Sonhar acordada
Segunda-feira, provavelmente o dia mais odiado da semana, o dia em que abandonamos o livre arbítrio para nos regermos por horários pré-determinados e funções pré-estabelecidas.
Não há nada melhor do que ter tempo para não fazer nada, tão bom, mesmo que por vezes seja um desperdício, é tão bom, faz bem, recomenda-se, precisamos de folgas, de desligar, de verdadeiramente não termos que pensar em nada, apenas no que nos apetecer.
Para quem, como eu, nasceu a reclamar das rotinas, nunca gostei que me mandassem fazer alguma coisa, com pouco mais de um ano decidi que não queria dormir de dia e não havia forma de me adormecerem, ter um emprego com um horário rígido é basicamente uma prisão.
Sorte a minha que é uma prisão com amplas janelas e varandas só finitas pela minha imaginação, não se pode conter o espírito e esse leva-me a locais longínquos, locais nunca alcançáveis pelas minhas pernas, nunca palpáveis pelas minhas mãos.
E é assim que num dia em que os meus neurónios parecem estar de folga para executar as tarefas mais básicas, salva-me o modus operandis automático, a minha imaginação sobrepõe-se à razão, às obrigações e assume o controlo, dou por mim a viajar à velocidade da luz aos locais mais belos e inusitados, a deambular por ruas desconhecidas com edifícios incríveis, a cruzar oceanos e a ancorar em paradisíacas praias desertas.
Ouço um ruído, desperto do meu sonho acordado, há tarefas a executar, questões a resolver, assuntos a tratar, atendo o telefone e penso em silêncio, enquanto profiro outras palavras:
- Tão bom sonhar acordada!