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Língua Afiada

Fogo-de-artifício regressa à Eurovisão

Do primeiro lugar para o último foi assim a trajetória de Portugal na Eurovisão, nem o facto de sermos o país anfitrião fez com que os júris e públicos dos diversos países dessem votos de simpatia a Portugal.

Não se pode dizer que tenha sido um choque, já estamos habituados a este cenário e a organização e apresentação do festival foi tão boa e elogiada que a música portuguesa a concurso foi relegada para segundo plano.

Seria a música tão má que merecesse ficar em último? Claro que não, a música até é bem melhor que a música vencedora, essa sim nem lugar deveria ter na final, mas o público é que manda e fez dela a vencedora.

 

O que correu mal a Cláudia e a Isaura?

A performance e a interpretação, não é preciso fogo-de-artifício mas é necessário dar corpo, volume, intensidade, cadência à música, O Jardim não soube cultivar as flores, faltou que fosse regado para florescer e captar a atenção, faltou a magia que a música Amar pelos Dois teve que fez com que chegasse a todos os corações, O Jardim bateu à porta mas não entrou e foi facilmente esquecido. A música é bonita, mas carece de intensidade e paixão para ser marcante.

 

Este ano a ausência de ecrãs fez com que os intérpretes tivessem performances diferentes do habitual, assistimos a um pouco de tudo desde uma apresentação teatral da Moldávia aos verdadeiros e fantásticos vídeo-clips do Chipre e da Suécia.

As músicas na sua generalidade não eram más, gostei de várias, o que não costuma acontecer, isso traduziu-se nos votos com uma votação imprópria para cardíacos, muito diferente da votação de 2017 onde os irmãos Sobral ganharam em todas as frentes.

 

Confesso que quando se começaram a alinhar os favoritos estava a torcer pela Suécia, quando a Suécia começou a perder terreno comecei a acreditar que a Áustria podia ser a grande vencedora, já quando só restavam dois concorrentes fiz figas pelo Chipre, uma vez que acho a canção de Israel horrível.

Ganhou Israel, que desilusão.

 

Não entendi os agradecimentos da cantora, diversidade? Mensagem? Não acho a música nem inclusiva, nem com uma mensagem forte, nem sequer pode ser considerada uma música feminista, quando recorre a tantos estereótipos, Barbie? A sério? Não havia necessidade.

A música até pode ser um hit, mas é completamente descartável, como tantas outras que já animaram os nossos verões e depois se esquecem sem deixarem saudades.

Nem a interpretação ou a voz de Netta fazem dela merecedora do microfone de cristal, a concorrente do Chipre, embora a música não fosse das melhores, teve uma interpretação fantástica onde demonstrou ter uma bela voz e uma energia ao nível de um artista de topo cantando enquanto executava uma complicada e milimétrica coreografia.

A vitória de Israel na minha opinião foi altamente injusta.

 

Não pude deixar de me lembrar ao longo do programa de Diogo Piçarra, em primeiro lugar porque acho que representaria muito melhor Portugal, em segundo lugar porque foram tantas, mas tantas as músicas que soavam familiares, não tive ainda tempo para fazer comparações mas que existiram muitas músicas demasiado inspiradas em outras não tenho dúvidas.

 

Quanto à suposta mensagem da música Toy, a música é mesmo isso um brinquedo para uma piada de muito mau gosto, têm dúvidas? Deixo-vos a tradução.

Brinquedo by Netta Barzilai

Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá

Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá

Olha para mim, sou uma criatura linda
Não me importo com a tua pregação moderna
Sejam bem-vindo meninos, barulho de mais, vou ensinar-lhes
Pám pám pá hu, turrám pám pá hu

Ei, acho que te esqueceste de como jogar
O meu urso de peluche está a fugir
A Barbie tem algo a dizer
Hey

Ei! O meu rei manda que me deixes em paz
Levo o meu Pikachu para casa
És estúpido, como o teu smartphone

Mulher Maravilha, nunca te esqueças
De que és divina e ele está prestes a arrepender-se
É um rapaz có-có-có-có, có-có-có-có
Có-có-có-có, có-có-có-có
Não sou o teu có-có-có-có, có-có-có-có

Não sou o teu brinquedo (o teu brinquedo, não)
Rapaz estúpido (rapaz estúpido)
Agora vou derrubar-te, fazer-te assistir
A dançar com as minhas bonecas ao ritmo do c...alho
Não sou o teu brinquedo (cululi, cululu)

Nã-nã-nã-não sou boneca
Nã-nã-nã-não sou boneca

(Cululi, cululu) Sinos de casamento a tocar
(Cululi, cululu) Homens do dinheiro bling-bling
Não me importo com o teu dinheiro, rapaz
Pám pám pá hu, turrám pám pá hu

Mulher Maravilha, nunca te esqueças
De que és divina e ele está prestes a arrepender-se
É um rapaz có-có-có-có, có-có-có-có
Có-có-có-có, có-có-có-có
Não sou o teu có-có-có-có, có-có-có-có

Plágio ou Coincidência – Diogo Piçarra

No ano passado tivemos o Salvador Sobral a passar de besta a bestial, este ano temos o Diogo a passar de bestial a besta e o Festival ainda vai no adro, nem sequer chegou à Igreja, ou será que chegou?

Segundo algumas pessoas a Igreja é que chegou ao Festival pelo plágio de uma música da IURD, com tantas religiões para copiar, o Diogo foi escolher a IURD essa instituição prestigiada e sem máculas na sua reputação.

A explicação do Diogo pode parecer estranha, pois não explica nada, mas para mim faz algum sentido, faz porque assim que ouvi a música fui remetida para os tempos em que cantava no coro paroquial, o estilo, o sentimento, a forma como se pronunciam as palavras e o purismo da música lembram precisamente os cânticos do culto católico.

E não recorda uma, mas várias músicas, para além desta recordação há outra que me surge a ouvir a música, no entanto, não consegui identificar o autor, mas recorda-me uma música portuguesa da infância, quando deixar de pensar no assunto talvez o tema se avive na minha memória.

 

A música situada entre o espiritual e a canção de embalar, sofrida e emocional é o regresso a um estilo antigo, é por isso normal que nos desperte recordações e sentimentos antigos.

Não sou fã do Diogo Piçarra, não lhe reconheço uma voz espetacular, mas como músico e compositor reconheço-lhe o talento, mesmo não tendo um estilo que me diga muito, conseguiu um lugar ao sol num mundo altamente competitivo, onde há mais talentos que lugares.

A música toucou-me, talvez pelas recordações, talvez pelos instrumentos, sou particularmente sensível a violinos e violoncelos, a letra é bela e atual, parece escrita para os dilemas que se atravessam no mundo, em especial os criados por Donald Trump, não creio que o autor tenha necessidade de plagiar e que se arriscasse a fazê-lo numa competição da Eurovisão, familiarizado com às redes sociais porque correria ele esse risco? Faz algum sentido plagiar uma música que está disponível no Youtube? Não me parece.

 

A verdade é que há várias músicas parecidas, na melodia e na forma de interpretação, para classificar-se ou não de plágio terá de ser alguém com conhecimento para o fazer, ao primeiro som parece ser uma cópia, a IURD também plagiou a música “Open Our Eyes” de Bob Cull, tenho dúvidas que Diogo Piçarra arriscasse o plágio, mas que são parecidas as músicas são, aquele toque dos olhos vendados e a música original chamar-se “Open your eyes” é a pior coincidência de todas.

 

Aguardo as opiniões dos especialistas, mas a ouvido nu, são demasiadas, demasiadas semelhanças, mesmo que a lógica me leve a dizer que é apenas coincidência.

 

A do Diogo

A da IURD

A de Bob Cull

 

 

Não comparem a vitória do Benfica à visita do Papa e à vitória do Salvador

 

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Entendo que seja fácil cair na tentação de juntar os acontecimentos, mas a visita do Papa Francisco, a vitória do Benfica e a vitória do Salvador não cabem no mesmo saco.

Porquê?

 

Porque simplesmente são coisas totalmente diferentes, especialmente porque não somos todos benfiquistas, não somos todos católicos, mas somos todos portugueses, embora às vezes alguns pareçam estrangeiros.

O Benfica foi campeão, parabéns, é algo que estamos todos habituados, não é propriamente novidade que o Benfica ganhe o campeonato, que seja tetra campeão, sim é novidade, mas não é propriamente um milagre ou magia, bem há quem diga que existiu magia no campo, há quem diga que existiu magia da arbitragem, de qualquer forma apesar de ser inédito para o Benfica, o que confere a unicidade ao feito é o clube que dizem ser o melhor de Portugal ter demorado tantos anos a consegui-lo, mas todos sabíamos que seria apenas uma questão de tempo.

 

A visita do Papa é importante para Portugal, mas é apenas importante para quem tem fé, nem sequer é para os católicos porque há muitos que se dizem católicos que não têm fé, bem vistas as coisas para os funcionários públicos também é importante, porque é sempre de louvar um fim-de-semana prolongado, palmas para as autarquias que souberam fazer distinção entre o que é necessário e o que não é e não deram a tolerância.

Apesar de nutrir um carinho especial pelo Papa Francisco e pela forma como deu um novo ruma à Igreja Católica a visita de um Papa ao Santuário de Fátima não é nenhum milagre, nem nenhum facto extraordinário, se querem referir alguma coisa extraordinária relacionada com a religião refiram o centenário das Aparições e a canonização de Jacinta e Francisco, a visita do Papa é só um reforço da comemoração, não é a comemoração em si, pena que a maioria das pessoas se tenha esquecido do motivo da visita e tenha-se focado apenas na visita.

 

Na minha opinião o Papa deveria visitar Portugal uma vez por semana, os 708 mil euros apreendidos dão imenso jeito aos cofres do Estado, as 46 armas sempre dão uma ajuda para repor o stock roubado e os 36 kg de droga também darão jeito a alguém, podem por exemplo fazer sticks de incenso para colocarem nos balcões das finanças, contribuintes e agentes da autoridade agradecem ambiente zen.

Mas como o Papa Francisco tem mais do que fazer e os funcionários públicos também, mas podem sempre fazer estas operações de controlo por rotina, é só uma sugestão, teríamos todos a ganhar com isso.

 

Mas o dia 13 de Maio ficou marcado pela vitória de Salvador Sobral na Eurovisão, dia 13 em Portugal porque os manos só souberam que eram vencedores no dia 14, já que na Ucrânia já era dia 14, mas parece que ninguém se apercebeu disso.

Preciosismos à parte, o que é que a vitória do Salvador tem a ver com a vinda do Papa e com a vitória do Benfica?

Absolutamente nada e porquê?

 

Porque Portugal ganhar a Eurovisão está para a igreja como uma nova aparição, caso raro e digno de ser chamado de milagre.

Porque Portugal ganhar a Eurovisão está para a música como Portugal ganhar o Europeu de Futebol para o Futebol.

 

Entendem a diferença?

Não misturem e acima de tudo não tirem o protagonismo aos irmãos Sobral, foi muito mais do que uma vitória de Portugal, foi uma vitória da nossa língua, da nossa cultura, da nossa identidade e acima de tudo foi uma vitória da música e para a música.

Esta enorme conquista não se esgota na vitória, mas numa profunda reflexão em particular sobre o rumo do festival e sobre a música no geral.

Esta vitória tem repercussões incalculáveis para a música portuguesa e para a marca Portugal, o nosso país está nas bocas do mundo e desta vez não é por causa da TROIKA, mas pelo que fazemos bem.

Da minha parte um imenso obrigado aos irmãos Sobral por me fazerem vibrar com o Festival da Eurovisão, regressei à infância quando seguia religiosamente o Festival, ao sofrimento de esperar pelo resultado com a enorme diferença que desta vez a desilusão deu lugar a uma enorme felicidade, a uma euforia desmedida, um daqueles raros momentos em que sentimos uma vitória como nossa, sofrida, merecida, há tantos anos almejada.

 

Obrigada Luísa Sobral pela música, obrigada Salvador Sobral pela belíssima interpretação.

Não amaram por dois, amaram por todos os portugueses.