Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Reclamar ou não reclamar de educadores, amas, creches e escolas.

Queremos o melhor para os nossos filhos e isso implica escolher cuidadosamente as pessoas e instituições que os acolhem, nas quais depositamos a nossa confiança, acreditando que são capazes de lhes proporcionar uma educação adequadas.

Quando existem problemas entre pais e educadores a probabilidade da maior prejudicada ser a criança é enorme, especialmente quando é pequena e não tem ainda ferramentas para se defender, é por isso que os pais, munidos de uma capacidade de encaixe brutal, colocam os interesses da criança em primeiro lugar e toleram algumas situações e agem com a maior das diplomacias, tratando tudo com delicadas pinças, não dando passos em falso como se estivessem a caminhar em cascas de ovos.

Tenho conhecimento de várias situações em que os pais se encontram de mãos e pés atados por diversas circunstâncias, num dilema entre a queixa, o protesto e a contestação e o garantir que a criança não sofra represálias, é o pior dos dilemas, é a pior das situações, porque façam o que fizerem a criança é que sofre.

Infelizmente em muitos casos as escolas, creches, instituições e infantários protegem os funcionários e em vez de tomarem medidas de proteção em relação às crianças e evitar que as situações se repitam, inventam desculpas e tentam esconder o lixo debaixo do tapete, mesmo sabendo que basta uma corrente de ar mais forte para ele voltar a aparecer.

Este comportamento das chefias faz com que os pais se sintam incapazes de fazer valer os direitos dos filhos e faz com que as pessoas que têm comportamentos não apropriados se mantenham nos seus empregos sem uma mácula, felizes, protegidos e munidos de um espírito de quero, posso e mando porque sou intocável.

E são intocáveis, porque sem o apoio das direções os pais não conseguem fazer nada, à exceção de casos graves que são facilmente objeto de prova, os pais ficam sem conseguir fazer valer os seus direitos e é por isso que alguns nem sequer protestam e têm até o comportamento oposto o de bajular e fazer as vontadinhas todas para garantir o bem-estar dos filhos.

Quando escolhemos o local para a nossa filha ficar tivemos em conta diversos fatores e depois de recebermos indicações de outros pais e da pediatra resolvemos optar por uma ama, como não conhecíamos nenhuma particular que nos inspirasse confiança optamos por uma do serviço social de amas da Segurança Social precisamente para termos algum apoio no controle da pessoa e foi a melhor opção que tomamos.

A senhora é extremamente asseada, limpa e cuida muito bem das crianças, mas tem um feitio impossível, não demoramos a perceber que era teimosa e insolente, mas tentamos sempre tratar as coisas com simpatia e com proximidade, pois acredito que as pessoas se forem tratadas de um certa forma acabam por retribuir o tratamento e assim foi e as coisas estavam a correr dentro da normalidade, até ao dia que lhe fiz um reparo, não demorei a perceber que tinha começado uma guerra, uma guerra que claramente ela está habituada a ganhar.

Claramente foi sempre ela a impor as regras e a levar os pais para o caminho que ela quer, não estava de todo à espera de encontrar uns pais que lhe dissessem, não, a filha é nossa e vai fazer como nós queremos e vai cumprir as regras da instituição que representa.

Munida do tal espírito de impunidade e da capacidade de manipulação e chantagem emocional que faz aos pais, ela própria em vez de se remeter ao silêncio e cumprir as regras, resolveu falar com os chefes, poupando-nos o trabalho a nós de fazermos uma queixa, levou em primeira mão um sermão.

Não há nada melhor do que uma chica-esperta que tem a mania que sabe mais do que os outros queimar-se a ela própria.

Perguntam-me se estou descansada ou confortável em deixar a minha filha com ela depois deste desentendimento? Claro que não, estou desconfortável, mas não tenho receio que prejudique a minha filha, em primeiro lugar porque apesar do seu mau-feitio com os adultos, ela gosta de crianças e penso que não seria capaz disso, em segundo lugar ela gosta do que faz e valoriza o seu emprego e já percebeu que se andar fora da linha arrisca-se a ficar desempregada.

Nunca coloquei em questão que a técnica pudesse ficar do lado dela, uma vez que sabia que tinha razão, mas fiquei agradavelmente surpreendida com a preocupação que demonstraram e os quão diligentes foram para resolver a situação.

Agora estaremos mais vigilantes que nunca, nós e as técnicas, e ela sabe disso é por isso que tratará impecavelmente a nossa filha e quer-me parecer que não voltará a dar palpites que não lhe competem.

O que me deixou triste é perceber que a maioria das pessoas na nossa situação optaria por fazer o que ela queria para evitar chatices, é por isso que se enchem de poder, mas não podemos ir por esse caminho as regras e as obrigações são para serem cumpridas.

A todos os pais que se encontrem em situações complicadas e que não recolhem apoio das chefias ou dos outros pais, a minha solidariedade, não é fácil, não é fácil mesmo quando temos a certeza que estamos cobertos de razão.

O escândalo do professor e as prioridades dos portugueses

OVELHA1.jpg

 

Bastou uma frase polémica para que a vida de uma pessoa fosse completamente devassada pelos polícias de serviço das redes socias, aproveitando a onda, porque o que interessa é cliques e leitores, os jornais não se rogaram em investigar e divulgar toda a informação que encontraram do professor universitário.

Primeiro é preciso esclarecer que ninguém deveria ter o direito de investigar a vida de uma pessoa só porque a mesma decidiu participar num debate televisivo, quando isto acontece o que nos estão a dizer é que devemos ser muito cuidadosos com o que dizemos e com o que fazemos, não vá alguém lembrar-se de nos ridicularizar nas redes sociais e gerar-se um movimento de escrutínio de toda a nossa vida.

 

O professor tocou em dois temas sagrados, crianças e velhinhos, são espécies protegidas, mas apenas em pensamento, pois a realidade é bem diferente do que se defende por nas redes sociais, se as crianças ainda vão conquistando alguma simpatia e dedicação, mais não seja por obrigação, infelizmente o que não faltam são pais que deixam os filhos vigiados por tablets e smartphones, aos velhinhos nem a obrigação lhes vale na hora de receberem cuidados e carinho, a maioria são abandonados e esquecidos, vivendo em solidão e muitas vezes precariamente.

É precisamente deste abandono que vem a necessidade de obrigar um neto a beijar um avô, tirando um ou outro caso de crianças que simplesmente não gostam de beijos, todas as outras beijam voluntariamente as pessoas que gostam e com as quais convivem, além disso as crianças são espelhos e retribuem o que recebem, se lhes dermos carinho e atenção é isso que receberemos delas.

A afirmação do professor pode parecer absurda, mas na verdade só assume esse carácter pela forma como foi transmitida, usadas outras palavras e não se fazendo um paralelismo tão gravoso, a reação das pessoas seria com certeza outra.

 

Beijar é uma forma de cumprimento em Portugal, é uma saudação que ao contrário de outros países e culturas é normal entre estranhos, não é preciso ter intimidade com uma pessoa para a cumprimentar com dois beijinhos, basta a conhecermos num contexto descontraído, é perfeitamente habitual encontramos um amigo e cumprimentarmos quem o acompanha de beijinho.

Beijar como cumprimento é uma norma social e por isso incutimo-la nas crianças como sendo natural e como fazendo parte da boa-educação, mas há limites, limites esses que começam quando colocamos em causa a liberdade e o espaço da criança, é aqui que os pais e restante família tem o difícil papel de julgar se a criança está a ser mal-educada ou a proteger-se de algo que não gosta.

Nem todas as crianças são beijoqueiras, nem todas adoram dar beijos a estranhos, principalmente se esses estranhos vierem acompanhados de odores estranhos e viscosidades, desenganem-se se pensam que só se afastam de velhinhos, muitas vezes afastam-se até de outras crianças, tudo dependo do aspeto da pessoa e do grau de nojo da criança.

 

Obrigar uma criança a parar de brincar para cumprimentar uma pessoa é ensinar-lhe a ser educada, obrigar uma criança visivelmente incomodada, enojada ou envergonhada a beijar alguém pode ser realmente uma violência.

Se essa violência justificará a violência que a criança infligirá mais tarde a outras pessoas, creio que não será suficiente, mas num conjunto educativo onde o amor é visto como obrigação, onde é comprado, onde a violência é praticada todos os dias seja por imposições, seja por palmadas, onde exista controlo extremo, manipulação e modelação, estão reunidas as condições para que crianças que cresçam nesse ambiente considerem aceitável controlar a namorada ou namorado, considerem normal manipula-los e compra-los e considerem normal punir com violência física.

 

As crianças são esponjas e refletem os comportamentos dos que as rodeiam, por isso é muito importante a explicar o porquê que alguns comportamentos, não basta simplesmente obrigar, é necessário contextualizar.

Existe um grande paradoxo na educação nos nossos dias, por um lado tenta-se atender a todas as necessidades e desejos da criança, tenta-se que tenha voz ativa e foi-lhe reconhecido um estatuto de vontade que nunca antes existiu, por outro lado deixou-se de fazer o inverso, de explicar o porquê das coisas, de explicar o conceito de autoridade, os pais não se podem colocar em pé de igualdade com os filhos, isso dificulta não só a sua perceção de autoridade como lhes dá uma noção errónea do que é certo e errado, há uma hierarquia familiar e se devemos dar voz às crianças, nunca as podemos deixar esquecer de que quem tem a última palavra são os pais.

 

É lamentável que um comentário num debate televisivo gere uma onda tão grande de contestação e descontentamento, estamos no fundo a falar da opinião de uma pessoa, que concordando-se ou não com ela, é necessário respeitar, uma opinião que não interfere com a nossa vida, enquanto isso são revelados todos os dias esquemas que nos prejudicam direta e indiretamente, nomeações estapafúrdias de políticos para cargos para os quais não têm competências, assistimos a penas suspensas para crimes financeiros, ao arrasto de processos de fraude e corrupção, mas o que interessa é a opinião que um professor tem sobre os netos serem obrigados a beijar os avós.

 

O que é realmente importante é devassar a vida de uma pessoa, quando todos os dias devassam a nossa com a maior descontração e tamanho descaramento que o aceitamos como boas ovelhas que somos, todas ordenadas em fila para que nos cortem a lã mesmo que isso nos deixe a tremer de frio.

 

*Imagem Leticia Lanz

 

Carta aberta aos comerciais deste mundo

Aos gestores e gestoras comerciais deste mundo,

 

([Des]larguem-me! Poderia ficar por aqui)

 

Vender é uma tarefa árdua que implica muito trabalho, esforço e dedicação, pregar porta-a-porta ou de telefone em telefone não é fácil, nem os emails vieram facilitar, porque a maioria deles vai para a pasta reciclagem sem ser aberto.

Vender não é fácil, a menos que se tenha nascido com um dom natural para vender gelo aos esquimós, mas não é por ser difícil e trabalhoso que se pode justificar e perdoar tudo.

Não, chega ali a um ponto que a nossa paciência e benevolência para com a profissão nos faz revirar os olhos e deitar fumo pela boca ao estilo banda-desenhada.

 

A nível pessoal gostava de me dirigir a dois tipos de comerciais:

Aos comerciais que fazem telemarketing, essa maravilhosa técnica de vendas agressiva.

A esses dou apenas um conselho, se a pessoa não se mostrar interessada, esqueçam e avancem para a próxima, é estatística, quantos mais contactos fizerem mais probabilidades têm de acertar numa pessoa que esteja com tempo e disposição para vos ouvir, insistir com alguém só leva a duas coisas: a perda de tempo de ambos e a irritação e frustração de ambos, não quer, não tem tempo, não está interessado, next.

 

Aos comerciais que fazem abordagens diretas em superfícies comerciais:

Não abordem pessoas que estão claramente cheias de pressa.

Não abordem as pessoas que estão carregadas de sacos, especialmente quando parecem pesados.

Nos supermercados falem com as pessoas à entrada, na saída há probabilidade de terem produtos perecíveis e ninguém quer chegar a casa com o gelado derretido.

Foquem-se nas pessoas que passeiam descontraídas, que olham para o vosso balcão e parecem interessadas, porque enquanto estão a pedinchar atenção a quem não vos quer ver nem pintados de ouro, potenciais clientes passam-vos ao lado.

Analisem antes de abordarem, não é física-quântica é bom senso. 

 

A nível profissional:

Quando alguém diz que não tem interesse, é porque não tem interesse.

Quando alguém diz que vai analisar e depois responder, aguardem pela resposta, aguardar significa esperar uns dias, não é para ligar ou enviar e-mails todos os dias a solicitar respostas.

Saibam isto, quando alguém esta a ponderar analisar a vossa proposta, quanto mais insistirem maior é a probabilidade de vos enviarem um e-mail com um garrafal – não estamos interessados.

Ninguém gosta de pessoas chatas, ter alguém a interromper constantemente o nosso trabalho não é agradável, é cansativo e muito prejudicial ao vosso trabalho.

Por melhor que seja o vosso serviço ou produto não forcem, porque nem sempre as empresas necessitam dos vossos serviços ou produtos, outras vezes não têm capacidade financeira para os adquirirem, não temos orçamento disponível, temos o orçamento fechado ou temos outras prioridades significam isso mesmo, não há disponibilidade porque existem outros assuntos mais prementes.

 

Nunca, mas nunca tentem passar por cima da pessoa de contacto, é um dos maiores erros que podem cometer, primeiro porque cada vez mais empresas disponibilizam contactos diretos de vários departamentos e segundo porque se essa pessoa se sentir melindrada irá minar-vos, ninguém gosta de ser menosprezado e pior do que isso ninguém gosta de interferências no seu trabalho. Podem ter sorte e conseguirem um novo contacto, mas na maioria dos casos serão reencaminhados para a primeira pessoa com quem falaram e não serão muito bem recebidos.

Não menosprezem quem vos dá as respostas, sejam assistentes, assessores, secretárias ou secretários, primeiro porque é falta de profissionalismo e segundo porque quem controla a agenda tem muito poder.

Num departamento com homens e mulheres não se apressem a bajular os homens, nem sempre são eles os chefes, e mesmo que exista um chefe nem sempre é ele que decide, felizmente há chefes que delegam e confiam no critério e nas capacidades dos seus colaboradores, tentem perceber quem tem mais poder de decisão e influência, mas tratem todos por igual, envolvam todos no processo.

 

Sejam educados, cordiais e respeitem todas as pessoas, arrogância, prepotência e ares de superioridade não combinam bem com estratégias de vendas.