Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Inveja

Este sentimento pelo qual sinto o maior desprezo tem sido um tema incontornável da minha vida e consequentemente do blog, embora tenha aprendido a gerir mais friamente a situação de ser alvo de inveja, continuo a ter dificuldades em entender os motivos das pessoas invejosas, compreendo que se possa sentir uma pontada de inveja perante uma situação, algo involuntário, mas para quê perpetuar esse sentimento?

 

É mais fácil aceitar a inveja que vem de pessoas com vidas complicadas, seja por questões de doença, monetárias, sociais, pessoas que não conseguiram alcançar nenhum objetivo que tinham pensado para a sua vida e como tal sentem-se mal e invejam o sucesso dos outros, não é desculpa mas é de mais fácil compreensão.

Muito mais difícil de compreender é a inveja que vem de pessoas bem-sucedidas em diversas áreas da vida, é esse tipo de inveja que me levou a escrever sobre o tema novamente, não consigo entender essa necessidade de invejar, de se sentir mal com a felicidade dos outros, quando a vida tem sido generosa com elas.

 

Infelizmente eu e o Moralez despertamos inveja, já tentámos perceber porquê e a única coisa que conseguimos encontrar é nossa relação enquanto casal, revisitamos toda a nossa vida, avaliamos, medimos, fizemos suposições, refletimos e não há nada, absolutamente nada que nos faça excecionais ou sequer diferentes, não somos lindos, não somos ricos, não temos empregos de sonho, não temos carros luxuosos, não usamos roupas de marca, vivemos uma vida simples de acordo com as nossas possibilidades.

Mas somos um casal unido, com todas as dificuldades, discussões, pontos de vista diferentes, personalidade fortes que muitas vezes chocam, somos unidos quando na verdade teríamos tudo para não ser, já que nenhum dos dois tem um feitio fácil, se calhar é essa nossa capacidade de fazer da diferença, da individualidade, da personalidade distinta uma união forte e respeitadora da entidade de cada um que nos faz diferentes.

 

Não estamos sempre de acordo, não temos problemas em discordar, mas estamos sempre juntos, há sempre um consenso e as opiniões diferentes estão devidamente arrumadas em lugares que não prejudicam as metas e os sonhos e jamais um tenta anular o outro ou menospreza a sua opinião.

Há sempre arestas a limar, mas no essencial e importante somos iguais, defendemos os mesmos valores e os mesmos ideais, tudo o resto é acessório e pode ser discutido caso a caso, não há imposições, temos as nossas ideias bem definidas e nenhum dos dois é manipulado ou guiado pelo outro.

Será esta capacidade de fazer conviver pacificamente e em harmonia duas personalidades tão díspares e tão carregadas que desperta inveja?

 

A nossa relação não é perfeita, mas mentiria se dissesse que somos um casal que passa despercebido, somos muito espontâneos, alegres, cúmplices e passámos realmente a vida juntos, somos inseparáveis, normalmente onde está um o outro não anda longe.

O nosso segredo é mesmo esse encontrar coisas que adoramos fazer juntos, será que é isso que incomoda tanto as pessoas?

Custou a crer que fosse uma coisa tão simples, que pode ser trabalhada e acessível a todos, mas tive a certeza que era isso no momento em que percebi que existem mais casais com este problema, que por aparentarem ser felizes e unidos são alvos fáceis de inveja.

Raramente nos queixámos, raramente nos apanham com má cara ou tristes, tentámos estar sempre de bem com a vida mesmo quando ela nos dá patadas brutais sem aviso, ser alegre e bem-disposto incomoda realmente as pessoas, uma pena que não tentem também elas estar de bem com a vida em vez de invejar a vida dos outros, porque a grande diferença não está no que temos, mas em como reagimos e encaramos o que a vida nos dá.

O sentido deste blog é a ironia da minha vida

Planos, ultimamente é uma palavra que me anda sempre na mente, seja porque percebi que não vale de muito faze-los, seja porque percebi que não se vive sem eles.

Parece um contrassenso?

Parece mas não é.

Porque se não vale a pena fazer planos a longo prazo, faz todo sentido traçar um objetivo, sem um objetivo não evoluímos, temos de nos projetar no futuro, vermo-nos num lugar e lutar para lá chegarmos.

O que não faz muito sentido é delinear o trajeto, podemos definir etapas, opções, mas se nos cingirmos a um plano específico quando não conseguirmos ultrapassar uma etapa, estagnamos.

(Que simplificando o que se está a passar comigo agora, que aflição.)

 

Paralelamente ao grande plano da vida, devemos ter pequenos planos, listas para nos ajudarem a simplificar as tarefas e para que nossa vida seja mais organizada.

Já tentei viver ao sabor do vento, sem um grande objetivo, mas não é para mim, resultou durante algum tempo, mas só se traduziu em frustração, na certeza que foi um grande desperdício de tempo.

Sempre tive a ideia que não nasci para viver uma vida simples, a certo ponto não sei explicar as razões, mas mudei de ideias, a minha ideia inicial de vida simples estava errada, pois o oposto não é viver uma vida complicada, mas sim uma vida diferente.

Vida diferente, uma coisa tão subjetiva, o que seria isso? Nunca soube definir, ainda não sei, o que sei é que não quero atravessar a vida apenas vivendo, sem lhe dar significado.

As nossas ilusões são a nossa prisão, a quimera que sonhamos é a armadilha na qual ficamos presos, e a vida fez questão de me mostrar que o que menosprezava por ser banal, normal, afinal não era assim tão simples, não era para todos, não era um dado adquiro.

Desprezei durante anos as coisas simples da vida, desdenhei das vidas aparentemente vazias de sentido, para ficar presa a uma das coisas que desconsiderei.

Ironia, pura ironia.

 

Sempre disse que principiei este blog porque tinha saudades de escrever e porque me ajudava a organizar as ideias, este não foi o primeiro, fiz várias tentativas antes que abandonei, comecei este blog com o propósito de ser uma sátira, mas rapidamente se transformou num emaranhado de pensamentos, desabafos, reclamações, alegrias, nunca pensei vê-lo transformado numa sátira da minha própria vida.

Agora, após todo este tempo, depois de já ter sentido várias vezes isso, tenho de admitir escrevendo-o - comecei este blog para resolver os meus dilemas pessoais, não o fiz de forma consciente, mas foi para isso que ele nasceu.

Já me tinha questionado o porquê desta vontade súbita e feroz de escrever, um vício chamei-lhe, mas não é vício, é remédio, é a cura para as inconstâncias que me assolam a mente.

Estarei com uma crise de meia-idade? Acho que é esse o nome que lhe podemos dar, é demasiado cedo, talvez seja, mas ninguém sabe quando é o meio da sua vida ou quando dará o passo para o estágio seguinte.

 

Bem sei que é uma fase, que encontrarei as respostas, que um dia tudo não passará de uma época estranha da minha vida e sei que sairei desta crise mais forte, com mais certezas, menos descomplicada, com menos planos, mas mais eficazes. Sei disso tudo, é assim com todas as pessoas e eu não será diferente comigo.

Mas o caminho tem de ser percorrido e mesmo sabendo o que me espera do lado de lá da meta tenho de fazer a corrida de obstáculos e barreiras, sei que vou tropeçar, cair, para depois me levantar, lamber as feridas e voltar a correr, mas não muito depressa porque não adianta acelerar o passo, há todo um processo pelo qual tenho de passar e apressa-lo só me atrasa realmente.

Esta minha pressa, esta minha falta de paciência, esta minha ânsia, este paradoxo de saber o resultado, mas não saber o que me espera pelo caminho é que me aflige, tanto que me baralho nos pensamentos e nas sensações contraditórias.

 

Não se espantem que um dia pense de uma forma e no dia seguinte pense de outra, a única constante na minha vida é que sou inconstante.

Ser fanática pela coerência é o presente amargo que a vida me deu, a ironia da minha personalidade, a ironia da minha vida.

Nostalgia ou alegria?

Num momento de melancolia dei por mim a revisitar fotos antigas, o benefício das redes sociais é levarmos as nossas memórias para todo o lado e a qualquer momento podermos fazer uma viagem ao passado.

É interessante perceber como mudamos, mudanças físicas que acompanham o amadurecimento interior, percecionar como o tempo nos molda os pensamentos e nos esculpe o corpo e o rosto.

Adoro fotografar e ver o resultado, uma das maravilhas das novas tecnologias é conseguirmos tirar fotos a qualquer hora a todos os instantes, mas a facilidade retira encanto e paixão, é tão fácil tirar fotos que até nos esquecemos de as tirar, enquanto se perdem momentos na lente, retêm-se na retina da memória, os melhores não precisam de registo, ficam registados no coração.

Mas os registos fotográficos podem ser fantásticos, ao ver hoje algumas fotos tive desejo de entrar dentro delas e revive-las de novo, uma sensação incrivelmente boa e avassaladora, como se as fotos me atraíssem para elas como os espelhos mágicos dos contos.

Seria tão bom ter a capacidade de revisitar os melhores momentos das nossas vidas, vivê-los novamente, sentir todas as sensações de novo, deslumbrar-nos com a paisagem, sentir os aromas, ouvir os ruídos, sentir todas as emoções.

As fotos transportam-nos à felicidade do passado, fazem-nos recordar momentos com um sorriso nos lábios, esta sensação não é nostalgia, pode até ser saudade, mas acima de tudo pura alegria.