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Língua Afiada

Um azar nunca vem só – acreditam em más energias?

Como já disse aqui várias vezes lá em casa os azares dão-se em cadeia, é uns atrás dos outros, é assim de tal forma que quando algo corre mal eu já me preparo mentalmente para o que virá a seguir.

Tudo começou no dia 19 de Janeiro, sexta-feira ao final da tarde, estacionei no supermercado, abri a mala do carro e nunca mais a consegui fechar, o fecho estava estragado, ou os fios, sinceramente nem tomei sentido, no instante em que entrei no carro para ligar ao meu marido, senti um calafrio, estava à espera de uma resposta, de uma decisão importante e apesar de só saber efetivamente no domingo, soube ali naquele momento que seria negativa.

O fim-de-semana foi caótico, doente com a casa em desordem, imensas tralhas para arrumar, móveis novos e eu sem paciência nenhuma, com vontade de mandar tudo às urtigas, lá conseguimos a custo organizar tudo a tempo de começar a semana cansada, com as ideias completamente desordenadas mas com a casa arrumada.

 

A semana passou sem grandes incidentes, estava quase a acreditar que desta vez os azares não seriam múltiplos, quando precisamente na sexta-feira seguinte avaria a máquina de lavar roupa, tive a certeza que iria começar a sequência, tal e qual, sábado avaria a máquina de lavar louça, logo depois tivemos um problema com o esquentador e no domingo de manhã foi a vez do aquecedor, ontem foi o meu portátil que teve um percalço, resolve sempre assustar-nos nestas alturas.

Quem adoece sempre nestas alturas é a nossa gata, e é isso que me leva à questão do título do post, a bichana adoece sempre nas marés de azar, desta vez está com gripe, felizmente está a recuperar bem. Dizem que os gatos absorvem as más energias será que isso tem influencia na sua saúde?

 

Em conversa com uma amiga a quem a vida não tem corrido muito bem, sem motivo aparente, aliás tem agora reunidas as condições para que tudo corra bem, mas simplesmente não corre, surgiu o tema da inveja, do mau-olhado e das energias negativas, uma colega sua de trabalho deitou para trás uma maré de azar e um ambiente pesado em casa depois de uma cartomante lhe ter dito que havia uma pessoa que lhe desejava mal, afastou-se dessa pessoa e as coisas começaram a correr bem.

A minha amiga diz que as coisas correm mal quando entram em casa, parece que a harmonia se perde, tento ao máximo afastar-me destas ideias porque são perigosas, mexem-nos com o psicológico e depois é um problema para seguir em frente, mas não consegui deixar de comentar com ela que lá em casa anda um pouco a passar-se o mesmo, parece que se discute por tudo e por nada, discussões parvas, sem grande importância, mas que se sucedem umas atrás das outras.

 

Quero acreditar que é uma fase, estaremos ambos os casais na fase de medição de forças, na qual a relação se ajusta, medimos a elasticidade do outro e colocamos a nossa à prova, é o ponto em que descobrimos quem cederá em quê, só há dois resultados possíveis o trémito da relação ou a construção de uma relação à prova de fogo, inabalável para toda a vida.

Mas depois penso em nós e neles, conhecemo-los muito bem e não há muito a ajustar, os ajustes foram sendo feitos ao longo do tempo e a história da inveja ficou a ecoar-me.

 

Não me sai da cabeça, mentiria se dissesse que nunca tinha pensado no assunto e se dissesse que nunca sentira uma espécie de energia negativa, uma barreira, uma espécie de força que nos leva sempre para o lado errado, sempre tive um lado intuitivo herdado da minha mãe, sempre o sobrepus com a racionalidade que me diz que recorremos ao oculto para encontrarmos respostas para as perguntas que não sabemos responder.

Quero muito acreditar que as coisas más, os percalços e imprevistos que nos acontecem são fruto das circunstâncias da vida, mas há uma voz dentro de mim que me alerta que nem tudo é coincidência, andarei com esta luta interna até esta maré de azar cessar, porque quando está tudo bem não pensamos no mal.

 

Já sentiram alguma energia negativa, não acreditam em nada destas coisas ou acreditam que existem forças que não controlamos? Têm algum exemplo real?

Pelo sim pelo não vou acender um incenso, mal não fará.

Será a inveja o bruxedo dos nossos dias?

O dia das bruxas já passou, mas elas se existirem, não exercem só durante um dia, uma vez bruxas, sempre bruxas.

Não acredito nas bruxas das fábulas, mas acredito que existem pessoas más, são em maior número que as pessoas boas, há entre os dois extremos uma grande área cinzenta, mas existem pessoas realmente más e pessoas genuinamente boas, embora acredite que as últimas sejam uma espécie em vias de extinção.

 

As pessoas más não estão diante de um caldeirão a despejar poções mágicas e a proferir receitas maldosas, mas congeminam para o mal dos outros com palavras e ações para as prejudicarem, se isto não é ser bruxa não sei o que será.

Sorte a nossa que não têm poderes mágicos e não voam numa vassoura quando são descobertas, sorte a delas que não são exiladas da comunidade ou queimadas numa fogueira.

Apesar de não terem poderes mágicos, de não fabricarem poções e não lançarem feitiços, as bruxas atuais lançam más energias, antigamente dizia-se que era o mau-olhado, o mau-olhado não é nada mais do que despejar sobre algo ou alguém um sentimento mau tão grande que as afeta, já vi plantas secarem de inveja, se a maldade tem a capacidade de matar uma planta, com certeza de terá algum efeito nefasto nos humanos.

 

Existem muitas forças, energias, espíritos o que lhe queiram chamar que não entendemos, mas que sentimos, não todos, acredito que umas pessoas são mais permeáveis do que outros, mais sensíveis ou simplesmente mais atentas.

Não gosto muito de pensar, falar ou escrever sobre este tema, pois quem procura encontra e nem sempre encontramos boas energias ao nosso redor, mas ultimamente tenho pensado mais no assunto.

Quando a vida não corre como o esperado tentamos arranjar algo ou alguém para culpar, faz parte da natureza humana culpar os outros, mitos, crenças e até religiões têm a sua origem no que não conseguimos explicar, fantasiamos o que não entendemos e justificamos o que não conseguimos aceitar.

 

Consciente disso tenho afastado o pensamento deste tema, pois na vida há muita coisa que não se explica, muitos acontecimentos fruto do acaso, muitas consequências que são apenas uma questão de sorte ou azar.

Mas as frases rapidamente evoluíram do acaso para o imaginário.

- Não temos sorte nenhuma.

- Acontece sempre algum imprevisto.

- Deve ser karma.

- Parece bruxedo.

 

E não é que parece mesmo? Tem sido sempre assim, pensamos que reunimos as condições todas, ultrapassamos todos os obstáculos, encontramos soluções, enchemo-nos de esperança e acontece sempre algo que não nos deixa avançar.

Será que existe alguém que nos deseje tanto mal que não nos condicione a vida?

Claro que não, primeiro não acredito que alguém tenha esse poder, segundo não consigo conceber quem nos deseje tanto mal, terceiro isto é só uma tentativa de encontrar uma resposta para uma pergunta que não pode ser respondida.

O meu lado racional sabe que este pensamento é uma fantasia, existem pessoas más que nos prejudicam deliberadamente outras inconscientemente, mas não existe nada capaz de nos condicionar toda vida.

 

Mas e se existir? Talvez isso explique o que sempre ouvi dizer desde criança:

“Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.”

E vocês acreditam?

Acham que a inveja e a maldade de alguém podem fazer-nos mal?

Será a inveja a poção das bruxas dos nossos dias?