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Língua Afiada

Coisas maravilhosas da gravidez vs coisas horrorosas

Estes últimos dias têm sido uma correria, uma correria daquelas boas, mas muito cansativa, ao longo destes tempos atribulados fui arrumando um sem fim de temas para ir escrevendo, mas infelizmente não tive tempo para me debruçar sobre eles e por isso resolvi criar uma lista mental para facilitar, provavelmente esquecer-me-ei de vários, listas mentais na gravidez não são as mais funcionais, mas aqui ficam as constatações mais fantásticas, parvas e hilariantes que eu me consigo lembrar agora:

 

O maravilhoso que se dane!

É sem dúvida a caraterística mais maravilhosa, não me importo (quase) com nada, desligo, passo à frente, esqueço, encolho os ombros, tudo é relativo comparado com a responsabilidade de ter um ser a desenvolver dentro de mim e por isso mando tudo às urtigas se for preciso e é tão bom! Já era um pouco assim, agora é só espetacular ser ainda mais.

 

As horrorosas das hormonas!

Não há bela sem senão e eis que até nos dias que mando tudo às urtigas consigo ser invadida por uma bomba hormonal incontrolável e se desato a chorar por alguma coisa é um pranto difícil de terminar. Não imaginam o que isto me irrita, é possivelmente a pior parte de estar grávida não controlar as emoções.

 

Ter um ser dentro de nós!

Sentir o bebé mexer é duma sensação fantástica, primeiro estranha-se e depois entranha-se e se passa muito tempo sem se mexer fico preocupada, felizmente sinto o coração dela na pele e por isso a preocupação dura 2 segundos, podia passar horas a fazer festinhas na barriga e a senti-la.

 

Ter uma contorcionista dentro de nós!

É tudo fantástico quando ela não decide enfiar-se num recantos mais estranhos do meu corpo ou espetar os pés com tanta força que dou saltos e isto pode acontecer a qualquer hora, mas a dormir é quando ela gosta mais de se esticar, porque não gosta que eu esteja quieta e estou convencida que faz de propósito, tão pequena e já quer mandar.

 

Ver a barriga crescer!

É giro e dá até um certo orgulho, parvo, porque é normal que a barriga cresça, mas é uma sensação boa perceber a mudança no nosso corpo, é gratificante, tinha de ser, mas já lá vamos.

 

Perder a flexibilidade e a noção do espaço!

Que barriga tão linda! É linda porque não é tua! Não é nada fácil andar com um peso extra acoplado e ter um volume desconhecido, primeiro canso-me imenso, segundo perdi completamente a noção do espaço que ocupo e terceiro esqueço-me frequentemente que não consigo fazer certos movimentos, meu rico vestido de bolinhas, tão lindo esventrado por um calçar de botas.

 

A maravilha dos vestidos!

São só a peça mais espetacular para mim, soltinhos, não apertam, disfarçam o rabo gigante e evidenciam a barriga, na brincadeira até já disse que me visto com mais estilo agora do que antes, é que os vestidos são realmente a peça que melhor veste a mulher.

Uma nota importante a que quem diz que devemos comprar pouca roupa porque passa rápido - estão redondamente enganados! É precisamente o contrário precisamos sentir-nos bem, bonitas e arranjadas e andar a catar roupa não faz nada pela nossa autoestima e mais se querem tirar fotos têm de ter roupas bonitas e que vos fiquem bem e mesmo assim nem sempre há disposição. Não sabemos quantas vezes estaremos grávidas e só faz bem sentirmo-nos bem e bonitas durante a gravidez só assim conseguimos sentir-nos orgulhosas de uma barriga gigante.

 

O stress da roupa!

Juro que nunca mais digo que tenho pouca roupa, há por aí quem diga que as mulheres depois de terem filhos compram para os filhos em vez de comprarem para elas, isto é muito simples depois de na gravidez tudo nos deixar de servir quando voltamos ao nosso normal é natural acharmos que temos muita roupa, acredito que durante um bom tempo não sintamos necessidade de comprar nada para nós. (Tenho para mim que serei a exceção a julgar pelos últimos tempos, veremos…)

 

Juntar as pernas!

Que situação mais incómoda, não estava preparada psicologicamente para sentir a carne de uma coxa a colar na outra, não imaginam a confusão que isto me faz! Lidar com os kg a mais tem sido complicado, não estou habituada a tanto volume, bem sei que poderia ter engordado menos, mas nem é pelo que como é mesmo porque devia fazer mais exercício, mas adivinhem? Não tenho tempo!

 

Os intestinos!

Os meus sempre foram mal mandados, preguiçosos e muito chatos, agora ficaram muito pior, pois, mas são tão sensíveis, coitadinhos, nem as saquetas toleram, vão do 8 ao 80 em 30 minutos e por isso é comer verduras e rezar para que tudo corra bem, não corre.

 

A prioridade!

É fantástica e terrível, tenho usado pouco mesmo que a minha barriga já chegue primeiro do que eu a qualquer lugar, no supermercado tenho procurado a fila com menos pessoas e não peço, já nas lojas tenho usado porque se já me custa andar às compras, ficar parada na fila custa ainda mais.

Nota às pessoas que nos olham de lado – as grávidas também comem, também se vestem, também dão presentes e têm direito a sair de casa e a usar a prioridade, eu sei que é uma chatice mas é a lei, azar. E podem dar graças a Deus que as grávidas até dispensam ir para as lojas e até despacham muita coisa online, mas há coisas que só vendo e por isso tenham lá paciência ou metam rolhas porque vamos às compras sempre nos apetecer e até quando não nos apetecer porque é preciso.

 

O sono e cansaço!

Tenho tido uma relação difícil com o sono, ando sempre com sono, mas quando chega a hora de dormir não adormeço ou porque tenho insónias ou porque a bebé não para de se mexer, este fim-de-semana consegui dormir 8h seguidas e foi como se tivesse dormido 24h, nem parecia a mesma quando acordei. As saudades que eu tinha de acordar com energia.

Canso-me muito mais e é uma seca, é difícil lidar com isso porque sempre fui muito enérgica e as limitações decorrentes da gravidez com o avançar da gestação são muito incapacitantes.

 

O mundo cor-de-rosa!

As roupas de bebé são lindas, fofinhas (e caras!), ir comprando as roupinhas é delicioso e estou certa que me levará à falência e se estava a contar ter um travão, esqueçam, se for para comprar coisas fofinhas acho que o pai ainda se alarga mais do que eu, graças a Deus pelos saldos. Ainda não consegui encontrar aquela que irá ser a primeira roupinha, se tiverem dicas de lojas por favor indiquem, mas que não me custem os olhos da cara.

 

Na verdade não me posso queixar, estou a ter uma gravidez muito tranquila e o mais importante é que tanto eu como a bebé estamos bem e saudáveis, confesso que já tenho imensa vontade de a conhecer, mas para já espero que se mantenha no quentinho por mais 9 semanas.

De mãe desnatura a familiar, amiga e blogger desnaturada

Mas uma profissional esmerada…

As coisas parecem ter finalmente acalmado, felizmente, porque não tenho conseguido dormir bem e sinto-me cansada, um cansaço que desconhecia, diferente, é até um cansaço feliz, mas não deixa de ser cansaço.

Entretanto estamos em cima do Natal, estamos a três meses da data prevista do nascimento e não está nada decidido, nada resolvido, nada tratado, sinto-me numa espécie de limbo entre a realidade e ilusão, onde o tempo passa e eu não o consigo reter, aproveitar, usufruir.

Sinto-me em falta comigo, com a família, com os amigos e com praticamente tudo o que me rodeia, falta-me energia, a energia que sempre me caraterizou e moveu.

Quando trocamos datas de consultas, nos esquecemos da placa vitrocerâmica ligada e não conseguimos realizar metade das tarefas propostas para o dia, é altura de colocar em perspetiva as nossas prioridades, o blog foi um dos projetos descurados, simplesmente ficou sem lugar na lista de prioridades.

Gostava muito de alterar este cenário, mas não sei se conseguirei encaixar o blog nesta fase da minha vida, simplesmente tenho demasiado em que pensar.

Na minha vida, na nossa vida, é normal acontecer tudo ao mesmo tempo e este ano foi o maior exemplo disso, aconteceu tudo em simultâneo, junto com o nosso maior projeto pessoal aconteceram também projetos profissionais, muitas oportunidades que tiveram de ser agarradas com ambas as mãos, paixão e dedicação.

As últimas 3 semanas foram caóticas, gratificantes, mas caóticas, peço desculpas a quem não consegui dar a atenção devida, mas trabalhar das 8h às 24h não nos deixa muito tempo para respirar, espero conseguir organizar-me agora para colocar tudo em dia e pelo menos não descurar as pessoas, que são o mais importante da vida.

Infelizmente o tempo por mais que queiramos não chega para tudo e há sempre algo que fica por fazer, mas não queria pelo menos deixar de vos dizer que sinto saudades deste cantinho, de vocês, das vossas palavras, das vossas partilhas, de vos ler, espero em breve ter mais tempo para colocar a leitura e a conversa em dia.

Mãe Desnaturada #2 – A baixa médica

Apesar dos kg que tenho a mais, nem sei quantos porque resolvi deixar de me pesar, de perder o fôlego a subir escadas e da azia que parece ter vindo para ficar, sinto-me bem, quem não me conhecer até é capaz de nem se aperceber que estou grávida, nas filas de supermercado por exemplo ninguém parece reparar, já na pastelaria do mesmo supermercado a funcionária reparou logo e decidiu oferecer-me o menu café com pastel de nata, pareceu adivinhar que me estava a fazer falta um docinho.

Resumindo, estou fisicamente bem, já psicologicamente apresar da lentidão inicial ter melhorado, ainda não voltei ao meu estado normal e as saudades que sinto dele, faz-me falta a mente aguçada, adiante, estou bem dentro do possível e por isso não consigo entender porque me estão constantemente a perguntar quando entro de baixa.

 

Acreditem que algumas pessoas disseram-me para entrar de baixa assim que souberam que estava grávida, mas o que estranhei mesmo foi ser a obstetra a perguntar o mesmo na semana passada. O que aconteceu à célebre frase a gravidez não é doença?

Ok, a médica estava preocupada com o cansaço que podia estar a sentir, é bem verdade que as noites já não são tranquilas como antigamente, supostamente até ressono, o quê?|Eu ressonar?! Mentiras, calúnias do meu marido! Nem tão pouco consigo dormir 10h seguidas, as saudades que eu tenho de uma cura de sono, não vale a pena ter ilusões isso é passado, agora porque a bexiga não o permite, depois provavelmente será a minha filha a não permitir, por mais anjinho que seja, tenho a certeza de que será, terá sempre necessidades para suprir.

 

O que acho estranho é a atitude de outras mulheres, bem sei que até dá jeito estar por casa para preparar um sem fim de coisas, no nosso caso temos mesmo muitas alterações a realizar na casa, mas passar 6/4 meses a preparar a vinda do bebé parece-me um exagero, a mãe já estará bastante tempo dedicada à cria quando ela nascer, aliás já estou a preparar-me para o facto de uma ida ao médico ou à farmácia serem eventos espetaculares porque irei sair de casa para apanhar ar, por isso não consigo entender esta fixação com o estar em casa também antes.

 

Gosto de manter a mente ocupada e ativa, se já me sinto lenta a trabalhar, não quero imaginar como seria se parasse a minha atividade profissional, provavelmente alguns neurónios iriam falecer por falta de uso, assim ao menos obrigo-os a exercitar na esperança de recuperarem o vigor depois de a bebé nascer.

Nem todas as mulheres se sentem da mesma forma durante a gravidez, para além das complicações que podem surgir que obrigam a descanso e repouso, algumas ficam tão doentes com enjoos, azia ou privação de sono que não têm outra solução se não ficarem de baixa médica, é bom que assim seja, a mãe tem de estar bem para a gravidez decorrer com normalidade.

 

O que não é normal é grávidas visivelmente bem e saudáveis, encantadoras, bem-dispostas, alegres e contentes meterem baixa só porque é paga a 100% e depois andarem a laurear a pevide por esses shoppings fora em maratonas de compras.

Estão a ver a cara do vosso patrão ou chefe ao vos encontrar nesses preparos quando supostamente estão com gravidez de risco? Algumas são tão corajosas que não se coíbem de publicar passeios e viagens nas redes sociais.

Há exceções, profissões que exigem a pausa seja por serem fisicamente exigentes, seja pelo alto nível de stress, ninguém quer uma grávida constantemente à beira de um ataque de nervos, não é bom para a grávida, nem para a empresa.

 

É por muitas mulheres usarem e abusarem desse direito que depois muitas vezes grávidas que necessitam efetivamente de baixa são malvistas e criticadas não tenham dúvidas, já sabem como são as pessoas, conhecendo uma grávida que se aproveita da situação, passam a achar que todas o fazem não por necessidade, mas por aproveitamento.

 

Devo ser uma grávida desnaturada para muitas pessoas, porque quando me falam em baixa, reviro os olhos, seria incapaz de estar de baixa sem ser por necessidade, não me consigo imaginar a estar tanto tempo sem trabalhar, não digo que depois de ser mãe não vá dizer que não se importava de tomar conta dos filhos a tempo inteiro, duvido, mas nunca se deve dizer nunca.

Presentemente, sinto-me bem a trabalhar, a ter uma ocupação, a manter-me ativa, apesar de a gravidez ser a prioridade, não é toda a minha vida e espero que o meu estado de saúde me permita continuar assim até ao parto.

O que poderia ser interessante era a possibilidade de as grávidas terem uma redução de horário, ficavam todos a ganhar, o Estado que teria de pagar menos e as empresas que não ficariam sem uma colaboradora a tempo inteiro. Digo isto porque trabalhar 4 ou 6 horas não é o mesmo que trabalhar 8.

 

É importante respeitar as grávidas que necessitam de estar de baixa, mas também é importante respeitar as grávidas que optam por não o fazer, seja por sanidade mental, seja por necessidade, há empregos que uma ausência tão longa se torna uma complicação, o importante é aceitar as decisões de cada uma e não julgar a capacidade e a dedicação de uma mãe pelo tempo que passam em casa à espera do seu bebé.