Se alguém pergunta está tudo bem?
A resposta é quase sempre uma de três opções:
1 - Está tudo bem, obrigada. Está tudo! Tudo a rolar!
2 - Vai-se andando, nunca pior! Tem de estar. Faz-se por isso.
3 – Já tive melhores dias! Um dia de cada vez.
Raramente alguém diz:
- Está tudo mal! Não estou nada bem! E como se diz aqui no Porto – Está tudo como o cara**o!
Perguntamos se esta tudo bem e espera-se que a pessoa diga que sim, no limite que diga que não está tudo bem mas que ficará, somos um povo pessimista que não quer ouvir que os outros estão mal, talvez com medo de contágio, talvez com receio de ao ouvirmos os outros lamentarem-se comecemos nós também a lamentar-nos.
Está tudo bem?
Está tudo bem, obrigado.
É a resposta automática mesmo que a nossa vida esteja caótica.
As únicas exceções são as doenças, mas as não muito graves, as passageiras, dessas queixamo-nos abertamente, já de doenças graves não se fala, mais uma vez talvez seja medo de contágio, não se vá falar de maleitas e descobrir que temos uma doença séria, da mesma forma que não vamos ao médico com medo de descobrir que estamos doentes.
Somos um povo queixinhas, mas livre-nos Deus Nosso Senhor de sermos queixosos, lamechas ou fracos, passámos a vida a reclamar de tudo, às vezes nem sabemos explicar porquê, mas temos uma séria dificuldade em queixarmo-nos das coisas sérias.
Esta incapacidade de desabafarmos dos queixumes que nos inquietam a alma e que sintomatizamos em stress e ansiedade corroí-nos o espírito e o corpo, deixa-nos tristonhos e cabisbaixos, mesmo quando teimamos em dizer que está tudo bem.
Parece que alguém nos formatou para aceitarmos e suportarmos todas as contrariedades e maldades da vida, como se tivéssemos vindo a este mundo não para viver, mas para sofrer, penar, talvez seja ainda o pensamento católico enraizado na nossa cultura, de tantas vezes que ouvimos falar em carregar a nossa cruz acabámos por acreditar que realmente devemos carregar os problemas às costas sem cair, tropeçar, estoicamente até ao fim, até Jesus caiu a caminho do calvário, dessa parte ninguém fala, não somos imensos e impenetráveis, somos pessoas que têm direito a estar tristes e a falar sobre essa tristeza.
Se abríssemos mais o coração e a alma talvez não necessitássemos tanto de terapia para desenrolar anos e anos de pontas soltas ensarilhadas num imenso novelo que nos atravanca a garganta.
Se alguém pergunta está tudo bem?
Respondam o que vos vai na alma, pode ser que tenham uma resposta surpreendente.