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Língua Afiada

Sou uma princesa e também sou feminista

Em criança gostava de princesas, não por causa de príncipes, seria eu capaz de dar um beijo a um sapo? Gostava de princesas porque gostava das suas roupas, gostava dos castelos, das paisagens, assim como gostava do seu espírito ora aventureiro, ora protetor, gostava das histórias e gostava principalmente dos finais dessas histórias onde tudo sempre terminava bem e das lições morais que elas nos transmitiam.

Com as princesas aprendemos a ser corajosas, destemidas e aventureiras, aprendemos que fazer o bem compensa e aprendemos duas importantes lições sobre beleza, que esta pode ser uma maldição e que nem sempre a beleza exterior é a mais importante.

 

Gostava de princesas em criança e gosto de princesas agora e é por isso que chamo às meninas da minha vida princesas e trato as mulheres da minha vida como rainhas, simplesmente porque são as mais importantes da minha vida, como o são as princesas e as rainhas nos contos de fadas.

Chamar princesa a uma menina não significa que a queremos vestir de cor-de-rosa da cabeça aos pés e colocar-lhe uma tiara na cabeça, embora continue essa a ser uma das fantasias favoritas das meninas, chamar princesa a uma menina é dizer-lhe que é importante para nós, que é especial, que tem uma centelha que brilha sempre que abre aquele sorriso que nos desfaz as defesas e aquece o coração.

 

Há um longo caminho a percorrer na igualdade de género, existem muitos estereotípicos a combater, mas a igualdade de género não significa acabar com o género. Não podemos combater estereótipos criando tabus, não há mal nenhum em uma menina ser princesa e um menino ser super herói, o problema reside em recriminarmos as crianças que não optam por esse caminho e isso não resolve com a anulação de princesas e príncipes.

Não é justo tirarmos os sonhos e preferências de uns para que sejam aceites outros, não podemos recriminar quem trata as filhas por princesas só porque nem todas as meninas querem ser princesas.

 

O caminho passa pela educação para a aceitação da diferença e da diversidade em tudo, esta aceitação não diz apenas respeito à igualdade de género, devemos considerar como iguais todas as pessoas independentemente do sexo, cor, etnia, credo, afinal somos todos seres humanos e todos temos os mesmos direitos e deveres.

É preciso ter algum cuidado com o que criticamos e reclamamos, sou feminista, nasci numa família de feministas já aqui o escrevi, mas na luta pela igualdade de direitos e oportunidades não podemos, não devemos atacar tudo só porque não cumpre todos os preceitos, só porque não é totalmente politicamente correto, afinal é muito difícil definir o que é correto.

Acusam a campanha antitabágica de sexista e machista porque reduz a mulher ao papel de mãe e veste a filha de princesa e termina com a frase – “ Uma princesa não fuma.”

 

Segundo as criticas a campanha culpa a mulher por fumar, reclamar disto não deixa de ser irónico, todos os fumadores estão cansados de saber dos malefícios do tabaco, na própria embalagem eles estão expostos, de tal forma que até lá colocam bebés com problemas precisamente para que os pais, homens ou mulheres sintam peso na consciência.

Que reclamem do estereótipo embora não concorde, entendo o ponto de vista, que reclamem da culpabilização da mulher, não entendo, porque é precisamente esse o objetivo da campanha, mostrar que o tabaco mata e que nos pode privar das coisas que mais amamos.

 

A escolha do tema embora possa cair no estereótipo ou no óbvio é a mais crua e direta via para atacar o problema, foca-se num dos maiores receios de grande parte das mulheres, não ver crescer os filhos, chocar e despertar consciências é sempre o objetivo deste tipo de campanhas e claramente esse foi atingido.

Se eliminarmos a princesa e colocarmos “uma pessoa responsável” ou “uma pessoa inteligente” ou “uma pessoa bem-educada” não fuma, a campanha já não seria sexista e já seria aceite?

 

Não sejamos ingénuos os fumadores são discriminados pelo SNS, pagam impostos absurdos quando compram tabaco, estão cansados de saber que estão conscientemente a prejudicar a sua saúde, irão agora ficar muito ofendidos porque há uma campanha que os culpa por essa escolha quando toda a sociedade já o faz?

Coerência, há um mínimo de coerência que temos de ter, se na campanha em vez de uma mãe fumadora existisse um pai fumador? Nem sequer haveria discussão.

 

Este caso fez-me lembrar este vídeo da Porta dos Fundos, esta sátira é sobre alimentação, mas aplica-se praticamente a tudo, na ânsia de combatermos o que tem visibilidade esquecemo-nos de combater o mais importante, as raízes do problema.

 

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