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Língua Afiada

Começar 2018 a destralhar

Temos a casa do avesso, é o primeiro passo para finalmente se arrumar e dar destino a uma série de coisas que não usamos, que não têm utilidade, que estão estragadas, que não servem ou que simplesmente já não fazem sentido.

É um processo de desapego que dói um bocadinho, mas já me estava a mentalizar há uns dias que era inevitável e por isso apesar de me custar lá consegui desfazer-me de várias coisas.

Estamos a fazer uma pequena mudança que se tem tornado a maior intervenção que fizemos até hoje na organização da casa, transformar um espaço exclusivo à arrumação (desarrumação) num segundo escritório e a conclusão é que não é nada fácil.

 

Descobri que afinal sou uma fashion blogger, antes fosse porque se fosse tinha justificação para a quantidade de produtos relacionados com moda que tenho em casa.

Ele é sapatos, sandálias, botas, carteiras, sacos, malas, lenços, cachecóis, brincos, colares, pulseiras, anéis, ganchos, travessões, alfinetes, óculos, cintos, chapéus, gorros, luvas, um sem fim de acessórios que não tenho onde guardar convenientemente.

Produtos de higiene é para esquecer, já disse que não volto a comprar nem mais um enquanto não acabar com todos, todos até os que não gosto tanto que tenho lá em casa.

Vestuário já dei voltas e voltas e não há realmente mais nada que me possa desfazer, todas as mudanças de estação faço uma separação do que já não uso.

 

Colocada a tralha fora, ficou a tarefa de organizar o que ficou, adquirimos mais um roupeiro, mas esta a manifestar-se claramente insuficiente, então o desafio agora é encontrar móveis que se adequem às nossas (minhas) necessidades, o ideal seria um closet daqueles com divisórias para tudo e mais uns vinte pares de botas, mas para além de serem dispendiosos, não há espaço para um, por isso haja criatividade e paciência para encontrar formas para arrumar tudo.

As carteiras e as botas de cano alto são o meu maior problema, não é nada fácil mantê-las arrumadas e organizadas, mas com criatividade tudo se consegue, por isso nos próximos dias dedicar-me-ei a pesquisar dicas e formas de organização.

Neste momento entro na minha casa e não a reconheço, tem caixas e sacos na sala e no quarto de hóspedes e o novo escritório mais parece ter sido varrido por um furacão, a ideia era colocar tudo no local certo até ao próximo sábado, mas é uma ideia demasiado otimista, primeiro porque ainda estamos à espera de um móvel e segundo porque não há efetivamente tempo para arrumar tudo.

 

O maior problema destas mudanças? É que quando se começa a mudar dá vontade de mudar tudo e já começo a pensar em fazer mudanças nas outras divisões, a sala já vai ter uma alteração significativa, mas ainda não é suficiente, quero comprar uma estante nova e talvez um aparador para ter finalmente espaço para todos os meus livros e louças, no quarto preciso de um toucador urgentemente.

A grande vantagem destas mudanças é que por um lado percebemos que temos mais tralha do que é necessário e desfazer-nos dela é sempre bom, dá uma sensação de libertação e por outro lado encontramos outras coisas que nos dão imenso jeito mas que não usamos porque estavam escondidas, ontem foi quase comos se tivesse ido às compras dada a quantidade de coisas que percebi que tinha e que não estava a usar.

 

Não fiz resoluções para 2018 mas quer-me parecer que uma delas será sem dúvida destralhar, arrumar e redecorar, gosto de mudanças e há muito tempo que ansiava por esta mudança no ambiente lá de casa.

Dedicação

Dedicação pode significar tudo e significar nada, significa muito para quem se dedica muito, significa nada para quem nunca se dedica a nada.

Sou uma pessoa dedicada, gostaria de dizer que sou dedicada às pessoas, mas não, sou dedicada a projetos, pequenos, grandes, irrelevantes, importantes, grátis, dispendiosos, as suas caraterísticas não são propriamente pertinentes, a única coisa que todos têm em comum é gostar deles, se gostar do projeto dedicar-me-ei a ele.

Não interessa se são pessoais ou profissionais, pode ser preparar um jantar para receber amigos, planear umas férias, preparar uma sessão fotográfica, desenvolver um briefing, se gostar estarei 100% dedicada e focada.

 

Uma professora querida deixou-me uma dedicatória num caderno que guardo até hoje, era qualquer coisa como:

“Em tudo o que fazemos devemos colocar um pedaço de nós, é o que o fazes.

Parabéns.

Continua sempre assim.”

 

Na altura não entendi a extensão do significado das suas palavras, só anos mais tarde entendi o que queria dizer.

Os primeiros sinais começaram com os trabalhos de grupo da faculdade, coordenar ideias e vontades de 4/5 alunos com formas de estar e empenhos distintos não é fácil, especialmente com 6 trabalhos por semestre, não existia outra solução se não nomear responsáveis de projeto, em alguns casos tivemos mesmo de dividir trabalhos para que todos aparecessem terminados dentro do prazo. O problema? Todos os trabalhos em que eu e outra colega fomos responsáveis ficaram excelentes, todos os que uma outra colega interferiu foram uma desgraça, a diferença entre mim e os outros foi na atitude para com ela, fiquei endemoninhada, para mim era inadmissível que alguém não colocasse o mesmo esforço e dedicação que eu coloquei.

 

Quando comecei a trabalhar tive ainda mais noção desta dedicação, sempre que me deparo com um projeto desafiante, diferente, dedico-me totalmente, foco-me e procuro que tudo seja perfeito, planeio cada detalhe, dou atenção a todos os pormenores, para mim não faz sentido que seja bom, tem de ser excelente.

Não adianta que me digam que o ótimo é inimigo do bom, eu simplesmente não funciono assim, ou é como eu quero ou basicamente não é de maneira nenhuma.

 

Quando não é como eu quero cresce em mim uma frustração e uma indignação terríveis, há situações que é impossível controlar todas as variáveis, alguns percalços acabam por dar cor à vida, mas quando algo corre mal porque alguém falhou não imaginam a raiva com que fico.

É como se eu tivesse estado horas a pintar um lindo quadro e viesse alguém e lhe fizesse uns borrões por cima.

 

Com o tempo aprendi que não podia ser assim em tudo, é impossível, porque me condiciona, é um grave problema que me impede de fazer várias coisas.

Desisti de várias coisas, de vários projetos ao longo da vida porque não consegui que fossem perfeitos, tal como os imaginei, perdi algumas oportunidades, impedi-me de aprender algumas coisas, a impossibilidade de me dedicar a 100% a cada uma delas fez com que desistisse.

 

Dou como exemplo o blog, quero mudar o header há meses, já desenvolvi um sem fim de imagens, já experimentei quase todos os layouts disponíveis, mas ainda não consegui que ficasse perfeito.

Desisto, não é o que eu quero fica como está. Passam uns dias, insisto, nova tentativa, não está como quero, desisto novamente.

Chega, o próximo header e layout que preparar estejam perfeitos ou não (não estarão tenho a certeza) serão utilizados.

 

A partir de agora tentarei levar este lema para tudo na minha vida, se não pode ser perfeito, que seja bom, não posso simplesmente deixar de fazer as coisas só porque elas não são como eu as sonhei e ambicionei.

Não posso deixar de comprar roupa bonita, só porque não visto o tamanho que desejo.

Não posso deixar de decorar a casa, só porque não é a minha casa de sonho.

Poderia dar milhares de exemplos.

 

No fundo não posso deixar de lutar pelo que quero só porque sei que não conseguirei chegar lá quando e como quero, não posso desistir só porque sei que não será como eu sonhei e como eu sempre desejei.

Há lutas das quais não podemos desistir, uma dessas serviu para me mostrar que não interessa que não seja como eu sempre esperei e sonhei, o importante é lutar e fazer acontecer.

A perfeição é uma ideia da nossa mente e o que hoje é imperfeito e incompleto pode ser um sonho tornado realidade amanhã, o importante é a dedicação que lhe dá-mos pelo caminho, não para que seja perfeito, mas para que aconteça.

Teorema de Pitágoras

Sempre adorei o nome deste teorema matemático, que apesar de dever o seu nome ao homem que se acredita o ter descoberto, tem um certo charme pitoresco.

O quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos.

Nunca percebi a dificuldade que alguns colegas tinham em decorar este teorema, a mim, que nunca fui um ás a matemática pareceu-me sempre uma coisa básica.

 

No décimo ano a minha professora de matemática achou por bem elucidar-nos de vez do Teorema de Pitágoras, a Sra. Engenheira (não me recordo do nome dela) que explicava e reexplicava os problemas e as equações sempre da mesma forma sem que 80% da turma percebesse o que estava a dizer podia ser péssima professora, mas ensinou-nos o Teorema de Pitágoras para a vida.

Na minha turma andava o chamado pão da escola, um rapaz mais alto que a média, cabelos pretos, moreno, de olhos verdes e um corpo talhado pelo futebol profissional faziam com que fosse o campeão dos suspiros e esses suspiros eram gerais desde as alunas às professoras, passando pelas auxiliares educativas e administrativas.

Nem o defeito da arrogância ou altivez característicos de quem atrai atenção lhe podíamos atribuir, o rapaz era tímido, calado e introvertido, tinha uma simpatia discreta e um sorriso franco. Poder-se-ia dizer que o seu defeito seria mesmo ser demasiado tímido.

 

E a Sra. Engenheira gostava dele, era a única aula em que ele se sentava na primeira fila, mesmo em frente à secretária dela, fácil de perceber, embora ela não tivesse grandes atributos gostava de se sentar em cima da secretária e cruzar a perna quando usava saia e antes da aula desapertava sempre o terceiro botão da blusa de seda.

Naquele dia farta de explicar o Teorema de Pitágoras ao meu colega que estava mais interessado no decote do que no Teorema, aproximou-se dele, baixou-se ao nível dos seus olhos e da forma mais melosa que conseguiu com a sua voz esganiçada explicou o Teorema tomando como exemplo o triângulo do seu nariz, dizendo enquanto deslizava os dedos pelos nariz, quando pensarem no Teorema pensem num dos lados do nariz, a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa, a hipotenusa é a cana do nariz e volta a deslizar o dedo indicador pelo nariz do meu colega.

 

A partir desse dia o Teorema de Pitágoras ficou sabido e decorado para toda a turma, menos para o meu colega que não conseguiu ver, nem ouvir nada pois estava demasiado focado no decote pronunciado da professora que ficou bem ao nível dos seus olhos.

A matemática não tem de ser aborrecida é tudo uma questão de perspetiva e de inspiração.

Infelizmente a única coisa que aprendemos com a Sra. Engenheira foi o Teorema de Pitágoras, pois a vocação dela para ensinar era nula e os campeões de matemática da turma percebiam mais de senos e cossenos que ela própria.