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Língua Afiada

Será que vão proibir o Comunismo?

A União Europeia colocou comunismo e nazismo em pé de igualdade, depois de o Parlamento Europeu ter aprovado em Setembro uma resolução que condena os dois regimes ditatoriais por terem cometido “genocídios e deportações e terem sido a causa da perda de vidas humanas e liberdade numa escala até agora nunca vista na história da humanidade”.

A resolução Importance of European remembrance for the future of Europe contou com 535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções, segundo a notícia do Observador que cita o jornal espanhol ABC.

 

O tema não tem sido muito falado na comunicação social, mas os partidos comunistas europeus já reagiram, o PCP publicou uma nota em que declara que esta resolução é “deplorável” e coloca as culpas do lado do capitalismo e defende a ex URSS pelo importante papel que teve na Segunda Guerra Mundial.

Este hábito de justificar os meios pelos fins é absurdo e mais uma vez só vem provar que o PCP é cego na sua ideologia, não esquecer que é o mesmo PCP que condena tudo e todos, mas mantêm-se em silêncio em relação a Nicolas Maduro e outros regimes de ditadura comunista que usam precisamente os meus métodos de perseguição a dissidentes e opositores do regime que a União Soviética.

 

A base do nazismo e do comunismo é totalmente oposta, mas isso não impediu que a cegueira e a utopia fizesse com os regimes comunistas perseguissem, deportassem e matassem milhões de pessoas, segundo o “Livro Negro do Comunismo” que foi escrito por um grupo de historiadores sob a direção do investigador francês Stéphane Courtois, o comunismo na URSS fez cem milhões de mortos, quatro vezes mais do que o valor atribuído por esses mesmos historiadores ao regime de Hitler.

Esta resolução é importante porque visa o não esquecimento do passado recente que vitimizou tantas pessoas e quase destruiu a Europa numa guerra sangrenta, a memória coletiva dos tempos penosos e catastróficos é importante para que hoje e amanhã as pessoas não se esqueçam do que o fanatismo e o extremismo podem fazer.

 

Um exemplo concreto do fanatismo da União Soviética é o desastre nuclear de Chernobyl, que se encarado de outra forma poderia ter salvado milhares de pessoas, um desastre cujas consequências perduram até hoje e ainda hoje não é possível contabilizar com exatidão o número de vítimas, os dados oficiais dizem que foram 31, sabe-se que foram milhares.

 

Todos os regimes que promovem a perseguição e que impedem a liberdade deveriam ser erradicados sob pena de um dia voltarem a prosperar e a pairar sobre nós, castrando a democracia e a igualdade, sejam eles de Direita ou e de Esquerda.

Enquanto sociedade, devido à memória coletiva mais presente, temos mais receio do nazismo e do fascismo do que do comunismo, talvez porque sabemos que o capitalismo não é compatível com o comunismo e como o dinheiro governa a Europa o comunismo não é visto como ameaça real, enquanto o fascismo convive facilmente com os donos do dinheiro e é por isso uma ameaça muito mais concreta e presente.

 

O fascismo está realmente presente e cresce com a proliferação dos partidos de extrema-direita, ameaçando a liberdade e a igualdade de todos os cidadãos, o medo da extrema-direita também passa por aqui, por perdermos valores tão difíceis de conquistar, alguns ainda estão a ser conquistados, passa pelo receio que o ódio às minorias promova a adoração a líderes com intenções obscuras de controlo e ditadura.

 

Tudo que promova o extremismo e o fanatismo, que não permita o pensamento livre, a liberdade de expressão, o voto e o direito à oposição é mau, seria um retrocesso civilizacional enorme adotarmos um destes regimes, é bom ter isso bem presente para impedir que algum dia voltemos a ser governados por qualquer um deles.

12,64% - Quando o terceiro lugar é o primeiro

O partido AfD que se intitula a Alternativa para a Alemanha foi o grande vencedor das eleições, com um resultado histórico que coloca pela primeira vez a Extrema Direita no parlamento Alemão desde a Segunda Guerra Mundial, mais do que a percentagem e o número de deputados, o que é verdadeiramente assustador é verificar que o partido tem apenas quatro anos de existência.

Quatro anos em que com propostas e slogans populistas reuniram o apoio dos nazis e de todos aqueles que quiseram fazer do voto um protesto, entre os alemães extremistas, os revoltados, os eurocéticos e os inseguros somaram quase 13% dos votos.

13% parece parco, mas não nos podemos esquecer que foi esta mistura que elegeu Donald Trump, quando o descontentamento e a necessidade de protesto ultrapassa os ideais das pessoas estamos perante um perigo eminente.

 

Não há arma mais poderosa que o medo e o medo de perderem a identidade e o controlo do país, revoltando-se contra os imigrantes e propondo uma alternativa à União Europeia é uma ideia de futuro poderosa.

Esta vitória representa uma vergonha para a maioria dos alemães, por todo lado se formaram manifestações contra os resultados das eleições, mas representa sobretudo uma rutura com o passado, a Alemanha tentou durante anos distanciar-se do nazismo, uma redenção impossível para já, é um passado demasiado terrorífico do país, o que este resultado demonstra é que uma fatia considerável dos alemães estão dispostos a aproximarem-se do passado nazi para restaurarem o que acreditam ser a sua Alemanha.

 

Durante a campanha foi possível ouvir Alexander Gauland a enaltecer "o desempenho dos soldados" do exército de Hitler e alguns candidatos do AfD fizeram mesmo comentários revisionistas sobre os factos da Segunda Guerra Mundial e apelidaram Angela Merkel de "traidora da pátria", o partido questiona o arrependimento e diz que é hora de devolver a Alemanha aos alemães.

 

As crises, o descontentamento, a insegurança e a incerteza quanto ao futuro fazem com que as pessoas recuem aos instintos básicos, depois das necessidades fisiológicas a nossa segunda prioridade é a segurança, se pressentimos que esta pode ser afetada somos capazes de regredir até ao nosso estado mais primitivo para garantir a nossa sobrevivência.

O conceito de sobrevivência, segurança e bem-estar evoluiu muito ao longo dos anos, seria de esperar que o nosso instinto tivesse ficado relegado para situações extremas, mas o medo é um rastilho poderoso e faz com que o instinto, a necessidade de segurança se sobreponha à razão e à lógica.

 

Em períodos conturbados como o que atravessamos, especialmente após um período de franco crescimento e harmonia, aparecem naturalmente os ideais extremistas como salvadores da pátria, a história apresenta-nos diversos exemplos, alguns bem recentes, mas a Humanidade só tem memória do que vive, só acumula experiência do que experiencia e teimamos em não aprender com os erros do passado.

 

Nenhum sistema extremista resultou até hoje, a Democracia pode não ser a situação ideal, mas ainda não criaram nenhum sistema melhor e mais justo, o problema não reside no sistema democrático, reside no sistema financeiro, mas não interessa que as pessoas questionem o Capitalismo, pois independentemente do regime político o sistema funciona, adapta-se.

Nas eleições alemãs a vitória foi da memória que teima em esquecer a história, que teima em querer seguir um caminho que nunca conduziu a um futuro promissor ou brilhante, apenas à destruição, à exclusão, à guerra e à desolação.

 

Em política nunca os fins justificaram os meios, é bom que os cidadãos europeus tenham sempre presente esta ideia e não se deixem iludir por ideias grandiosas de pátria, nacionalismo e identidade que andam de mãos dadas com censura, segregação, xenofobismo, submissão, intolerância e tirania.

Mundo virado do avesso e a insegurança

Duas semanas de férias em que o fluxo noticioso não é constante, quando nos inteiramos de tudo, sentimos que o mundo está virado do avesso.

Por entre desgraças e notícias preocupantes teria um sem fim de assuntos sobre os quais me debruçar.

Na Síria ultrapassaram todos os limites e usaram armas químicas, o precipitado de serviço faz exatamente o que tinha previsto, toma uma atitude irrefletida e impulsiva por conta própria e decide atacar, Donald Trump a ser Donald Trump. Veremos se a Rússia não é tão precipitada.

Mais um atentado na Europa, há uma crescente sensação de insegurança no velho continente e infelizmente parece que os dias de paz e tranquilidade estão perto de extinção.

Confesso que durante a viagem a Barcelona, nos aeroportos e em locais mais movimentados senti algum receio, a ideia de um atentado cruzou-me várias vezes o pensamento, algo que há uns anos seria impensável.

Há muito que existe uma guerra mais ou menos silenciosa entre o extremismo e a liberdade, quando para se combater o extremismo se recorre a ideais extremistas é uma questão de tempo até estalar uma guerra.

Querem que nos sintamos inseguros no nosso continente, no nosso país, não descansarão até que nos sintamos inseguros na nossa própria casa, esse é o plano.

Enquanto nos distraem com suspeitas e ódio aos migrantes, mexem na surdina os cordelinhos para um plano muito maior e audaz, mas o povo anda distraído.

O que desejo é que a situação não piore de tal forma que todo o povo tenha consciência dela, deixem-nos andar sorridentes e despreocupados, que a vida é muito curta para ser vivida em constante sobressalto.

Aos que já estão sobressaltos deixo a minha empatia, é uma sensação estranha sentir um calafrio constante provocado pela insegurança, um medo inconsciente que sentimos e que não sabemos bem como explicar.

É como andar de avião, sabemos que é seguro, mas que às vezes acontecem acidentes e por isso não deixámos de sentir um arrepio sempre que nos lembramos que se o avião se despenhar não há nada nem ninguém que nos possa salvar.