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Língua Afiada

E ninguém aplaude os pais? À beira do colapso.

Desde o início que a gestão da pandemia foi malconduzida, mas o “milagre” português fez com que não tivéssemos de lidar com uma realidade tão dura como outros países, o milagre na verdade foi mais um adiamento, pois o caos acabou por instalar-se em 2021.

Os portugueses bem-comportados, são agora os rebeldes e se em 2020 se teriam desculpado erros com a surpresa, a novidade da inusitada situação, em 2021 este caos só demonstra a incapacidade de preparação e antevisão da situação.

Será que alguém acreditou que o alívio das medidas do Natal não seria catastrófico? Será que temos governantes tão incompetentes que não previram isso ou será que prefiram o aumento exponencial de casos à impopularidade, são tão incompetentes que provavelmente foi um misto das duas.

Resultado, estamos confinados novamente, como nada mantinha os portugueses em casa e nada fazia com que as empresas aderissem massivamente ao teletrabalho, fecham-se as escolas e resolve-se o problema, criando outros, até para o Governo que teve de improvisar umas férias porque o ensino à distância não estava preparado.

Inacreditável, mas não estavam preparados, a falta de preparação e planeamento deste Governo é avassaladora, devido a erros sistemáticos das autoridades estamos agora confinados e com os filhos a cargo, o dia-a-dia de muitos pais é simplesmente caótico, surreal e incomportável.

Não se consegue ser bom pai e não se consegue ser bom trabalhador, por mais que se façam turnos, que se planeie o dia, que se durma apenas 5/6h por dia, não é possível conciliar tudo de forma pacífica porque o cansaço acumula-se, a irritabilidade aumenta e o confinamento retira-nos praticamente todas as formas de descontração e descompressão que conhecemos.

Recriminar quem se queixa não ajuda em nada, só faz os pais sentirem-se mais culpados, mais inúteis e mais frustrados, o que é preciso é reconhecer que as pessoas não são imensas e não conseguem conciliar o teletrabalho com a parentalidade.

O Estado tem de perceber que as empresas não substituem a Segurança Social e que há funções e crianças que não são compatíveis, porque não se pode simplesmente generalizar e aplicar a medida a todos da mesma forma.

Teletrabalho obrigatório, não há apoio à família, mas e quem não consegue conciliar? O que faz? Recorre às faltas justificadas sem remuneração?

O que mais uma vez o nosso Governo ainda não percebeu é que agora impede uma boa parte dos pais de recorrerem a um apoio social, mas que alguns desses pais, estarão a recorrer a outro apoio daqui a uns meses, se calhar por muito mais tempo e com consequências mais graves, se a situação se mantiver muitos pais estarão com baixa psicológica não faltará muito.

Se muitas pessoas foram imprudentes e levaram a que isto acontecesse, sim, os portugueses simplesmente ignoraram todas as recomendações, há cada vez mais negacionistas e cada vez mais pessoas a desvalorizarem a situação.

 

Distanciamento nas creches e amas? Pura Utopia e Ignorância

Impedir bebés e crianças pequenas de se tocarem e brincarem uns com os outros e com os adultos que os supervisionam é impossível.

É impossível, inviável, estúpido, infeliz, desumano, cruel e revela que mais uma vez que em Portugal o superior interesse da criança, chavão tantas vezes utilizado para justificar tantas decisões, não é realmente o mais importante.

Privar uma criança da interação humana é tudo menos no seu interesse, neste caso é no interesse da economia, e se quisermos incluir aqui o interesse das crianças, fazemos um esforço e podemos pensar que lhes estamos a assegurar um futuro melhor, mas a que custo?

Um custo demasiado alto, já que é essencial ao seu desenvolvimento a interação, a partilha, a troca, os afetos, os mimos e até as birras e as brigas.

Não sei se quem definiu as regras não percebe nada de crianças, do seu desenvolvimento e do funcionamento de uma creche ou se preferiram simplesmente ignorar e esperar que as educadoras e auxiliares consigam de alguma forma minimizar as interações, a certeza que tenho é que é impossível implementar as regras de distanciamento.

O distanciamento é impraticável com crianças tão pequenas, não conseguem entender os motivos da distância e se insistirmos muito em afasta-las vão interiorizar que isso é a norma e estaremos a ensina-las a serem frias, distantes, egoístas e egocêntricas.

É claro que devemos tomar as devidas precauções e concordo que exista um reforço da limpeza e desinfeção dos espaços, mas manter as crianças afastadas não me parece razoável ou colocamos o coração de parte e nos mentalizamos que vamos ter as crianças juntas ou ficamos com elas em casa.

Já custa horrores separar-nos delas depois de estarmos tanto tempo com elas em casa, pensar que as vamos deixar num local sem afetos é agonizante.

No meu caso, tive uma conversa franca com a ama e deixei-a à vontade para lhe dar colo e mimos e para a deixar interagir com as outras crianças, não consigo conceber que seja de outra forma.

Não conseguimos estar totalmente a salvo e não conseguimos controlar tudo, no que ao Covid-19 diz respeito às vezes mais parece uma questão de sorte ou azar, é que não fazemos sequer ideia se já tivemos o vírus, é tentar viver com esta normalidade estranha e ter os cuidados necessários e esperar não termos azar de nos infetar-nos num descuido nosso ou dos outros.

Às crianças, deixem-nas ser crianças, só assim crescerão saudáveis e felizes para serem adultos saudáveis e felizes.