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Língua Afiada

Não há duas em três – o siso que faltava

Lembram-se da minha saga com o dento do siso do lado direito?

É claro que não se lembram, que isso não interessa a ninguém só mesmo a mim que sinto as dores.

Pois bem, escrevi neste post que estava preocupada porque o siso do lado direito já me tinha mandado para dentista duas vezes e o esquerdo ainda nem sequer tinha dado sinal de vida.

Dizia eu no fim-de-semana ao meu afilhado lindo que se tivesse os dentes como a madrinha iria ter sorte, sorte até ao nascimento dos sisos, mais valia estar calada.

 

Nunca pensei que isto de ganhar juízo doesse efetivamente, dói na alma perder a magia da irresponsabilidade, aquela sensação de risco iminente, sabermos que as nossas ações podem correr mal, mas que há todo o tempo do mundo para as corrigirmos, afinal temos a vida adulta toda para sermos responsáveis e ponderados.

Agora doer fisicamente nunca imaginei, mas os meus queridos sisos estão a dar luta, não querem que tenha o juízo total e por isso não se limitam a aparecer e a tomar conta da situação, não, querem ficar inclusos por mais uns tempos, têm medo de envelhecer e querem ficar protegidos pela gengiva.

Meu querido siso esquerdo nada temas, eu agora até deixei de colocar açúcar no café, quase não como doces, escovo muitas vezes os dentes e com pasta de marca, nada de marcas de insígnia, uso elixir e fio dentário sempre que sinto necessidade e os meus dentes são branquinhos, não precisas ficar preocupado com manchas, não tenho cáries para te transmitir, tenho uma boca saudável, o ambiente prefeito para tu cresceres e seres muito feliz.

 

Faz-me feliz e aparece, sem dramas, verás que a vida cá fora é muito agradável e irás provar imensas coisas saborosas, irás sentir-te útil, ou não que na verdade não serves para nada, vá não tenhas receios, os teus irmãos mais velhos estão à tua espera.

Sê um bom menino e não te faças de difícil é que se te não mostrares a bem, mostras-te a mal, não, não é uma ameaça é uma promessa.

Raio de sisos, passava tão bem sem eles!

O siso que não me dá juízo

Na semana passada ninguém me aturava por causa da infeção causada pelo dente do siso, com a medicação a dor passou e a infeção também, ontem foi dia de ir novamente à dentista avaliar a situação.

A minha dentista e amiga de infância não foi quem me atendeu na semana passada, fui atendida por uma colega, ontem mal entrei no consultório ela sorri e diz:

D – Não queres tirar pois não?

Eu – Se não for preciso tirar, eu dispenso.

D – Vamos ver, se calhar não é preciso tirar.

Eu – A tua colega disse que tenho uma pequena cárie noutro dente, se calhar é melhor tratar.

D – Sim. Mas senta-te lá na cadeira com calma que não é nada demais.

Eu – Já sabes que eu tenho pavor à cadeira.

D – Eu sei que tens os dentes virgens, já viste que sorte que tenho vou tirar a virgindade aos teus dentes.

Riso geral entre eu ela e a auxiliar.

Entretanto a D começa a preparar-se para analisar a boca e batem à porta. Era o Moralez que tinha sido intimidado por mim a aparecer sob ameaça de divórcio.

Ela quando o vê desatou a rir-se.

Moralez- Fui obrigado a estar presente.

D – Vieste segurar-lhe a mão para ela não ter medo.

Novo riso geral.

Entretanto ela tentou mostrar-me a cárie mas eu não consegui ver, sossegou-me dizendo que era uma coisinha de nada.

Lá começaram os preparativos e eu rio-me novamente ao lembrar-me de uma história.

Eu – A primeira história entre nós a envolver dentes foi no liceu quando ficaste com a marca dos meus dentes na tua cabeça.

D – Não sei como no meio de uma aula de basket conseguiste marcar-me os dentes, mas a verdade é que os teus dentes são bons porque não partiram, marcaram-me antes a cabeça.

Mais uma momento de riso e começam os tratamentos.

Broca, lima, aspirador, espátula uma série de instrumentos de terror, ela disse que a cárie era pequenina mas eu sentia que ela me estava a devastar o dente todo, parecia mesmo que estava a ficar sem dente, um terrível cheiro a queimado fez-me estremecer.

A auxiliar coloca-me a cabeça no centro da cadeira que por essa altura já estava quase a tombar, estava a fugir mas sem me aperceber.

Cárie tratada e segue-se a pior parte, limpar a gengiva à volta do dente do siso.

Primeiro stress a anestesia, a agulha até é pequenina, mas sente-se cada mililitro da anestesia a entrar, uma sensação ácida que parece que queima, a sorte é que começa logo a fazer efeito e as picadas seguintes já não se sentem. Mais uma vez inconscientemente estava a fugir.

Empurra pele daqui, empurra pele dali, bisturi, compressa e pronto dente do siso livre para nascer à vontade.

Sobrevivi à cadeira do dentista e até me levantei bem-disposta.

A D até brincou comigo ao dizer-me que se quisesse podia levar um autocolante a dizer portei-me bem.

A verdade é que conhece-la bem e o ambiente informal acabou por ajudar a superar o trauma.

Mas o pior estava para vir!

Seus mentirosos! Se cortar a pele da gengiva me deu dores atrozes, desde a garganta até ao ouvido que me impedem de comer, tenho dores a engolir e mesmo com medicação as dores não passam eu imagino o que será “tirar o siso não custa nada”! Mas vocês são feitos de ferro?

Um strogonoff tão bom ontem para o jantar e eu sem conseguir comer, lá tive de passar com um iogurte e depois com uma chávena de leite.

Acordei a meio da noite com fome e com dores, ainda estou com fome porque não consigo comer nada sólido e ainda sinto dor.

Será que perderei uns kg com isto?

Espero que ao menos tenha essa compensação porque o juízo ainda não senti a aumentar.

Num futuro próximo

1 - Não existirão espelhos.

As pessoas olharão para um ecrã que refletirá a sua imagem Photoshopada.

Será a única forma de evitar que a depressão devaste a Humanidade.

Com a proliferação dos aperfeiçoamentos digitais as pessoas não conseguirão lidar com a sua imagem real.

Os espelhos serão ecrãs que refletirão uma imagem melhorada, uma versão de acordo com as nossas expetativas.

O passo seguinte serão lentes para que as vejamos assim também.

Andaremos todos enganados mas felizes da vida.

Isto a propósito do meu post anterior.

 

2 – Não teremos sisos

E nunca mais ninguém terá de sentir estas dores excruciantes que estou a sentir neste momento.

Como se as dores não fossem más o suficiente, o meu medo (terror) da cadeira do dentista está no máximo porque o mais provável é ter de arrancar o raio do dente que nem sequer precisava ter nascido.

Só não ouvem os meus dentes a bater porque tento tê-los imóveis para tolerar a dor.

 

 

Nota importante - Update

 

Obrigada por tentarem sossegar-me mas eu não acredito que tirar um siso não custe nada, especialmente se for o meu siso que os dos outros não me custam nada é verdade.

Eu não tenho dentes eu tenho dentões ao estilo iceberg, são grandes na parte visível mas ainda maiores na parte escondida.

Em criança tive de tirar um dente do leite que não queria sair, a dentista ficou incrédula com o tamanho do dente, disse mesmo que se o definitivo não estivesse já lá iria jurar que o tinha tirado.

E toda a gente sabe que os sisos são ainda maiores!

Eu já vi arrancarem um dente, nunca façam isso, é uma péssima ideia, especialmente para pessoas que têm medo de dentistas.

É de uma violência tremenda, é que aquilo não sai assim às boas, puxam e puxam, abanam e voltam a abanar, a cabeça do paciente anda de lado para lado desamparada puxada por um alicate.

Até os olhos saem das órbitras, quem está na cadeira não sente mas quem vê fica perto do desmaio, e eu só desmaio com falta de açúcar não por ver sangue e coisas do género.

Por isso mesmo que me prometam litros e litros de gelado, mesmo que seja gelado artesanal italiano, não me convencem assim a tirar o dente às boas.

Já uma viagem a Itália pudesse ser persuasiva o suficiente… Nem isso.

Só tiro mesmo se não tiver alternativa.