Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Os truques da mente humana

A nossa mente é um sistema complexo de pensamentos e sentimentos e estou convencida que por mais que tentemos nunca conseguiremos dominar a parte emocional, o nosso lado racional pode até ser dominante, mas há sempre brechas para que sentimentos irracionais tomem conta do espaço e se sobreponham.

No caos que é o nosso cérebro, mais consciente ou mais inconscientemente adotamos estratégias de defesa contra os ataques do lado emocional.

 

Quem nunca se forçou a não ter esperança, só para não sofrer com uma eventual má notícia?

 

Dizem que devemos manter sempre o pensamento positivo, acreditar que conseguimos, mas é impossível não questionar e antecipar o que iremos sentir se não acontecer, se não conseguirmos, se tivermos uma desilusão ou uma derrota.

Tentamos ignorar, abstrair, não pensar no assunto, o lado racional sobrepõe-se, mas quando menos esperamos somos invadidos pelas questões e antecipamos a desilusão.

No meio da ansiedade, das questões, da incógnita mentalizamo-nos que estamos a ter esperanças vãs só para não sofremos tanto no caso de a resposta ser negativa.

A nossa racionalidade ataca e afasta esses maus pensamentos, sentimo-nos esperançosos e revigorados e deixamos de pensar no assunto até novo ataque de insegurança e incerteza.

 

Nas grandes questões da vida é assim dúbio o nosso comportamento, confuso o nosso pensamento que altera entre a esperança e o reconforto antecipado, lidar com esta dualidade nem sempre é pacífico, é uma luta interna que nem sempre é justa, influenciada muitas vezes por fatores externos em nada relacionados com a situação.

Quando era mais jovem recorria ao truque usado por Amélie no filme “O Fabuloso destino de Amélie”, pensava se conseguir fazer isto é porque vai correr bem, era no fundo um reforço positivo que jogava a favor da esperança.

 

Agora, o meu truque é mais racional, tento manter a calma, pensar positivo, mas não elevar as expetativas ao máximo, manter os pés assentes na terra e pensar que se não ganhar desta vez, ganharei na próxima.

Pensar, procrastinar e decidir

Tenho demasiados verbos na minha vida, tornam-na rica e profícua ao mesmo tempo que me complicam algumas situações, gostava muito de pensar e decidir, mas há todo um hiato entre estes dois verbos, um outro verbo de seu nome procrastinar.

Invento desculpas, causas, problemas para o constante adiar de decisões, mas na verdade sei que em muitos casos trata-se apenas de procrastinação, embora sejam decisões determinantes para a minha vida que carecem de resolução.

 

Não gosto de indecisões, de variáveis, de probabilidades, se me adapto com facilidade a mudanças, não lido bem com o incerto, não se trata de uma incoerência, trata-se de necessitar de ter determinadas situações definidas para conseguir lidar com tudo o que não controlamos, o que é basicamente quase tudo na nossa vida.

Neste momento são poucas as situações definidas, pior do que as escassas situações definidas é não ter um plano para as definir.

Existem dois problemas o medo de errar, de escolher a opção errada e a minha constante obsessão com o custo de oportunidade, sempre que optamos por um caminho isso tem consequências, se opto pela opção A, essa escolha custa-me o caminho B, C e D.

 

Sinto sempre que se esperar mais um pouco conseguirei uma opção melhor, isto não só é impeditivo de tomar decisões como causa ansiedade, é um ciclo infindável que piora com o tempo. Se no passado tomava decisões com base no instinto e muitas vezes impulsivamente, com os anos tenho cada vez mais dificuldade em decidir, é próprio da vida, com a maturidade as decisões são cada vez mais sérias e importantes, mas pensar demasiado na vida, nas decisões, nas implicações, nas consequências, nas variações, probabilidades e diversas possibilidades impede-me de decidir em tempo útil.

 

Entre o pensar e o decidir há um grande tempo de ponderação, que não é nada mais, nada menos do que procrastinar, em boa verdade uma decisão é sempre a melhor com base nos dados que possuímos no momento, mais tarde podemos mudar de ideias à luz de novos dados, mas como ainda não conseguimos prever o futuro, as decisões que tomamos no presente são sempre as certas.

O presente é a realidade que conhecemos e qualquer intenção de prever o que poderá mudar no futuro não é nada mais do que adivinhação e especulação, tomar decisões baseadas em especulações é a pior decisão de todas, adiar decisões na esperança de uma conjuntura melhor é só mesmo isso adiar, procrastinar.

 

É legítimo adiarmos decisões na esperança de existirem condições mais favoráveis, que se cumpram determinados requisitos, de termos vontade de decidir, no entanto, é preciso ter noção que estamos de alguma forma a procrastinar.

Não há nada de errado nisso, mas esta consciencialização nem sempre é pacífica quando analisamos a cru as situações e percebemos que o motivo da espera poderá nunca se concretizar, sendo que ao adiarmos uma decisão a única certeza que temos é mesmo essa que escolhemos adiar.

Viver com stress e ansiedade

Pessoa descontraída, descomplicada, otimista, alegre e vivaça vive uma vida calma e agradável, pontuada ocasionalmente por percalços mais ou menos graves decorrentes da conjugação do verbo viver.

 

Essa pessoa de descontraída passa a sofrer de stress sistemático em três simples passos:

1 – Surge um problema de saúde que condiciona toda a sua vida;

2 – O tratamento do problema implica alterações bioquímicas no seu organismo;

3 – O tratamento prolonga-se e os efeitos secundários, que incluem picos de humor, agravam-se.

E assim em mais ou menos três anos a vida da pessoa dá uma volta de 180 graus e transforma-a, uma pessoa que nunca sentiu ansiedade ou stress fica prestes a ter um ataque de pânico porque se esqueceu do descongestionante nasal no trabalho.

Esta sou eu, aqui me confesso sou uma stressada crónica.

 

O stress não é impelido por mim, não é constante, não tem uma origem identificada, frequentemente é despoletado por situações corriqueiras, sendo que nas graves mantenho a racionalidade, é nas pequenas coisas, nas mais insignificantes que tenho surtos irrefreáveis que vão desde respostas ríspidas à indignação, por vezes com episódios de fúria, sintomas que desaparecem ao fim de poucos minutos.

 

Conheço a teoria, as dicas e os truques para controlar a situação, mas nas consumições da mente a teoria é muito simples, já a prática, também eu achava que era fácil controlar o stress e a ansiedade, que era uma questão de atitude, de querer mudar, infelizmente não é, a nossa mente não é linear, é complexa, nunca sabemos como iremos reagir a determinação situação.

É possível minimizar, antecipar algumas situações, preparar-nos para outras, mas quando o nosso sistema se encontra desequilibrado, por mais equilíbrio que consigamos atribuir-lhe conscientemente o inconsciente opera silenciosamente e quando menos esperamos faz-nos balançar, ficamos na corda bamba, pendendo de um lado e para o outro, nestas situações acredito que ter uma âncora, um porto seguro, um ponto de referência que nos dá a força necessária para nos conseguirmos equilibrar e seguir lentamente o caminho pé entre pé é fulcral, a minha âncora é ele, sempre disposto a acolher o meu tumulto num abraço sereno.

 

Viver com um stress que desconhecia ser possível existir, com uma ansiedade corrosiva que me drena é um mundo novo para mim, há 4 anos se alguém me dissesse que um dia sofreria de stress e ansiedade provavelmente a minha resposta seria uma gargalhada, pois não se coaduna com a minha personalidade, com a minha forma de ser e agir, mas na vida só podemos dizer nunca para o nunca, pois é impossível dizer nunca a tudo o resto porque, simplesmente, não sabemos o que o futuro nos reserva.

 

Não menosprezem, não desvalorizem os sintomas de stress e ansiedade em adultos, mas principalmente em crianças e jovens, ninguém é assim porque quer, porque gosta, há sempre um motivo, pode ser físico, para que as pessoas se sintam assim, em alguns casos é necessário recorrer a medicação para controlar os sintomas, noutros é preciso conhecer os motivos e atacar a fonte do problema, noutros simplesmente passa por aceitar e conviver com a situação o mais pacificamente possível, em todos só tomando consciência do problema o podemos tentar controlar.

Desvalorizar os sintomas e recorrer a frases feitas e a lugares comuns não ajuda as pessoas que já estão numa situação frágil e incómoda, apenas contribui para que sintam pior e responsáveis pela sua condição, uma condição que não controlam, demonstrar empatia e dar uma palavra de conforto é o melhor que lhes podem oferecer.

 

Lembrem-se que na maioria dos casos as pessoas vivem em stress e em ansiedade por causa do que os outros e a sociedade esperam delas, não sejam parte da pressão, sejam parte da compreensão.