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Língua Afiada

Adoção e devolução - O dia da criança é todos os dias

Num ano, 43 crianças devolvidas por pais candidatos à adoção, mais precisamente de 1 de Agosto de 2015 e 31 de Agosto de 2016.

Não queria acreditar quando li esta notícia no Público, mas há diversas razões que podem motivar uma situação destas, li a notícia com atenção.

“Das 43 crianças que acabaram por ser devolvidas por candidatos a pais adotivos, apenas duas apresentavam problemas graves de saúde. Havia ainda seis com “problemas ligeiros”, não tendo as restantes 35 quaisquer problemas deste foro. A caracterização do ministério permite ainda concluir que 20 das crianças “devolvidas” tinham até dois anos de idade.”

 

Estas 43 crianças foram devolvidas às instituições ou famílias de acolhimento, mas as razões não são conhecidas.

O processo de adoção em Portugal é burocrático e moroso, os candidatos a adotar sejam um casal ou pessoa singular veem a sua vida escrutinada, passam por um rigoroso processo de avaliação de condições psicológicas e financeiras de modo a garantir que têm condições para acolher uma criança e que estão preparados para isso.

Conheço um casal que adotou uma menina que é hoje uma adolescente feliz e saudável, após várias interrupções involuntárias da gravidez, foi diagnosticado um problema de saúde que impedia que a gestação fosse até ao fim. A menina é luz deste casal, um tesouro que cuidam como cuidariam se ela partilhasse o seu código genético, não partilha os genes, partilha o amor, que é muito mais importante.

Conheço outro casal candidato à adoção que se queixa da demora, dos processos, da expetativa e da ansiedade, sei-os desejosos de aumentarem a família, de poderem dedicar tempo e amor a um filho.

 

Como é difícil prever que a adoção seja bem-sucedida, mesmo que os candidatos conheçam previamente a criança, privem com ela e a criança se habitue à sua presença, essa interação prévia é muito diferente de terem a criança ao seu cargo durante 24h, é por isso que existe um período de pré-adoção que se pode estender até aos 6 meses, período dentro do qual os pais adotivos recebem a criança mas podem “devolve-la”.

Só o termo devolver faz-me impressão, devolver uma pessoa, criança ou bebé é algo impensável, não é um produto, nem um serviço, é um ser frágil, que necessita de atenção e amor.

 

Eu gostava de acreditar que a maior parte dos casais que desistem da adoção têm um motivo forte, mas conhecendo as pessoas como conheço, nem todos terão motivos aceitáveis, na própria notícia é dado um exemplo:

«“Há oito ou dez anos ouvi um responsável da Segurança Social contar um caso em que uma criança viveu em casa dos candidatos mas que a certa altura foi devolvida porque o cão não gostava da criança”, recorda Guilherme de Oliveira»

 

 

Se o filho fosse biológico iam leva-lo à maternidade por causa do cão?!

Há aqui leviandade, tem que existir, passar por todo o processo para depois dar preferência a um cão sobre um filho, é impensável, sim um filho, quando se está a adotar está-se a adotar um filho, a criança será nossa filha perante a lei, mas acima de tudo deverá ser nossa filha no coração.

Estas situações levam-me a pensar que os motivos que levam as pessoas à adoção nem sempre são os mais nobres, bem sabemos que são raros os casos em que a adoção visa somente a proteção de uma criança desprotegida, há quase sempre uma motivação pessoal, como em todos os atos benignos, mas existirão motivos ainda mais obscuros.

 

Poderá ser uma moda?

Ouço muitas pessoas dizerem que adoravam adotar, mas a maioria di-lo de uma forma tão leve como se estivessem a falar de adotar um animal ou planear uma viagem.

Quando se pergunta os motivos, a maioria não sabe bem o que responder, fica em suspenso, pois não é suposto alguém perguntar, pois parece óbvio que o motivo da adoção é salvar uma criança órfã, mas será?

Ou será apenas a imitação de comportamento que acreditam ser louvável mas para o qual não tem a mínima vocação?

 

Em Portugal há poucas crianças para adoção, seria de esperar que fosse bom sinal, à primeira vista parece, mas não é assim tão linear, porque há muitas crianças institucionalizadas e em famílias de acolhimento que não são passiveis de adoção porque os pais biológicos não abdicam do direito paternal, especialmente porque esse direito confere muitas vezes compensações monetárias.

Há mais casais candidatos do que crianças, quem se candidata à adoção é confrontado com essa realidade, se não está preparado e comprometido para o fazer porque continua o processo?

Nunca ninguém esta preparado para ser pai, mas não é por isso que abandonamos os filhos às primeiras dificuldades, quando alguém se compromete a acolher uma criança na sua família, na sua casa a atitude deveria ser a mesma.

Na notícia dão o exemplo do Brasil onde eram tantas as desistências dentro do processo que caso o Tribunal quando considera que existir uma devolução imotivada avança com um processo de ação cível de indeminização.

 

É difícil contabilizar os danos psicológicos que o processo pode ter sobre a criança, mas a rejeição tem consequências, nem sempre visíveis, mas fortes e que perduram no tempo, a rejeição é dos sentimentos que mais angústia e desespero causam, se para um adulto é difícil lidar com este sentimento, para uma criança, muitas vezes já fragilizada e sem conhecer um ambiente seguro e protegido essencial ao seu crescimento, as consequências podem ser traumáticas.

Não conheço os motivos que levam alguém a desistir de um processo de adoção numa fase em que já têm em sua casa uma criança que necessita da sua proteção e amor, mas não encontro muitos que possam justificar essa desistência.

Têm uma ideia idílica de parentalidade que não corresponde à realidade? Veem as suas expetativas defraudadas?

 

Cada vez existem mais casais que na impossibilidade de uma conceção natural procuram na adoção filhos do coração, crianças a quem dedicam todo o seu amor, a quem procuram dar o melhor e por quem fazem tudo.

Se não estão dispostos a amar uma criança como vossa e a fazer por ela todos os sacrifícios que a parentalidade exige, não se inscrevam, não adotem, não alarguem as listas de espera e acima de tudo não falhem com a criança, não a desiludam, não a abandonem, a vida delas já é complicada o suficiente não precisam que mais um adulto inconsciente a complique ainda mais.

 

Adoção e devolução são duas palavras que não deveriam existir na mesma frase.

Adoção sim, mas consciente.

O dia da criança é todos os dias e não só quando dá jeito.

Ser pai de sangue é assim tão importante?

Homem descobre que a filha a quem deu o nome há 15 anos atrás não é sua filha e exige uma indemnização à ex-companheira.

Ao descobrir que não é pai através de um teste de paternidade, pede uma indeminização de quase 17.000€ à mãe da criança, 10.000€ de danos morais e 6350€ relativos à pensão de alimentos da alegada filha e ainda que a jovem deixe de usar o seu apelido.

Ao ler esta notícia só consigo pensar que pai terá sido este homem, independentemente de ser ou não pai da criança, assumiu que era e agora 15 anos depois quer que a mesma deixe de usar o seu apelido, que peça uma indeminização por danos morais ainda entendo, mas porquê impedir a jovem que sempre acreditou ser sua filha de usar o seu nome.

Não existirá nenhuma relação de proximidade entre o suposto pai e a filha, não existirão laços mais fortes que o sangue passados 15 anos de uma ligação parental?

Não terão contribuído os 6350€ de pensão de alimentos para a educação e formação de uma jovem que sempre acreditou ser sua filha?

O valor 6350€ também chama a atenção por ser tão parco, dividido por 15 anos dá 423,33€ por ano, o que significa que pagou por mês de pensão de alimentos 35,28€, não faço ideia quais os rendimentos deste homem, mas como é que alguém consegue criar uma filha com 35€/mês de ajuda do pai?

Que se sinta indignado com a mãe é normal, mas que arraste para isso uma jovem não é, a menos que nunca tenha sido realmente pai fora do papel.

É por isso que ser pai ou mãe de sangue é um detalhe, ser mãe e pai é muito mais do que doar genes, isso qualquer um pode fazer, desde que a sua condição física permita, já amar incondicionalmente é algo que nem todos somos capazes.

É essa capacidade de amar incondicionalmente que distingue os verdadeiros pais dos pais que são apenas código genético, um código genético que até se pode comprar num banco com a mesma facilidade que se compra um preservativo, só muda o preço.

Relação pai e filho - o bom exemplo de The Revenant

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Escrevi uma crítica do filme aqui, para mim o filme é uma obra-prima.

Aceito as críticas à brutalidade das imagens e ao quase exagero do sofrimento, mas o filme centra-se numa personagem e por isso é normal que a destaquem.

Não acho que tenham deixado para segundo plano as dificuldades e as atrocidades que se passavam na época, elas estão lá e são bem visíveis. O filme não é sobre isso, é sobre a jornada de Hugh Glass e por isso é a sua história que sobressai. Assim como em Ponte de Espiões as atrocidades da segunda guerra mundial estão lá, mas não são o cerne da história.

Mas o que estava mesmo à espera sobre o The Revenant é que comparassem a relação da personagem Hugh Glass com o filho à relação de que uma mãe tem com o seu filho ou que a vissem como anormal.

Como se um pai não pudesse mover mundos e fundos por um filho?

Já tive várias discussões por causa deste tema e da velha e ultrapassada frase – Mãe é mãe!

E o pai não é pai?

Enquanto as mulheres e a sociedade não perceberem que isto é um preconceito maldoso e castrador para os pais, iremos ter pais com vergonha em dar prioridade aos filhos, pais com medo de pedirem custódia partilhada, pais a serem vistos como um acessório na vida dos filhos e mulheres a serem penalizadas por serem mães.

Será que ainda não entenderam que muito do caminho para a igualdade das mães no trabalho passa por darem a mesma importância ao pai na relação com o filho.

É claro que por uma questão biológica a mãe é necessária junto da cria nos primeiros meses se amamentar, mas tirando isso o pai não é igualmente importante?

Felizmente muitos pais ignoram o preconceito e privilegiam a relação com os filhos e conheço casos em que isto é visível pela clara preferência dos filhos pelo pai e não pela mãe.

Estas relações não são exclusivas dos filmes, acontecem na vida real, há pais que fazem tudo pelos filhos, há pais que cuidam melhor dos filhos que as mães.

Existem mães más, negligentes, hostis, rudes, estúpidas. As mães antes de serem mães são pessoas e as pessoas não são todas boas. Ser mãe ou pai, não faz automaticamente uma pessoa ser melhor.

Se todas as mães querem o melhor para os seus filhos, a maioria acredito que sim, mas isso não significa que o consigam dar. Algumas são tão egoístas e perseguem tanto o sonho de serem mães que presenteiam os filhos com um mau pai.

Outras a única coisa boa que conseguem dar aos filhos é um bom pai

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