Língua Afiada

Quem é que nunca ficou atónito com uma conta de Instagram repleta de fotos maravilhosas, ele é comida de babar, é paisagens deslumbrantes, é desporto, é saídas à noite, toda uma panóplia de atividades dignas de celebridades.

O índice de inveja alheia dispara para máximos históricos, ao vermos alguém com uma vida tão preenchida e perfeita é impossível não compararmos a nossa vida com a deles.

Nada temam, é muito fácil ter uma conta de Instagram maravilhosa, basta sabermos o que publicar e como publicar, um pouco de imaginação e uma pitada de criatividade e o sucesso é garantido. O melhor de tudo? Nem precisam de sair do vosso bairro.

Não acreditam vejam o vídeo.

Aviso importante:

Conta de Instagram maravilhosa não é igual a vida maravilhosa.

Queridas páginas de Instagram que querem seguir o meu perfil pessoal, eu sei que a minha vida é maravilhosa e que toda a gente quer conhece-la, mas não estou na disposição de mostra-la aos completos desconhecidos que gerem as páginas.

Eu até passo a seguir-vos se vos reconhecer interesse, mas parem de enviar pedidos para me seguirem, da primeira vez posso ter-me enganado e clicado no botão errado, mas na segunda, na terceira, na quarta, na quinta, não foi engando, foi mesmo de propósito, por isso deixem de enviar convites ou de seguidora passo a bloqueadora.

Não há paciência!

Por que motivo eu deixaria um restaurante, um ginásio ou uma loja de roupa me seguirem?

O que vocês querem é copiar os meus cozinhados, os meus planos de treino e o meu estilo, não é?

É isso que eu sei, mas desculpem não vai dar.

A minha vida privada e o meu perfil que é privado continuarão a ser.

Se não insistirem muito eu continuo a seguir-vos e amigos como dantes, se insistirem perdem uma seguidora em dois segundos que é para deixarem de ser curiosos.

As redes socias têm-se revelado uma desilusão, o Facebook serve apenas para me recordar dos aniversários dos amigos, para trocar mensagens com alguns deles e ver as últimas notícias.

É raro o dia em que consiga estar no Facebook mais de cinco minutos.

A minha rede favorita era o Instagram, mais impessoal, mais bonita, mais simples, mais clean, onde podia seguir quem em apetecesse sem estar sempre a levar com notificações, publicidades, pedidos de jogos, comentários parvos, smiles, frases idiotas e tudo o que o Facebook tem de mau.

Mas eis que o Instagram foi comprado pelo Facebook e tudo mudou, primeiro apareceram as publicidades, que sinceramente não incomodavam muito, eram curtas, adequadas ao formato da rede social e facilmente ignoradas, mas o Mark resolveu meter o dedinho no algoritmo do Instagram e fazer a mesma conspurcação que fez no Facebook decidir o que é que nós queremos e devemos ver.

A particularidade mais interessante do Instagram era precisamente vermos apenas as últimas publicações, as fotos instantâneas, sabíamos sempre que veríamos as últimas fotos tiradas pelas pessoas que seguimos.

O insta deriva de instantâneo, o formato da foto quadrado, outra coisa que mudaram e não deviam ter mudado era o das fotos das antigas máquinas instantâneas, os filtros assemelhavam-se às fotos antigas que os nossos pais tiravam, o próprio logo da aplicação era baseado numa máquina instantânea.

A beleza do Instragram era entrar e ver todas aquelas fotos com o mesmo formato, perfeitamente alinhadas e instantâneas que se não consultássemos todos os dias poderiam passar-nos ao lado.

Conseguiram estragar a rede social mais interessante ao torna-la num produto comercial, cheio de interesses em que o interesse do utilizador é o único que não conta.

Para acabar definitivamente com o conceito conseguiram estragar o branding da aplicação e transforma-lo numa máquina de lavar roupa manchada de detergentes de várias cores.

Este é o exemplo típico de uma grande empresa que compra uma empresa mais pequena e arruína completamente a sua essência, descarateriza-a, desconstrói-a e configura-a apenas com vista ao lucro.

O Facebook fez do Instagram um Pastgram, um mural onde vemos o que eles acham que queremos e devemos ver sem nenhuma ordem cronológica específica.

Não gosto do Pastgram.

Quero o Instagram de volta.