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Língua Afiada

A irresponsabilidade jornalística nas peças sobre vacinação

Que o jornalismo tem deixado muito a desejar estamos cansados de saber, é triste, mas a luta constante por fundos, angariação de publicidade, faz com que sejam disparadas notícias abruptas com títulos chamativos, muitas vezes que não relatam sequer o conteúdo da notícia, tudo se faz pela venda ou pelo click.

Mas há limites para tudo, especialmente para a irresponsabilidade, quando uma publicação duvidosa publica um título escandaloso já não estranhamos, mas há publicações que nos inspiram mais confiança, que temos como credíveis, a essas não podemos perdoar a irresponsabilidade.

É o caso da notícia avançada hoje pelo jornal Público:

“É mais difícil tomar a opção de não vacinar um filho, mas estou segura do que fiz”

 

É o título do texto, que não é propriamente uma notícia, mas uma espécie de entrevista.

É importante que os meios de comunicação escutem ambos os lados e tenham uma atitude imparcial, mas este título não é imparcial, é totalmente parcial, algo como - A visão de quem opta por não vacinar - seria o correto, este ou tantos outros menos tendenciosos, mas quem sou eu para ensinar um jornal a escrever títulos.

A piorar vem o subtítulo:

«“Decidiram não dar nenhuma vacina aos filhos. Como se protege um filho assim? Tanto Eugénia Varatojo como Manuela Ferreira falam da importância de reforçar o sistema imunitário e manter um estilo de vida equilibrado e saudável.”»

 

A entrevista está carregada de pérolas de ambas as mães:

 

«Tiveram varicela e sarampo ainda na infância. “Curiosamente apanharam as doenças com crianças vacinadas, mas em casa e com tempo recuperaram e eu não culpo os pais dessas crianças”, diz Eugénia.»

 

Não culpa os pais das crianças vacinadas? A sério que não? E porque os culparia? A vacina não elimina a possibilidade de contrair a doença apenas diminui os seus efeitos em caso de contágio.

 

«“E como se protege um filho que não está vacinado? Tanto Eugénia como Manuela falam em reforçar o sistema imunitário e em manter um estilo de vida equilibrado e saudável.”»

 

Reforçam o sistema imunitário fazendo o que a maioria dos pais informados fazem, dando-lhes uma alimentação saudável, mas será que nos estão a contar tudo?

Ou os seus filhos tiveram apenas a sorte de ter um sistema imunitário bom, eu tomei todas as vacinas e nunca fiquei doente, era uma criança extremamente saudável e espantem-se nem sequer bebi leite materno, até ao dia que o meu sistema imunitário foi afetado pelo vírus da hepatite A, a alimentação e o estilo de vida saudável de nada me valeram, sucumbi ao vírus que deixou sequelas no meu fígado até o mesmo estar totalmente formado, até aos 16 anos tive que evitar uma série de alimentos porque me faziam dores de barriga.

 

«Manuela diz não perceber as críticas que lhe são feitas. “Se virmos bem, quem está em maior risco até é a minha filha que não está vacinada e, por isso, não vejo que esteja a pôr ninguém em risco. Dar-lhe as vacinas também não era garantia de que não tivesse as doenças. Não gosto quando se fala em passar a ser obrigatório darmos as vacinas. Eu não sou dona da minha filha, mas sei tomar as melhores opções para ela.”»

 

Não vê onde possa estar a por em risco as outras crianças, que não vê já nós sabemos se visse teria vacinado.

Apesar da extensa pesquisa que diz ter feito, não deve ter percebido o mais importante como funcionam as vacinas, o objetivo não é eliminar a possibilidade de contrair a doença mas limitar os seus danos, mais uma vez batemos na mesma tecla a falácia do – as vacinas não evitam as doenças.

 

«“Ainda assim, Manuela admite que possa vir a rever a sua posição em casos particulares, como uma viagem para países tropicais, com doenças mais graves.”»

Doenças mais graves, mais graves porque as pessoas desses países não têm acesso a vacinas, mas por acaso alguém já parou para pensar o que aconteceria se ninguém tomasse vacinas?

 

O que falta a estes pais e à população em geral?

Memória, memória das mortes por sarampo e as sequelas cerebrais irreversíveis que ele deixava.

As pessoas têm de entender que enquanto existirem pessoas não vacinadas os vírus não serão erradicados ou controlados, enquanto países subdesenvolvidos desesperam por vacinas para diminuir a mortalidade infantil e as más formações nos fetos, os privilegiados pelo desenvolvimento brincam com a saúde dos seus filhos e com a dos outros.

Portugal tem uma taxa de vacinação superior à europeia e tem uma taxa de mortalidade infantil inferior à europeia, nos últimos anos existiu uma forte aposta na prevenção e no programa de vacinação, acham que as duas estatísticas são mera coincidência?

Não, não são, são fruto de muito trabalho, muita investigação e muito dinheiro gasto nas vacinas.

 

Quanto aos esquemas financeiros das gigantes farmacêuticas, eles existem, mas não nestas vacinas, basta pensar mais do que dois minutos na cadeia da saúde, os valores gastos na prevenção são infinitamente mais baixos do que os valores gastos nos tratamentos, as farmacêuticas não têm qualquer vantagem em fomentar a vacinação.

Veja-se um exemplo, o Estado terá gasto 14 milhões de euros com a administração gratuita da vacina contra o cancro do colo do útero.

Segundo um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública o Estado gasta 40 milhões de euros por ano com o diagnóstico e tratamento de doenças causadas pelo HPV. Só o cancro do colo do útero custa 27 milhões de euros.

A vacina é dada duas vezes na vida, o valor anual com a vacinação diminuirá com os anos pois serão apenas vacinadas as meninas aos 10 anos e posteriormente aos 13, enquanto numa primeira fase foram vacinadas as crianças nascidas em 1995 e posteriormente as nascidas em 1992, 1993 e 1994, havendo um maior esforço financeiro do Estado.

Façam as contas o que é mais lucrativo para a indústria farmacêutica? A vacina ou o tratamento?

 

Quanto ao jornal Público, no que diz respeito a um assunto que coloca em causa a saúde pública deveria ter mais cuidado na forma como transmite a informação, pois não só importa a informação transmitida, mas a forma como é transmitida.

Faltaram ainda perguntas pertinentes e incómodas que seriam de esperar num artigo deste teor, como por exemplo como reagiriam se um dos seus filhos morresse por falta de uma vacina?

Ou onde encontraram a informação dos efeitos secundários das vacinas e que efeitos levaram a essa tomada de decisão, mas isso seriam questões incómodas e as mães poderiam não se sentir à vontade para responder.

Tratam o tema com uma leveza que chega a ser leviana quando em causa está a saúde de todos nós.

A publicidade enganosa nos canais livres

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, na sua intervenção no fórum, "Medicalização da vida e política de medicamentos", que a publicidade ao cálcio é «um comércio criminoso».

Novidades?

A publicidade ao cálcio e a todos os suplementos milagrosos que prometem resultados fantásticos a curto prazo.

As publicidades a medicamentos não sujeitos a receita médica transmitidas a meio dos programas da manhã e da tarde dos três canais livres para além de parvas e hilariantes são enganosas, dissimuladas e um engodo para os milhares de idosos que assistem a estes programas.

Em Janeiro deste ano, a Ordem dos Farmacêuticos interpôs mesmo uma providência cautelar para suspender de imediato a publicidade ao suplemento alimentar “Calcitrin MD Rapid”, um produto que promete reforçar os ossos.

Uma promessa enganosa, tendenciosa e perigosa uma vez que o consumo excessivo de cálcio pode causar diversos problemas de saúde.

Não basta incluírem estes anúncios no meio do programa como ainda transmitem testemunhos comprados de personalidades tidas como credíveis.

 

Estes anúncios estão ao nível dos concursos de chamadas com promessas de um prémio que irá melhorar as suas vidas, os nossos idosos gastam as reformas em chamadas telefónicas que não podem pagar.

1000€ que irão mudar a sua vida. Já viu o que poderá fazer com 1000€?

Pagar as faturas das chamadas telefónicas em atraso.

Para não falar dos jogos digitais sem qualquer controlo ou supervisão que podem ser facilmente adulterados.

 

Existem cada vez mais cidadãos preocupados com estes temas, mas todos sabemos que é o dinheiro que fala mais alto, com a descida abrupta do investimento publicitário em televisão em formatos e anúncios ditos normais os canais tiveram de se financiar por outras vias. Qual a solução que encontram? Três invasões e três atentados à nossa inteligência:

- Concursos de chamadas telefónicas

- Anúncios a medicamentos milagrosos ao estilo televendas

- Product placement agressivo nas novelas

 

O product placement em alguma situações é tão notório que desvirtua toda a cena, uma parvoíce a meio de um episódio aparecer alguém a falar sobre as vantagens de um produto ou de um serviço, chegam ao cúmulo de manipular e alterar as cenas para dar a conhecer algo que em vários situações não faz o mínimo sentido.

Tenho perfeita consciência que um canal de televisão é um negócio como outro qualquer cujo objetivo é ser rentável. Mas a que custo?

Num país onde grande parte da população acredita em tudo o que vê na televisão e outra grande parte acredita no que lê no Facebook, é urgente existir um maior controle destas situações.

A televisão é muito mais do que entretenimento, é informação e formação e misturar informação e publicidade de forma promiscua e descuidada não deveria ser permito.

 

Onde anda a ética?

Pelas ruas da amargura.

 

É por estas e outras situações que cada vez menos se assistem aos canais livres, será que ainda não pensaram que a vossa audiência está a envelhecer e a morrer? Irão mudar os conteúdos quando? Quando todos tivermos canais por cabo e ignorarmos completamente a programação dos canais livres

O Dia Mundial da Internet e as Tecnopatologias

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Hoje comemora-se o Dia Internacional da Internet, a data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Janeiro de 2006, visa fazer uma reflexão sobre as potencialidades e desafios das novas tecnologias na sociedade.

Muito se tem falado dos malefícios da Internet, em especial das redes socias, e a sua influência na vida das pessoas, já aqui falei da inveja aumentada pelo uso do Facebook, do ridículo que é quando a notícia passa a ser a quantidade de likes e não o problema em si, a crença que o Facebook é sagrado para as empresas.

Tenho a perceção que Internet mudou e moldou as nossas vidas, pois ainda sou do tempo em que não existiam redes sociais, não existia Google e a Internet era tão lenta que eu não tinha paciência para esperar pelos resultados do Altavista.

Como todas as grandes mudanças a Internet tem coisas boas e coisas más, infelizmente demorou-se algum tempo a perceber as más, mas já se começa a falar no assunto e a estudar as consequências, consequências essas que se traduzem em doenças causadas pelas novas tecnologias e se desigam por Tecnopatologias.

 

Techhive recolheu informação de vários estudos e identificou 8 patologias:

 

Depressão por causa do Facebook
Esta condição, que surge a partir de um estudo da Universidade de Michigan, afeta as pessoas que passam muito tempo na rede social. Baseia-se na teoria de que a grande maioria das pessoas postam unicamente boas notícia sobre si mesmos no Facebook, criando uma falsa perceção que todas as pessoas estão muito felizes e bem sucedidas do que verdadeiramente estão na realidade
 
Vício da Internet
O uso excessivo de Internet provoca a necessidade de estar constantemente conectado. Entre as doenças mais comuns associados com esta patologia são a dependência de jogos online e dependência de sexo virtual. Estas formas de dependência são frequentemente atribuídas a "baixa autoestima", entre outros fatores.

Dependência de Jogos online
Trata-se de necessidade doentia de estar online para competir com outros jogadores. O problema é tão grave que os Estados Unidos já surgiram grupos de ajuda para ajudar as pessoas a recuperar desta condição. No Japão, o governo proíbe o acesso a jogos online entre meia-noite e seis da manhã para crianças menores de 16 anos.

O telefonema fantasma
A figura é impressionante: estima-se que 80% dos utilizadores de telemóvel sofrem deste distúrbio, as pessoas acreditam ter recebido uma chamada, quando, na verdade, o seu telefone nunca tocou. Isso acontece porque o cérebro começou a associar qualquer estímulo que recebe ao telemóvel, especialmente quando estamos estressados.
 
Nomofobia
53% dos utilizadores de telemóveis têm esta fobia, de acordo com especialistas espanhóis. A palavra vem do Inglês "não móvel"; ou seja, sem telemóvel, e refere-se ao medo irracional de sair sem telemóvel, de o esquecer ou perder, ou ter bateria descarregada ou estar num local sem rede.
 
Cibermareo
Desorientação e vertigem que algumas pessoas sentem quando interagem com determinados ambientes digitais ou realidades virtuais. Sintomas semelhantes ao desconforto sentido por algumas pessoas que se deslocam num meio de transporte, mas, neste caso, são imóveis.
 
Cibercondria
Diagnóstico atribuído a pessoas que se convencem sofrer de uma ou várias doenças depois consultarem a Internet. Por exemplo, uma pessoa que sofre de dor de cabeça pode encontrar a causa desta doença na Internet e descobrir que uma razão pode ser um tumor cerebral e automaticamente pensa que pode morrer em breve.
 
Efeito Google
Um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos das Universidades Columbia, Harvard e Wisconsin indicou que acesso ilimitado à informação tem feito o nosso cérebro menos capaz de reter informação, a possibilidade de googlar a informação a todo o momento torna desnecessário ter de a memorizar.


Num estudo divulgado hoje na Marketeer para além destas patologias refere ainda duas outras:


Apneia do WhatsApp

Manifesta-se na ansiedade de consultar mensagens de maneira compulsiva.

 

Hipersensibilidade eletromagnética,

Um transtorno neurológico que afeta determinadas pessoas que reagem perante as radiações eletromagnéticas não ionizantes como aquelas que são emitidas pelos telemóveis ou antenas de rádio.

 

De acordo com o psiquiatra e premiado investigador Tiago Reis Marques, “nenhuma destas condições é reconhecida atualmente pelo meio médico. No entanto, a verdade é que o uso excessivo da internet pode interferir negativamente nas relações interpessoais, e esses indivíduos podem apresentar fenómenos de tolerância bem como sintomas de abstinência, muito semelhantes aos que as pessoas com adições apresentam.

As Tecnopatologias serão provavelmente as doenças deste século, juntamente com outras duas já reconhecidas pela comunidade médica, o stress e a depressão, especialmente porque se relacionam com elas, já que as Tecnopatologias têm como principais consequências precisamente o stress e a depressão.

 

Enquanto a comunidade médica não se decide sobre o assunto, é importante que as pessoas tenham conhecimento destas patologias e moderem não só o consumo da Internet mas especialmente previnam estas patologias nas crianças e nos jovens, através da monitorização e regulação do consumo que fazem da Internet.