhe imediatamente barrado o acesso, a ascensão, é assim em todo lado em Portugal porque haveria de ser diferente na política e na justiça?

 

Já cantava Zeca Afonso “o povo é quem mais ordena”, mas se o povo não estiver interessado em dar ordens, em exigir mudanças, o disco continuará arranhado e esta canção símbolo de uma revolução, não passará disso, de um símbolo e não de uma realidade.

 

2 comentários

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    Psicogata 30.01.2020 11:43

    Somos mesmo um país estranho.
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