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Língua Afiada

Turismo - Preservar o antigo ou deixar florescer a novidade

Portugal está na moda, ganhamos prémios atrás de prémios, somos um destino turístico de excelência para todo o tipo de turistas, porque a nossa oferta é vasta e diversificada.

Curiosamente o mundo parece ter descoberto o potencial turístico de Portugal antes dos portugueses e dos seus Governos, basta recuar uns anos para perceber que turismo estrangeiro em Portugal era só no Algarve e na Madeira, o resto do país era literalmente paisagem, mesmo nesses locais a atração era o calor e as praias, havendo alta sazonalidade que levantava diversos problemas económicos especialmente no Algarve, onde as pessoas se viam obrigadas a trabalhar a dobrar nos meses quentes para fazer face ao desemprego nos meses frios.

 

A Expo 98 teve um papel determinante para colocar Lisboa no mapa, assim como o Porto 2001 Capital Europeia da Cultura ajudou a colocar a cidade do Porto, mas o grande impulsionador do turismo foi mesmo a companhia aérea Raynair que começou a atrair o chamado turismo low-cost para Portugal, low-cost para quem visita e high-cost para quem recebe porque qualquer visitante da Europa Ocidental em Portugal sente-se rico.

Há que referir o papel das associações empresariais, algumas empresas portuguesas e até de agências de comunicação que munidas de um sentido patriota e visionário escolheram apresentar Portugal ao mundo em feiras e exposições, destaque para o sector dos vinhos, em especial do Douro, que soube promover não só vinhos, mas paisagens e convidou as pessoas a visitar caves e vinhas, impulsionando o enoturismo que rapidamente se disseminou.

 

Existiram diversos programas de apoio ao Turismo, mas já se sabe que a melhor publicidade é a boca-a-boca e quem visita Portugal leva na bagagem produtos bonitos, bons e baratos, a barriga contente do repasto farto e delicioso, memórias de lindas paisagens e monumentos, aromas simples e ricos e uma interação com o povo estranhamente simpático e hospitaleiro.

Esta moda não é de agora, tem sido um crescente dos últimos anos, infelizmente o Turismo não tem só consequências positivas, também tem consequências negativas, consequências essas amplamente já faladas, a subida das rendas e dos imóveis, a subida geral na hotelaria e restauração, a descaracterização dos locais e a expulsão dos residentes para fora dos centros turísticos.

 

Não se pode travar este tipo de evolução, não se podem travar os aumentos das rendas, a valorização dos imóveis, mas pode-se travar a descaraterização dos locais.

Têm sido muitos os cafés, restaurantes e lojas tradicionais a fecharem por causa desta evolução, perderam-se já muitos espaços típicos, castiços e cheios de história para novos espaços desprovidos de alma, uma pena, porque é precisamente aqui que se pode mudar o panorama.

Se muitos estabelecimentos comerciais não souberam atualizar-se e perderam clientes, tendo-se mantido apenas abertos por causa das rendas antigas e irrisórias que pagaram durante anos, é preciso ajudá-los a mudar, a atrair clientes, a olhar para o negócio com outra perspetiva. Ao mesmo tempo, é preciso orientar e fiscalizar os novos espaços para que estejam de acordo com as caraterísticas do local onde se instalam, é aqui que se falha redondamente e se está a anos-luz de outras cidades europeias.

 

É necessário preservar a arquitetura, não só as fachadas, mas também os interiores ricos, não só nas cidades, mas em todo Portugal, destruir palácios, palacetes, mosteiros e conventos para erguer prédios e moradias é um crime contra a cultura e o património.

Pegando num exemplo que me é caro, é possível na cidade do Porto colocar um reclamo luminoso praticamente no tamanho que se desejar em qualquer cor e formatos possíveis, mas há um limite claro para a colocação de vasos de plantas ou flores no exterior, construir uma explanada bonita e acolhedora dentro das normas da Câmara Municipal é quase impossível, quem diz explanada, diz a colocação de produtos no exterior dos espaços comerciais, é claro que a maioria dos espaços ignora as regras e é por isso que encontramos algumas esplanadas deliciosas e mercearias que colocam os produtos frescos expostos à porta.

É inadmissível que numa cidade que caminha a passos largos para viver do turismo não se permita ter espaços exteriores que acompanhem a riqueza e a beleza dos espaços interiores, convidando a sentar, a comprar e a entrar.

 

Em Portugal, talvez Óbidos seja o melhor exemplo de preservação e ornamentação, toda a cidade parece um jardim, o país inteiro poderia ser assim, como são tantas cidades em Itália, sempre cheias de flores, limpas, organizadas e tão pitorescas.

Falta cultura de preservação aos portugueses, falta, uma grande parte da população não é educada e formada para gostar e preservar a história e o património, assim como não é educada para valorizar as artes, é aqui as autoridades competentes devem atuar.

 

Se a preservação do antigo, da cultura e do património não nos é natural, que seja imposta por leis e regras até que seja inata, só assim conseguiremos preservar o antigo e deixar florescer a novidade, permitindo que o novo e o velho coexistam em harmonia para o bem de residentes e turistas.

Exposição Miró em Serralves

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Não fui ver a exposição este fim-de-semana, mas com certeza que irei em breve, primeiro porque gosto do trabalho de Miró e segundo porque adoro Serralves e qualquer desculpa é boa para lá regressar.

O melhor de tudo é perceber que nem só gelatarias e pregarias fazem filas no Porto, exposições de arte também, uma fila (bicha) tão grande que foi notícia e impressionou o neto do artista, Joan Punyet Miró confessou-se comovido com a afluência do público.

Definitivamente a cultura pode estar na moda, levar pessoas aos museus é só uma questão de divulgação, mais aposta na divulgação é necessária.

Se grande parte dos visitantes foi só porque viu a notícia, se grande parte não percebe nada de arte, se alguns até nunca tinham ouvido falar do artista antes do BPN, isso não interessa nada, qualquer motivo é bom para estar em contacto com a arte e a cultura, nem que seja porque está na moda.

Antes fazer fila à porta de Serralves do que no restaurante, porque há fomes que não se matam com comida, mesmo quem não tem fome sacia a curiosidade e pelo caminho ganha mais cultura, que ao contrário da comida nunca é demais.

 

(Imagem do site Fundação de Serralves)

Atualidade afiada na minha língua #2 - A cultura está pela hora da morte

A sinceridade do Ministro da Cultura

 

Temos um Ministro da Cultura que achou por bem publicar no seu Facebook a vontade que tem de dar umas bofetadas a um jornalista que apenas estava a fazer o seu trabalho.

O que revela uma sabedoria imensa sobre a cultura portuguesa, ou não fosse um par de estalos, bofetadas, pauladas, marretadas e afins a forma tradicional dos portugueses resolverem as coisas.

Não interessa nada que seja proibido por lei cometer agressões, mas alguém quer saber disso agora?

 

A inteligência de Joana Vasconcelos

 

Temos uma artista plástica que quando lhe perguntam o que levava com ela se fosse uma refugiada, faz corar os mais fúteis dos fúteis, ao dizer que levava: o iPhone, o iPad, os phones, as joias portuguesas, as lãs, as agulhas e o bloco e os lápis e claro os óculos de sol.

Ora eu não sei qual o espanto, ela é inteligente leva coisas muito úteis:

As joias valem mais do que a moeda porque não desvalorizam.

As malhas e as agulhas são para fazer mantinhas.

O bloco e o lápis servem de combustível à fogueira para se aquecer.

Os phones são para tapar os ouvidos e não ouvir o desespero das pessoas.

Os óculos de sol para esconder as olheiras e proteger das poeiras.

O iPad é para levar as fotos de família.

O iPhone é para servir de lanterna.

Afinal até é uma mulher prevenida.

 

O que eu gosto mais é do ar sério dela no vídeo.

A cultura está pela hora da morte em Portugal.

Foram duas valentes bofetadas, mas na cultura.

 

#asbofetadasdoministrodacultura

#sejoanavasconcelosfosserefugiada