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Língua Afiada

Sorrir com os dentes cerrados

Ontem tive um dia de loucos, daqueles dias em que qual conjugação cósmica de buracos negros todas as situações parvas, ridículas e inacreditáveis se sucedem umas a seguir às outras de rajada.

Depois do egoísta, do ignorante e do esperto, todos ainda na parte da manhã, as situações continuaram pelo resto do dia e a minha paciência foi diminuindo e diminuindo.

Já aqui escrevi que sou naturalmente simpática, tenho um sorriso fácil, mas também tenho limites e há dias em que não me apetece ser simpática porque não estou de bom humor.

Ontem ao final da tarde tive, relutantemente, de atender umas pessoas sem marcação, não sei quem é que nos dias de hoje ainda pensa que as empresas estão preparadas para atender sem marcação, como se estivéssemos desocupados à espera que nos batessem à porta.

Não me recordo de sorrir, acho que os recebi de má cara, sempre que falavam era como se me estivessem a martelar o cérebro, eram simpáticos mas estavam literalmente a nadar no assunto e quando recebiam uma explicação afogavam-se.

Não tenho paciência para pessoas estupidificadas, daquelas que parecem cromos de uma série televisiva, caricaturas exageradas de uma generalização, as duas pessoas de ontem eram a caricatura, a série e o exemplo exagerado de dois portugueses de classe média, simpáticos, bimbos, estupefactos e pouco inteligentes.

Fiz um esforço para os atender, sentia os músculos tensos, as pausas conscientes para medir as palavras, o cerrar dos dentes, os suspiros de enfado contidos, o travar da urgência de os despachar, mas devo ter sorrido porque no fim da reunião disseram sorridentes:

- Obrigada pela sua simpatia e pelo seu tempo.

Não, não foi cinismo saíram realmente sorridentes, agradecidos e bem-dispostos.

O que me leva a crer que sorrio muito mesmo de dentes cerrados.

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