Saudades do diário de papel
Abro a folha em branco, observo as letras do teclado, troquei o papel pelo ecrã, a caneta pelas teclas, já não tenho espaço para desenhar enquanto aguardo que as ideias fluam.
Não sinto a inspiração do cheiro das folhas, não sujo os dedos com tinta permanente, não rasuro as palavras, não faço riscos, não cubro de borrões o que não quero ver lido.
Perdi as inúmeras correções que fiz ao texto, esqueci-me da palavra que escrevi e apaguei, falta-me o desenho da nuvem a acompanhar o pensamento nublado e a lágrima que desenhava sempre que estava triste.
Faltam-me os olhos, os olhos que esboço após esboço mais se assemelhavam aos olhos do coração e os lábios que lhe davam voz.
As palavras brotam uma após outra dando forma aos pensamentos, mas estão sozinhas, falta-lhes a companhia dos esquiços, dos devaneios, dos contornos indefinidos da minha alma que desenhava continuamente nas folhas dos meus adorados diários.
Saudades do tempo dos meus diários de papel, dos dias em que os minutos pareciam infinitos dentro dos breves instantes dos meus pensamentos que duravam horas.