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Língua Afiada

Violadores bem integrados na sociedade?

Que sociedade, cultura ou sistema que apregoa defender os Direitos Humanos, os direitos individuais, a justiça e a integridade física e psicológica dos seus constituintes consegue justificar a liberdade de dois violadores com o facto de estes se encontrarem integrados na sociedade?

Como é possível considerar que dois homens que se aproveitam da fragilidade de uma mulher para a violarem integrados? Integrados num sistema benevolente para violadores e desfavorável para as vítimas? Num sistema que penaliza a vítima e protege o agressor?

Até quando seremos compassivos para esta (in) justiça dúbia, tendenciosa e machista?

 

Como é possível que nos nossos dias Juízes entendam uma violação sexual apenas como uma agressão física, colocando de parte, como se não existisse, a violência psicológica e os danos morais infligidos que terão repercussões para toda a vida da vítima?

Lamentável que a Justiça não tenha acompanhado a evolução da sociedade, se hoje é praticamente impensável um pai, um irmão, um marido, um namorado, um familiar ou um amigo fazer pelas próprias mãos justiça, defendendo a vítima e vingando-a, parece normal e aceitável desculpabilizar agressores e violadores culpabilizando-se a vítima como nos tempos idos em que a vingança era considerada justiça.

 

Sinceramente perante o acórdão e as justificações apresentadas para que a pena seja suspensa a vontade que tenho enquanto mulher é que se faça justiça por outros meios, mas a única Justiça possível é levar o caso até à última instância legal e se necessário ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, uma vez que a sentença coloca em causa as convenções internacionais de Direitos Humanos e também a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres.

 

É urgente alterar a cultura da Justiça Portuguesa, assim como é urgente acabar com os interesses instalados e o poderio de uma classe que demonstra estar obsoleta, completamente retrógrada que não se coaduna com os valores que devem reger uma sociedade e um país que assina convenções europeias e internacionais para proteger e combater a violência sobre as mulheres.

Não podemos aplaudir os discursos políticos politicamente corretos na defesa das mulheres, das minorias e no combate a qualquer violência que atente contra a integridade física e psicológica de um cidadão e depois aceitarmos e encolhermos os ombros perante uma justiça que sentencia precisamente no sentido oposto.

Ninguém está acima da lei e está na hora de os Juízes perceberem que eles não são a lei, a moral e os valores da sociedade, são os seus defensores e deverão ser o seu exemplo máximo, defendo-os independentemente do seu sistema de valores pessoal, género ou crenças.

 

Cabe a cada um de nós lutar por uma sociedade e justiças mais justas, falar, pressionar, o importante é que não se esqueça este e outros casos semelhantes, pois um dia a injustiça, a frustração, a impotência e a incredulidade podem bater à nossa porta.

Por isso a pergunta que se coloca é - Se fosse uma familiar dos juízes a sentença seria a mesma?

As Capazes e as utopias

As Capazes estão constantemente envoltas em polémica, não é por uma ou por duas vezes que estalam nas redes sociais opiniões pouco abonatórias sobre os artigos e declarações do site Capazes e das suas representantes.

O princípio da associação é louvável, a forma como se propõem a atingir a sua missão e objetivos é que é bastante questionável.

 

“É tempo de retirar aos opressores o poder de oprimir. E, na democracia, o poder se exerce pelo voto. A suspensão temporária do poder do voto dos homens brancos é a única chance de produzir uma real alteração no mundo no espaço de apenas uma geração. Todos os dados demonstram que apenas 20 anos seria o suficiente, e os benefícios seriam universais, e não apenas para mulheres.”

 

Portanto a solução para a igualdade entre homens e mulheres seria a suspensão temporária do direito de voto dos homens brancos, brancos porque supostamente é neles que se concentra do poder das decisões.

A solução apresentada para a igualdade de direitos é criar uma desigualdade?

E a solução para acabar como o racismo? Será suspender os votos dos racistas ou de uma raça em particular?

E a solução para acabar com a homofobia? Será suspender os votos de todos os heterossexuais?

 

As mulheres têm de entender que o problema das desigualdades entre homens e mulheres começa nas próprias mulheres, somos nós que nos atacamos constantemente umas às outras para gáudio dos homens.

Tantos anos de evolução e a competição pelo macho alfa continua a ser pré-histórica.

Exemplos não faltam:

 

A mulher encontra o marido com a amante, quem é que ataca? A amante.

 

Uma mulher quase inconsciente devido ao álcool é atacada por um bando de homens numa festa académica, qual a resposta típica da sociedade? Ela se estivesse em casa ninguém a atacava.

 

Uma mulher dorme com vários homens sem complexos, o que dizem dela? Que é uma vadia irresponsável. O que dizem de um homem que dorme com muitas mulheres? É o rei lá do sítio.

 

Ouço comentários destes todos os dias, em todos os contextos, de mulheres, quando as mulheres colocam nas mulheres a culpa, quando as mulheres se destratam e culpabilizam umas às outras isto nunca mudará.

Durante anos e anos a educação dos filhos coube quase exclusivamente às mulheres, o que é que elas lhes ensinaram? A serem machistas.

 

Neste momento a desigualdade que existe é devido à cultura, porque perante a lei, somos iguais em quase todos os aspetos, e é nesses aspetos que ainda não são iguais que se devia trabalhar. Por exemplo por que motivo o homem tem 180 dias para recasar e a mulher só o pode fazer ao fim de 300 dias?

 

Para erradicar o machismo e outras formas de preconceito e discriminação é preciso apostar na educação, pessoalmente estou constantemente a dar palestras a amigos e a conhecidos sobre a perversidade e a falta de formação que alguns comentários revelam.

Já me vi rodeada de mulheres que difamavam outras pelas suas opções de relacionamentos, como se o que elas fizessem com o seu corpo interferisse com o delas, tive um ataque de raiva, como era possível mulheres feitas, inteligentes, uma delas feminista na adolescência, estarem agora, depois de casadas com um relacionamento estável, a fazer juízos de valor de mulheres que nem sequer conhecem só porque decidiram dormir com mais homens do que aqueles que elas julgam ser aconselhável.

 

Nos dias de hoje pais de adolescentes dizem que é diferente ter uma filha ou um filho que as liberdades devem ser diferentes?

Qual liberdade? Não se coloca em questão nenhuma liberdade, o que se coloca em causa é a educação, crianças e adolescentes devem ser consciencializados das repercussões das suas ações, sejam elas ficar alcoolizados ou ter relações sexuais.

A diferença entre homens e mulheres está na cabeça das pessoas, infelizmente começa na cabeça das mulheres que deveriam ser as primeiras a hastear a bandeira da igualdade.

 

Somos diferentes, mas os nossos direitos, oportunidades são iguais.

Não vamos agora usar a prepotência, a arrogância, a superioridade e a desigualdade como usaram os homens na conceção utópica que isso resolveria o problema da desigualdade entre homens e mulheres.

 

Somos diferentes e é a lutar com as nossas armas diferentes que vamos fazer a diferença para criar igualdade.

Nike lança hijab para as atletas muçulmanas

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A mais recente aposta da Nike está a dividir a opinião pública, enquanto mulheres muçulmanas aplaudem a iniciativa que passa a dar-lhes a oportunidade para fazer desporto com equipamento adequado, as mulheres do ocidente indignam-se com a marca acusando-a de promover a exclusão da mulher.

A Nike Pro Hijab foi apresentada como sendo um grande passo para as atletas islâmicas que queiram conjugar religião e exercício físico.

Do projeto, desenvolvido em conjunto com várias atletas, resultou uma peça que funciona como uma “segunda pele” com orifícios para a respiração, mantendo a opacidade. O vídeo promocional do hijab inclui a basquetebolista Amal Mourad, a pugilista Arifa Bseiso e a cantora Balquees Fathi.

 

Esta é uma notícia que desperta em mim sentimentos contraditórios, se por um lado acho que é de louvar que se criem condições para que quem usa hijab pratique desporto de forma confortável, por outro acho errado que se promova seja de que forma for o Símbolo da opressão da mulher.

Será realmente uma boa iniciativa?

 

A questão não se colocaria se a Nike não criasse tanto buzz à volta do assunto, poderia lançar o produto, mas seria necessário divulga-lo desta forma?

Seria, porque os Jogos Olímpicos do Rio no ano passado foram o palco escolhido por várias atletas muçulmanas para reafirmarem a sua vontade em usar o hijab, afirmando mesmo que o seu uso era um passo dado contra o preconceito que os ocidentais têm contra o uso do véu.

Custa-me que pessoas que nasceram, cresceram e vivem no preconceito venham tentar dar lições de preconceito.

Gostava particularmente de ouvir Dorsa Derakhshani, uma jovem iraniana de 18 anos que já obteve títulos de mestre internacional e de grande mestre em xadrez, que raramente comete erros no tabuleiro, mas que cometeu um, fatal, para a Federação Iraniana de Xadrez: não usou o hijab quando participou como jogadora independente no 2017 Tradewise Gibraltar Chess Festival.

 

Não me choca que as atletas queiram usar o hijab, choca-me que o usem com orgulho, quando é o símbolo máximo da opressão da mulher, choca-me que digam que o usam porque querem, quando sabem melhor do que qualquer uma das ocidentais que há muitas mulheres que o usam porque são obrigadas.

Ficou sempre chocada quando vítimas de discriminação compactuam com essa discriminação e não estamos a falar de mulheres de mulheres desinformadas, que vivem fechadas dentro de quatro paredes, são mulheres viajadas, muitas quase independentes, conhecidas, com capacidade de serem ouvidas.

E o que escolhem fazer? Compactuar com a discriminação da mulher, com a opressão, com a obrigação de se esconderem, com a sua despersonalização, para que sejam todas iguais, sem identidade, sem personalidade, para que sejam todas equivalentes na insignificância que lhe atribuem.

Quando quem que poderia fazer algo contra a discriminação, quando quem tem voz e capacidade para chegar a muita gente escolhe o lado o opressor, algo está muito mal no mundo, quando uma marca como a Nike se coloca do lado errado da luta, deixando o lucro sobrepor-se aos seus princípios o mundo está virado do avesso.

 

Não vale a pena tentarem virar a questão ao contrário, não há volta a dar, é muito mais importante a luta contra opressão da mulher, não há nada mais importante do que a luta pelos direitos humanos.

Reitero poderiam até desenvolver o produto, com certeza não são nem serão a única marca com produtos adaptados a um mercado com exigências diferentes, mas fazer disso bandeira? Nunca, erro crasso da Nike.

As mulheres devem ter o direito de usar o que bem entendem, querem usar o hijab usem, mas não me venham dizer que a maioria usa porque quer e muito menos dizer que somos preconceituosos porque não concordamos com o seu o uso, porque o hijah pode parecer apenas uma peça de roupa, mas é muito mais do que isso, é símbolo máximo da opressão e da subjugação da mulher.

Se querem continuar oprimidas e subjugadas é uma opção vossa, mas não queiram que quem acredita na igualdade de géneros concorde com isso.

Não se pode num dia aplaudir Le Pen por recusar usar o véu e no dia seguinte aplaudir uma iniciativa destas, pode-se compreender, mas daí a aplaudir vai uma grande diferença.