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Língua Afiada

Extrema Direita no Parlamento Europeu

Imunidade não é impunidade, pelo menos para a União Europeia, infelizmente em Portugal estamos ainda longe desta realidade, somos Europa, mas só quando dá jeito.

O Parlamento Europeu decidiu em plenário levantar a imunidade de Marine Le Pen, permitindo que seja alvo de uma ação judicial por ter partilhado no Twitter imagens da violência do Estado Islâmico. A votação dos eurodeputados tem efeito imediato.

No entanto a líder da Frente Nacional recusa prestar declarações, tal como terá recusado há dias no âmbito de uma investigação em curso sobre o uso indevido de fundos do Parlamento Europeu e a criação de empregos fictícios.

Marine Le Pen considera que está a existir instrumentalização da justiça na campanha, numa altura em que a par desta o líder da direita, François Fillon, são alvo de processos judiciais.

 

Resta saber se esta decisão é desfavorável ou favorável à candidata, a julgar pelos comentários é mais favorável que desfavorável.

Tudo o que as pessoas retêm da notícia é que ela supostamente estaria contra os muçulmanos e a favor dos franceses, nem se são ao trabalho de perceber que ela usou imagens da violência do Daesh para dizer que a sua atitude não era comparável à deles, defendendo-se apenas a ela própria.

Usar imagens de violência e imagens fortes como um homem decapitado para fazer política é uma manobra triste e mesquinha.

Deveria sim ser punida por instrumentalizar a violência.

 

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Já o eurodeputado Janusz Korwin-Mikke, bem conhecido no Parlamento Europeu pelas piores razões, as suas opiniões e comentários racistas, sexistas e antissemitas, resolveu dar o ar da sua desgraça esta semana ao afirmar que as mulheres devem ganhar menos do que os homens porque são "mais fracas, mais baixas, menos inteligentes".

Já não é a primeira vez que este grosseiro acéfalo tem saídas tristes, em 2012, foi multado por comentários racistas contra os negros e em 2015, por ter feito uma saudação nazi ao entrar no hemiciclo.

Uma saudação nazi?

Refere-se aos migrantes como “lixo humano” e é contra a sua inserção na União Europeia.

 

O que não entendendo é como desvaloriza tanto as mulheres e casou três vezes?

Curiosamente, ou não, os homens machistas são precisamente os mais dependentes das mulheres.

Os homens que consideram as mulheres fracas e inferiores dependem delas para tudo, para começar dependem da mãe quando nascem, dependemos todos, depois dependem da mãe para se vestirem, comerem, que o pai deve ser só corpo presente ou para dar surras, em adultos continuam dependentes da mãe ou da empregada para que tenham a casa arrumada, comida a tempo e horas e saibam até o que vestir, continuarão sempre a depender do trabalho de uma mulher, porque um homem atado será sempre um homem atado.

Essa dependência faz com que as rebaixem, não vão elas exigir igualdade e eles perderem o cuidado, alguns estou convencida morreriam de fome tal a inabilidade em tratarem de si próprios.

 

Este ser abjeto, surpreendentemente,tem recolhido apoio junto da população mais jovem da Polónia, está no Parlamento Europeu desde 2014 tendo o seu partido obtido 7,2% dos votos e o maior apoio foi conseguido nos eleitores jovens. Na faixa etária dos 18 aos 25 anos, o partido de Korwin-Mikke obteve 28,5%, valor que não foi ultrapassado por nenhum outro partido.

Preocupante esta tendência, nos últimos anos o Parlamento Europeu teve um aumento da participação de partidos de extrema-direita, representantes na maioria do Grupo Europa das Nações e da Liberdade que conta com 42 eurodeputados, Janusz Korwin-Mikke faz parte dos 18 que se inserem no grupo dos não inscritos, um conjunto de deputados independentes.

 

Os números começam a ser assustadores, a proliferação de ideais fascistas cresce a olhos vitos, favorecidos pelo clima de insegurança e instabilidade económica.

Os iludidos acham-se iluminados e consideram que a culpa da crise é dos migrantes que lutam pela sobrevivência ou pela hipótese de uma vida melhor, ignorando que a máquina que lhes dificulta a vida está instalada no próprio quintal, tem raízes ancestrais e que eles para a máquina são tão importantes como qualquer outra pessoa independentemente da origem, são apenas necessários para fazerem a máquina funcionar, dispensáveis, descartáveis e nulos quando a máquina assim o entender.

A galopante raiva das sociedades europeias, a culpabilização de quem não tem culpa, não resolve nada, apenas acentua o problema.

O véu de Marine Le Pen

Há muito que quero falar sobre da líder da Frente Nacional, o partido de extrema-direita francês, teria muito a dizer sobre as propostas de Marine Le Pen.

Mas hoje, e apesar de não concordar em nada com a sua ideologia, tenho de dizer que fez muito bem em recusar-se a usar véu no encontro com o mufti de Beirute.

Aplaudiria de pé a atitude, caso não percebesse o perigo da disseminação desta atitude, este tipo de comportamentos aplaudidos colocam-na mais perto da vitória.

Esta ilusão que ela defende os valores da República, das mulheres e outros similares é perigosa, ela até pode defender, a verdade é que todos os candidatos defendem sempre o melhor para o seu país, mas é um melhor à sua imagem, de acordo com os seus valores.

Queremos um país, uma Europa forte, mas a que custo?

Valerá a pena sacrificar décadas de liberdade, igualdade e fraternidade para conseguir um país mais forte?

E será realmente um país mais forte? Ou será um país mais fechado? Culturalmente mais pobre? Mais triste?

Há muito que falo do poder de contaminação da eleição de Donald Trump e do Brexit, se esta ideologia se propagar à França esperam-se tempos tumultuosos na União Europeia, a França sempre teve um papel determinante na defesa da liberdade e da igualdade, será que a Europa estará preparada para assistir a uma inversão de papéis?

Passará a ser a Alemanha a defensora da igualdade? Resistirá Angela Merkel?

Estas questões parecem estar longe do mundo dos portugueses, mas estão muito próximas, estão mesmo aqui no nosso quintal, e não, não é porque temos muitos portugueses espalhados pelo mundo, é mesmo porque Portugal faz parte da Europa e do Mundo e se o Mundo ficar doente nós sofreremos as consequências, se não formos contagiados pelo vírus do protecionismo, seremos afetados pelas sequelas dos outros países, especialmente da Europa.

Estaremos a regressar às fronteiras? Ao protecionismo? À concorrência? À exclusão? À discriminação? À segregação? À desunião de nacionalidades, credos e raças?

Esperemos que este tempo de incerteza sirva para reforçar os valores que uniram a Europa e não para a dividir e separar.

Que este véu negro que cobre a Europa se rasgue e voe para bem longe.