Irritações – complicar a simplicidade da vida
Não sei porque é que as pessoas gostam de complicar as coisas simples, não há necessariamente segundas intenções em tudo, por vezes estamos apenas a exprimir uma opinião, uma vontade, fazê-lo não implica manipular, magoar ou mudar a opinião dos outros.
Na vida poucas coisas são certas ou erradas, poucas coisas são preto no branco, há muitos tons de cinza e há todo um mundo de cores a serem descobertas.
Entristece-me a incapacidade de usufruir das coisas simples, de momentos, de se criarem constantemente expetativas infundadas que nos impedem de viver o aqui e o agora.
Frustram-me de forma avassaladora as pequenas frustrações e os dramas que elas despertam, a vida não é como queremos, planeamos, vamos agora transformar-nos em crianças mimadas e fazer de uma birra um objetivo obstinado? Se não é como eu quero, não é.
Esta inabilidade de lidar com as circunstâncias da vida não só causa frustração, angústia como nos impede de viver. Adiar a vida para as circunstâncias perfeitas, é simplesmente estúpido, mas os seres humanos são estúpidos, nada mais normal do que vivermos estupidamente.
Também tenho as minhas embirrações, os meus braços de ferro com a vida e com as pessoas, há situações que são difíceis de digerir, travam-se-nos na garganta com um sabor amargo, a fel, a bílis que tentámos expulsar a todo o custo, sem sucesso, não podemos mudar os factos, apenas podemos aprender a conviver pacificamente com eles.
Perante um imprevisto, temos duas hipóteses revoltar-nos, questionar-nos, massacra-nos com o problema ou seguir em frente, quando se tratam de coisas corriqueiras e banais nem sei porque predemos tempo a lamentar, é resolver e seguir em frente.
Podemos soltar o típico palavrão, dar duas bofetadas imaginárias a alguém, ranger os dentes, partir um prato, mas a seguir a essa explosão, adiantará de muito remoer? Claro que não, todos sabemos disso, se o sabemos porque caímos sempre no mesmo erro de escrutinar as desgraças até ao seu âmago?
Quando acontece uma verdadeira desgraça na vida, alguns de nós aprendem com ela, perante uma calamidade todos os pequenos percalços do dia-a-dia passam a ser insignificantes, na verdade nunca tiveram significado, nós na nossa bolha de egoísta e egocêntrica é que os consideramos dantescos.
Outros porém assumem que a desgraça é parte integrante da sua vida e qualquer problema tem a mesma dimensão de uma grande calamidade, como se estivessem sempre à espera da contrariedade para se enraivecerem, talvez seja porque não conseguiram ultrapassar a desgraça inicial, talvez seja porque preferem lidar com as situações dessa forma.
As pessoas são tão, mas tão complicadas, que qualquer tentativa de simplificar, de desmitificar é encarada como afronta ou irresponsabilidade, porque só nós é que sabemos, só nós é que sentimos, ninguém conhece a nós ou à nossa vida como nós.
Estou cansada das pessoas, das suas birras, da sua forma de estar, da sua falta de otimismo, do constante lamentar, do dar importância a minimidades.
Importa assim tanto discutir, debater trivialidades enquanto o tempo corre e não espera por nós?
Irrita-me, como me irrita profundamente sentir o tempo passar enquanto se desperdiça a vida em coisas que não são importante na vida.