Sobre o emprego
Há coisas que me tiram do sério, mas tanto que tenho ganas de distribuir bofetadas a quem as profere.*
Uma delas é dizerem que-
Não se podem queixar porque a empresa paga a tempo e horas!?
A sério? Não é suposto isso acontecer?
Ou agora o normal é as empresas atrasarem o pagamento de ordenados?
Desde quando é que pagar atempadamente aos funcionários é uma qualidade?
Os empregados não trabalham o mês todo para receberem o seu ordenado?
Outra é dizerem que:
Não se podem queixar porque têm emprego.
A sério? Têm emprego ou têm trabalho? Ou será escravidão?
Este país está assim não é porque a entidade patronal manda, é porque o povo que deveria ser quem mais ordena, se limita a seguir ordens, baixa as orelhas e dá-se por satisfeito com o que tem.
E quando reclama, reclamam de quê?
Das regalias dos funcionários públicos, em vez de lutarem pelas mesmas regalias.
Indagam e escrutinam quem conseguiu melhor, inventam desculpas e refugiam-se nos lugares comuns.
Estão assim porque querem, admitam isso.
Eu admito, admito que me acomodei, que deixei passar demasiado tempo, que não me impus quando tive a oportunidade e agora estou a pagar caro o custo dessa oportunidade.
Se desisti? Não, não deve haver uma semana em que não reclame e que não faça ver a quem de direito as injustiças que por aqui se cometem. Se ajuda?
Ajuda a dormir com a consciência tranquila.
Se baixei os braços?
Não, estou a construir um caminho alternativo, um plano B que um dia, tenha eu forças, será o plano A.
Não me escuso em desculpas vãs, na crise, nas dificuldades, há sempre algo a fazer, sempre, é bom que se tenha consciência disso, pena que não tenham.
A alternativa pode ser um caminho doloroso, mas existem sempre alternativas.
Soubessem o que me custa engolir algumas coisas, custa-me ainda mais comentar algumas delas com a minha mãe, que sempre me educou para defender os meus direitos.
Abana a cabeça e diz: “Lutamos tanto contra a escravidão no trabalho e agora voltou tudo ao mesmo.”
Uma vergonha o que a minha geração está a fazer a este país… a trabalhar de graça, a trocar conhecimentos e competências por uns trocos, tudo porque há sempre alguém que o faça e porque no fim do mês as contas invariavelmente caem.
Se calhar devíamos seguir todos o conselho de Passos Coelho, imigrar e deixar este país para os governantes governarem ar e vento e os padrões a mandarem neles mesmos.
Ou então recusar-nos a trabalhar, se as empresas não podem dar boas condições de trabalho é porque algo está mal:
- Incompetência da gestão – fechem e deem lugar a outros
- Enriquecimento – deixem de ser gananciosos e distribuam os rendimentos
Este país está tão mal, tão doente, tão podre, que isto só se resolve com uma revolução.
*quem me conhece sabe que sou contra a violência, mas há situações em que eu própria não me controlo.