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Língua Afiada

Onda de Ignorância é a maior de sempre em Nazaré

Alertas? A pedir para usarem máscara?

Tenham paciência, foi decretado o uso obrigatório de máscara ao ar livre sempre que não possa ser mantido o distanciamento social, por isso comecem a passar multas, é inadmissível o que se passa neste país.

Aglomerados de pessoas para ver ondas gigantes? As ondas por acaso irão acabar? É assim tão importante ver hoje e agora as ondas? Não podem esperar para o ano?

Inacreditável a ignorância e a prepotência das pessoas, sinceramente não consigo entender como é que ainda existem pessoas a desvalorizar este vírus?

Os hospitais estão à beira do limite, não tardará entrarão em colapso e depois? Vão colocar as culpas em quem?

Há situações na vida em que de nada nos vale as imposições, as regras e as recomendações, só nos salva o bom senso, a colaboração, a empatia e a solidariedade, claramente estamos a falhar enquanto cidadãos, familiares, amigos e sociedade em geral.

Não tenham dúvidas, a maior ameaça aos nossos somos nós próprios quando nos colocamos em risco e não nos protegemos.

Já não deverá haver ninguém que não conheça pessoas infetadas, a continuar assim não haverá ninguém que não conheça uma vítima.

É triste saber que pessoas que estão bem, com saúde dentro do possível, podem ser levadas de nós a qualquer momento pelo descuido de alguém.

Ontem soubemos que a avó do meu marido está infetada, assintomática, não tem problemas de saúde relevantes, mas tem 86 anos, durante os próximos dias estaremos em suspenso, porque um assintomático pode ter sintomas a qualquer momento e tudo pode mudar.

Sinto uma revolta enorme com estas situações em que as pessoas se colocam deliberadamente em perigo.

Ondas há muitas, já os nossos familiares e amigos são únicos e só têm uma vida.

 

Estamos no meio de um turbilhão e os telejornais dão relevância às eleições de um clube, nem sequer o OE teve relevância. Enfim, não é um país triste, é um país de tristes.

 

Homicidas são o espelho da sociedade.

Toda a história do desaparecimento do triatleta Luís Grilo era estranha, mas quando o seu corpo foi encontrado a história assumiu contornos surreais e que assumem agora factos que mais parecem ficção.

O crime passional motivado por dinheiro não é novidade, dinheiro e amor são as principais causas de homicídio deste sempre e é previsto que continuem a ser.

Se existiu um tempo em que ficaria surpreendia com esta notícia, hoje não me surpreendo, num Mundo em que os valores foram completamente colocados de parte, onde o dinheiro dita o caminho, não é surpreendente que se cometa um homicídio por razões financeiras embrulhadas de amor.

Não nos esqueçamos que o amor tem muitas facetas, nem sempre saudáveis, nem sempre benignas e felizes, a ideia de ficar com a pessoa amada e bem de vida, com todos os problemas financeiros resolvidos pode ser apelativa.

Felizmente que quem tem a frieza e o distanciamento necessários e a loucura e a doença de pensarem assim não primam pela inteligência, é por isso que são facilmente apanhados nas próprias mentiras, na sua própria teia.

 

Devemos olhar para estas situações e refletir se é esta sociedade egoísta, sem valores, sem escrúpulos ou remorsos que pretendemos ter, a maior crise que atravessamos é a de valores, e não julguem os puritanos ou fundamentalistas que se trata de um problema de promiscuidade ou de descrença, o problema não reside no que se deixou de acreditar, reside nas motivações e prioridades das pessoas, quando a felicidade é medida em dinheiro, sucesso e reconhecimento, quando se vive para mostrar e não para sentir o vazio apodera-se do ser humano e não há nada pior do que uma pessoa desprovida de sentido e sentimentos.

Quando valores como empatia, generosidade, compaixão, amizade, amor, ternura, companheirismo, altruísmo, entreajuda são substituídos por egoísmo, egocentrismo, narcisismo, ambição, ganância, inveja, competição não se auspiciam coisas boas para a Humanidade.

Estamos a atravessar um período tumultuoso, conturbado, delicado, as pessoas acreditam que a democracia tal como a conhecemos falhou, esquecendo-se que o capitalismo é o responsável pelo problema, não foi o sistema de valores de liberdade e inclusão, mas sim o sistema financeiro que nos encaminhou para esta situação económica débil e instável, é preciso distinguir os dois conceitos.

O descontentamento tem sido bem usufruído e explorado pelos radicais e é com receio que percebo as fações políticas extremas ganharem cada vez mais terreno, a memória coletiva e histórica nunca foram pontos fortes da Humanidade que repete sistematicamente os mesmos erros esperando fazer funcionar um sistema que nunca funcionou.

 

O que me surpreende não é dois amantes assassinarem uma pessoa para ficarem com o dinheiro do seu seguro de vida, o que me surpreende é que as pessoas sejam indiferentes a todo o mal e injustiça que prolifera no mundo, que encolham os ombros perante as diversas tragédias que assolam pessoas que tiveram o azar de nascer no local errado do Mundo, as imagens que nos chegam dos migrantes, da Venezuela, do Iémen são devastadoras, como continuamos todos os dias indiferentes a esta realidade?

Não se surpreendam com a frieza de dois homicidas frios e calculistas, todos nós carregamos o nas costas o peso de sabermos que temos tudo quando outros morrem por não terem nada, todos nós contribuímos para este sistema de valores, para o consumismo, para o despesismo, para a acumulação de riqueza de uns mesmo que isso custe a vida de tantos outros, somos egoístas, escolhemos viver alienados da realidade para conseguirmos dormir à noite, sabendo que pensar no estado do Mundo não nos permitiria viver descansados, escolhemos ser egoístas e pensar apenas no que nos rodeia para conseguirmos ser felizes.

 

O problema é que enquanto vivermos no nosso mundinho nunca seremos capazes de mudar o Mundo.