Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Meandros dos meus pensamentos

Estar sob constante escrutínio é a pior sensação do mundo, ser constantemente avaliada, supervisionada, recriminada e advertida faz-me sentir zangada, irritada e frustrada.

Nunca nada é suficiente, tudo é inadequado, incompleto, imperfeito, por mais esforço, carinho e dedicação que coloque, mesmo com todo o empenho nada parece satisfazer.

Por mais que me desdobre para dar atenção, suporte, apoio, por mais ajudas que dê e preocupação que demonstre, nunca chegarei a ser a dedicada, a preocupada.

Há pessoas que nascem com este selo, com uma inadvertida centelha para falharem as expectativas, não por serem fracas, incompetentes ou inadequadas, simplesmente porque lhes é mais exigido a elas do que aos outros.

Uma vez disseram-me que algumas pessoas têm de fazer melhor do que os outros porque se espera isso delas, já tentei recordar-me de quem me disse isso, não me recordo, na altura não dei grande importância, julguei que era uma injustiça e obviamente que não tive este julgamento presente na minha vida.

Mentira, fiz precisamente o contrário, refreei as minhas próprias expetativas, reduzi os meus objetivos, normalizei os meus sonhos e aspirações, castrei as minhas ambições, normalizei-me.

Hoje, não sei bem a propósito do quê, percebi que isso apenas me fez mal, baixei as minhas expetativas, mas os outros continuam a tê-las bem distorcidas sobre mim.

De um lado os que esperam sempre mais, do outro os que por mais que faça nunca me verão como realmente sou.

Curioso este limbo entre quem está de fora espera sempre mais de nós e quem está por dentro acha que não somos bons o suficiente, mas por motivos opostos, para os de fora poderíamos ser muito melhores, para os de dentro por mais que tentemos nunca chegaremos a ser razoáveis, impossível sermos bons.

Tumultuoso este pensamento de não pertencer ao conjunto de regras e padrões que todos parecem estabelecer para nós, sentimo-nos um estranho dentro da própria casa.

Olho à minha volta e não me revejo naquilo que pensam de mim, existe uma dissonância, um abismo entre aquilo que sou e o que pensam que sou, uns acham pouco, outros acham muito, preferia que simplesmente não se deitassem a adivinhar aquilo que sou e me vissem como sou.

Talvez a culpa seja um pouco minha, que me refugio no meu mundo, um mundo mais rico, mais colorido e bonito que quem me analisa jamais conseguirá imaginar, muito menos conhecer.

A Páscoa hoje e a Páscoa de antigamente

7629.jpg

 

A minha Páscoa costuma ser passada em família por isso se decidimos passar uns dias fora nunca incluímos o domingo de Páscoa onde o almoço e o receber o Compasso é obrigatório na casa dos meus pais.

Sempre adorei a Páscoa, gosto de festas, adoro ter a família reunida, gosto de comer, gosto de festejos, sorrisos, beijos e abraços e na Páscoa tudo isto acontece, não sinto a alegria que sentia em criança, caraterística dos tempos em que as nossas maiores preocupações eram vestir uma roupa nova e passear de casa em casa numa competição de quem beijava mais cruzes e comia mais amêndoas.

 

O dia começava cedo com o construir do caminho de flores para receber o Compasso Pascal, depois de terminado era nosso trabalho vigiar para que ninguém o pisasse, havia ali também uma competição, escolhíamos as flores mais bonitas, quase sempre silvestres para desenhar com elas flores feitas de flores.

Se não tivéssemos ido à missa no dia anterior era quase certo que iríamos no dia de Páscoa de manhã, sempre gostei da forma entusiasta com que se dizia – Aleluia, Aleluia! Com tanta alegria, as pessoas ficavam realmente alegres ou seríamos nós, as crianças, que víamos nelas espelhada a nossa alegria?

 

O dia era passado a correr de casa em casa, dos familiares mais próximos, mas também dos vizinhos e da família dos vizinhos, tive o privilégio de crescer entre três famílias grandes, a da minha mãe mais próxima geograficamente, a do meu pai relativamente perto e a da vizinhança, erámos uma grande família local e era tão bom.

Na Páscoa juntava-me com os meus amigos e percorríamos casa a casa, seguíamos o sininho pascal que anunciava a vinda da procissão encabeçada pela cruz, apostar por onde surgiria também fazia parte, erámos muito competitivos, mas tão, tão solidários, naquilo que era a verdadeira competição saudável.

Todo o dia era passado em festa bem recheado de doces, amêndoas e chocolate, não era grande adepta de doces, mas pão-de-ló, pudim francês e bolinhos de amor sempre foram os meus favoritos.

 

Pintávamos ovos com cebola e uma erva lilás do campo, não havia caça aos ovos, mas nem por isso corríamos ou brincávamos menos, aliás passávamos o dia em euforia, chegávamos à noite exaustos e com o coração cheio.

Durante muitos anos o dia de Páscoa foi um dia muito feliz, foi perdendo magia não porque cresci, mas porque foram faltando pessoas, a rua dos meus pais está cada vez mais vazia, não há praticamente crianças e os amigos estão longe, confesso que sinto falta de ver a rua cheia de pessoas num convívio tão espontâneo quanto bom.

 

Agora há alegria, há partilha, há mais fartura e até há prendas, mas faltam-me as pessoas, infelizmente algumas já partiram deixando saudades, outras estão cá mas estão mais longe, sinto falta da azáfama da multidão, era uma multidão, mas era a nossa.

Está a crescer uma nova geração e cabe-nos agora a nós proporcionar-lhes momentos inesquecíveis, ocupar-lhes a mente de boas recordações e encher-lhes o coração de partilha e amor.

A Páscoa de hoje é diferente, mas não tem de ser pior, alguém tem de iniciar tradições e costumes, não podemos deixar que memórias antigas nos impeçam de criar novas.

A minha Páscoa de hoje é criar recordações para os mais novos, para que um dia recordem com tanto carinho quanto eu a Páscoa da sua infância.

 

Votos de uma Páscoa inesquecível a todos.

Carta ao Ano Novo

 

Querido Ano Novo escrevo-te desde o Ano Velho que para ti pode parecer distante, mas para mim é o presente, escrevo-te estas linhas na esperança que te encontres bem, cheio de força para arrancares a todo o vapor e chegares ao fim da tua jornada satisfeito e feliz.

Sei que para ti é um pouco indiferente a vida de cada um de nós, pois tens acontecimentos maiores e mais marcantes para te preocupares, vitórias, feitos, descobertas, catástrofes, extinções, tragédias, factos que se perpetuarão nos anais da história como sendo tua obra, mas pedia um pouco da tua atenção para mim.

 

Perdoa-me se te trato por tu, mas ainda não chegaste e já me referi a ti tantas vezes que é como se já te conhecesse, mesmo sem ainda te ter visto, como acompanhar-me-ás durante 12 meses, 365 dias, 8,760 horas, 525,600 minutos e 31,536,000 segundos é melhor que sejamos próximos desde o primeiro momento, pois quero ter uma boa relação contigo.

Sinto que eu o teu antecessor não tivemos uma boa relação, não gostei muito das surpresas que ele me atribuiu e acho que foi injusto comigo, mas mágoas para trás das costas, 2017 está quase, quase a terminar e como costumam dizer quero entrar em 2018 com o pé direito e é esse o motivo por que te escrevo.

 

Quero dizer-te que te vou receber de braços abertos e sem expectativas, mas com carinho, afinal as mudanças são sempre bem-vindas e tu és uma grande mudança, és uma oportunidade, és a renovação da esperança e a possibilidade de quebrar um ciclo, sei que és figurativo, és apenas um marco temporal, mas eu acredito que há ciclos bons e maus e tu serás um dos bons.

Não te peço nada a não ser tranquilidade, paciência, resiliência e perseverança, qualidades que 2017 não me concedeu, sei que com elas irei ultrapassar qualquer dificuldade que se atravesse no meu percurso e terei mais facilidade em aceitar o que não posso mudar.

Espero que sejas brando para o Mundo e para a Humanidade, estamos cansados e fustigados por tantas desgraças e tragédias, que tragas paz e harmonia e, se não for pedir muito, concede discernimento aos líderes de todo mundo, que eu e tu sabemos que a culpa de muitas calamidades é deles.

 

Querido 2018 receber-te-ei de braços abertos, só peço que não me dês esperanças vãs, pois o meu espírito não aguentará desilusões, está um bocadinho cansado de remar contra a maré, que tragas bons ventos em particular para mim e para os meus e em geral para o Mundo e todos os que nele habitam.

2018 da minha parte garanto que estou preparada para ser muito feliz contigo, agora vá lá faz a tua parte e seremos felizes juntos.

 

A tua sempre amiga,

Psicogata

 

 

 

Desejo a todos que 2018 vos conceda todos os desejos e vos permita concretizar todos os sonhos.

Feliz 2018!