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Língua Afiada

Misoginia – Não é um fantasma inventado pelas feministas

Sinto-me uma preocupada no meio da despreocupação, a minha preocupação prende-se com o avançar inacreditável de ideias extremistas de direita, fascismo, racismo, misoginia e xenofobia.

Ideais que tiverem uma injeção de combustível dada pela pandemia, que só agora começou a ser gasto, nos próximos anos viveremos uma época de euforia e descontrolo que provavelmente culminará com uma crise financeira que será a cereja no topo do bolo para o fascismo se impor.

Enquanto não estão criadas todas as condições para que isso aconteça, chegam-nos notícias de todo lado sobre abusos e discriminação.

As mulheres são vítimas da sua própria falsa moralidade, quando são as primeiras a defenderem os agressores e a culpabilizarem as vítimas.

Dois casos em que os comentários me enojam e assuntam:

"Humilhação". Mulheres-soldado a marchar de saltos-altos causam fúria na Ucrânia

Colocar mulheres a marchar de saltos é uma afronta, é uma total discriminação e é uma estupidez, nem sei como é possível isto estar a acontecer num país supostamente democrático.

Aluna impedida de realizar exame por estar "muito destapada"

Os comentários são brejeiros e machistas, sendo que muitos são provenientes de mulheres, mulheres que possivelmente ainda acham que estarem tapadas as salvará de predadores sexuais, se assim fosse as mulheres que usam burkas estariam a salvo e o que se verifica é precisamente o contrário.

Não sei como estaria vestida a aluna, mas de certeza que não estaria em biquíni ou trajes menores, e se estivesse? Isso faria dela pior aluna? Pior pessoa?

É claro que devemos adaptar a nossa indumentária ao local onde estamos, mas uma sala de exame de uma faculdade não é um santuário, a instituição tem dress code? O dress code foi comunicado aos alunos?

Recordo-me perfeitamente que na época de exames de Junho/Julho, alunos e alunas compareciam nos exames com roupas mais leves e com mais pele à vista, se existiu algum problema por causa disso? Não, nunca.

Somos ainda muito retrógradas, muito tacanhos e muito mesquinhos, que os homens se escudem neste discurso para dominar as mulheres e fazerem delas as culpadas pelas suas faltas de respeito e  falta de valores, apesar de discordar veemente, entendo a perspetiva, agora que mulheres propaguem esse discurso não é passível de compreensão, é só pura ignorância ou maldade.

Continuem a dar aos homens motivos para nos aprisionarem em “bons costumes”, continuem a dar-lhes desculpas para comportamentos impróprios, façam-se de sonsas e alcoviteiras e depois leiam livros como as Cinquenta Sombras de Grey ou vejam séries como a Sex Life enquanto lamentam a vida miserável que levam.

Queixem-se da vida, da falta de tempo, mas depois tratem os homens como reis e senhores, seres especiais que não mexem uma palha, não lhe vá afetar a virilidade, encarreguem-se da gestão da casa, das tarefas domésticas, dos filhos e conciliem isso com um trabalho a tempo inteiro, vivam e sintam-se miseráveis enquanto criticam as mulheres que não têm medo dos homens e do que eles e outras mulheres pensam delas.

E depois as feministas é que estão erradas, são as feministas as frustradas...

Até vos dizia para arranjarem uma vida, mas já que são tão castas e tão bem comportadas, arranjem louça para lavar e roupa para passar, de preferência uma pilha de camisas do marido/namorado.

O aviso às Mulheres Russas – Não tenham relações sexuais com homens de outras etnias

A deputada russa Tamara Pletnyova, presidente da Comissão para os Assuntos da Família, Mulheres e Crianças, advertiu as mulheres russas para se absterem de ter relações sexuais com estrangeiros de outras etnias que estejam no país para o Mundial de Futebol.

Segundo a mesma é para que não sejam mães-solteiras de crianças mestiças que sofrerão discriminação, ainda na mesma entrevista refere que as mulheres mesmo que se casem com homens estrangeiros, essas relações geralmente acabam mal e as mulheres são abandonadas. "Uma coisa é se os pais forem da mesma raça, mas outra completamente diferente é se forem de raças diferentes" disse.

 

A deputada, neste momento estou a fazer um esforço para não lhe dar um nome diferente, diz-se preocupada com o aumento das famílias monoparentais e recordou o “problema” dos “Filhos das Olimpíadas” termo usado para descrever, durante a era soviética, as crianças nascidas de relações entre mulheres russas e homens estrangeiros provenientes de África, da América, Latina ou da Ásia após os Jogos Olímpicos de Verão de 1980 em Moscovo.

Sinceramente os seus comentários são tão estúpidos que é difícil adjetiva-los ou analisa-los, para além o cariz altamente racista e xenófobo, ainda são conotados de um machismo atroz.

 

Para começo de conversa esta pessoa deve estar esquecida que estamos em 2018 e não em 1980 e que a Rússia apesar de não ser o país com mais liberdade do mundo está longe dos tempos da era soviética, e que os métodos contracetivos são acessíveis a todos e se as russas não os tiverem creio que os visitantes estarão prevenidos porque nos anos 80 ter um filho no outro lado do mundo provavelmente significava nem sequer saber da sua existência, em 2018 é acompanhar o parto via Skype e atualizações de progresso ao segundo no mural do Facebook.

 

Contracetivos à parte que estes podem ser falíveis, porque é que os retrógrados insistem no argumento da proteção, este argumento da intenção de proteger crianças mestiças no futuro é em si pura discriminação e é o tipo de argumento que me tira do sério, amplamente usado em Portugal pelos que são contra a adoção por casais homossexuais, que argumentam que as crianças serão vítimas de discriminação e de gozo por parte dos colegas.

Isto de se evitar a resposta eliminando a questão não faz qualquer sentido, vejamos, não há dinheiro para alimentar um grupo de pessoas, em vez de partilharmos recursos, eliminamos as pessoas, é um exemplo radical, mas acaba por funcionar.

 

A deputada deveria estar preocupada em criar condições para que todas as crianças, mestiças, azuis ou cor-de-rosa às bolinhas amarelas fossem aceites tal como são e não impedir que nascessem, querem agora regredir e matar ou segregar as crianças diferentes porque podem sofrer com a discriminação?

Não bastava este pensamento completamente absurdo e retrógrada a criatura ainda menospreza as mulheres, porque quando uma relação acaba é claro que é o homem que abandona a mulher e nunca o contrário, a mulher não tem vontade própria e decidir seguir um caminho oposto ao companheiro claramente não é uma opção.

 

É lamentável que ainda existam este tipo de declarações de pessoas com cargos importantes, mas todos sabemos que a Rússia é um caso especial, o que não entendo é como em Portugal tantas pessoas aplaudem estas declarações, chegando ao cúmulo de louvar não só a posição como a coragem de a divulgar.

 

A Natureza, o Divino Espírito Santo, o Karma, a Vida ou seja lá o que for tem um sentido de humor fantástico e vai daí resolveu pregar uma partida aos caucasianos que se acham os maiores e os mais importantes, mais desenvolvidos e inteligentes e por isso superiores na genética, os seus genes são os mais fracos e por isso os descendentes raramente são caucasianos e para tornar ainda a situação mais engraçada os mestiços, os filhos de raças ou etnias diferentes por norma são belos e atraentes, só porque sim.

Numa altura em que já se descobriu que as diferenças genéticas entre as alegadas raças humanas nem sequer justificam a classificação de raça, ainda há quem ache que com ideias xenófobas e conselhos do século passado evitará que a população humana seja uma rica, colorida e diversificada mistura.

 

Quando a nossa mente não é suficientemente inteligente para perceber que somos todos iguais por baixo da pele, o nosso instinto, o nosso desejo mais primitivo de procriar e de experimentar o que é aparentemente diferente levará a que pouco a pouco a noção de raça seja uma lenda do passado, talvez seja este instinto a salvar a raça humana da extinção, impedindo que nos aniquilemos uns aos outros, afinal no dia em que nos considerarmos todos iguais as guerras deixarão de ter sentido.

Carruagens só para mulheres? E se fossem só para homens?

E se Lisboa tiver carruagens só para mulheres? Esta foi a proposta apresentada por Joana Amaral Dias, candidata pela Nós, Cidadãos! à Câmara Municipal de Lisboa.

A proposta levantou desde logo polémica, nem se poderia esperar outra coisa, mas se a proposta fosse colocada ao contrário qual seria a reação:

 

E se Lisboa tiver carruagens só para homens?

 

Alguém propusesse isto e ficaria para sempre na lista negra dos políticos, seria o caos nas redes sociais, petições com milhares de assinaturas, manifestações pela igualdade, pedidos de demissão, pedidos de prisão e não me admiraria que sofresse um atentado, seria atacado por insultos e quem sabe levaria com uns ovos podres no próximo comício.

Estas medidas contraditórias à busca pela igualdade são contraproducentes e perigosas, há semelhança do festival exclusivo para mulheres na Suécia, a regra nunca deverá passar pela exclusão dos homens e pela segregação, como escrevi na altura não podemos cair na tentação de elevar o protesto a regra.

 

O intuito desta medida seria o mesmo, marcar uma posição, mostrar aos homens que não são dignos de privar com as mulheres, em primeiro lugar a medida penaliza todos os homens colocando-nos a todos na mesma posição, em segundo lugar tratando-se de uma separação de géneros que não contribui nada para a igualdade.

Isolar as mulheres não as protege, apensas as fragiliza, as categoriza e as exclui.

 

Como podemos querer um mundo onde as mulheres são vistas como iguais quando propomos medidas como estas que as isolam?

Num dia temos feministas que querem abolir as diferenças de género, basta recordar a recente polémica dos livros de atividade, no outro temos feministas que defendem locais específicos para mulheres nos transportes públicos.

O que se segue? Locais de diversão noturna só para mulheres? Hotéis só para mulheres? Restaurantes e bares só para mulheres? Praças, ruas só para mulheres? Empresas só para mulheres?

Afinal são todos locais onde mulheres são vítimas de assédio físico e verbal. Vamos criar ambientes seguros para as mulheres ou vamos garantir que todos os locais são seguros para as mulheres?

 

O assédio combate-se com educação, civismo, não com segregação.

Até porque não sei em que mundo tem andado Joana Amaral Dias, mas hoje há a mesma probabilidade de sermos assediadas quer por um homem, quer por uma mulher, desengane-se quem pensa que só os homens são trogloditas, as mulheres também o são, quer seja com mulheres, quer seja com os homens, já vi muitos homens serem assediados e apalpados descaradamente e ainda terem de levar com o rótulo de homossexuais por reclamarem.

Para mim é tão abusivo e desprezível ser assediada por um homem como por uma mulher, o que propõe Joana Amaral Dias para combater isto? Criar carruagens segundo a orientação sexual?

 

Nunca se poderá combater o machismo sendo-se machista, criar carruagens específicas para mulheres é assumir o machismo. A igualdade obtém-se com igualdade nunca com limitações à liberdade de escolha de qualquer cidadão ou com segregação mesmo que opcional.

Ou será legítimo impedir um homem que se sente numa carruagem onde existem lugares sentados só porque é homem? E o que fazer com os homens que escolhem vestir-se de mulher?

Esta medida só fomenta a desigualdade e o machismo, até porque não seria necessário esperar muito até que alguns homens nas carruagens mistas convidassem as mulheres a saírem para as suas carruagens exclusivas deixando-os assim mais à larga e mais à vontade.

 

Este é problema do feminismo, a falta de coerência e assertividade, não se pode num dia promover a igualdade dos géneros e no dia seguinte promover atividades, locais específicos apenas para um dos géneros.

O que faz falta há igualdade dos géneros é uma estratégia concertada com medidas eficazes e eficientes com resultados inequívocos e não com duplo significado.