Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Rui Pinto, a Justiça Portuguesa e os Portugueses

Rui Pinto é pessoa não grata, porque obteve provas de forma ilícita, essas provas não podem ser usadas em Portugal e os grandes criminosos passeiam-se nas ruas de nariz empinado enquanto Rui Pinto se encontra preso porque meteu o nariz onde não era chamado.

Há pouca justiça para estes justiceiros, que ignorando tudo e todos, têm a coragem de desafiar as pessoas mais poderosas do mundo, a maioria acaba preso ou exilado, em Portugal, país onde a denúncia é vista como pecado, não poderia ser de outra forma.

Os portugueses parece que ainda vivem no tempo da outra Senhora, do Regime, da Ditadura debaixo das barbas de Salazar, ainda acham que denunciar é feio e perigoso e que colaborar com as autoridades é sinal de fraqueza, só isso explica porque se dá sinais de luzes depois de passar por uma operação stop, se dias mais tarde forem assaltados pelos assaltantes que avisaram não é coincidência, é poesia.

Vê-se logo que não conhecem a história do Homem Aranha, que deixou passar o assaltante, com a agravante que depois não poderão vestir um fato de licra e salvarem o mundo para se redimirem.

É avisar possíveis meliantes, infratores, criminosos e a roubar o Estado, os pobres iluminados não percebem que só estão a roubar-se a eles próprios e a roubarem a possibilidade de terem uma velhice condiga, as palas destas pessoas não lhes permitem ver mais longe que o final de cada mês.

 

A polícia francesa fez uma cópia de segurança da informação de Rui Pinto, isto demonstra claramente o que pensam da justiça portuguesa e pensam muito bem porque é bem provável que a informação confiscada desapareça e depois de 32 inquéritos e comissões parlamentares para alimentar tachos e encher chouriços não se descubra quem carregou no delete, às tantas foi a senhora da limpeza a espanar o teclado.

Rui Pinto não deveria chefiar as investigações, não sou tão radical, mas devia estar sob proteção e a trabalhar em colaboração com polícia judiciária para prender os verdadeiros criminosos.

A desculpa dos atos ilícitos, da devassa da privacidade, da invasão do espaço privado, pode ter algum sentido, mas fica relegada para segundo plano quando em causa estão crimes bem mais graves, um verdadeiro exemplo dos fins justificam os meios e a Rui Pinto deveria ser atribuído o estatuto de denunciante como foi atribuído a Antoine Deltour pelo Supremo Tribunal do Luxemburgo.

 

É importante distinguir quando nos invadem o correio eletrónico para nos prejudicarem sem motivo de uma evasão para provar um crime, quem não deve, não teme e é curioso que se permita a monitorização de todos os nossos dados por grandes empresas que recolhem milhões de dados por minuto, mas fiquemos todos ofendidos porque alguém leu os nossos e-mails.

Não se preocupem que os hackers não estão interessados nos detalhes mórbidos e sórdidos, pelo menos estes que denunciam crimes, estão interessados em estratagemas, conspirações, crimes e teias ao mais alto nível, porque para denunciar é para denunciar em grande, para garantir um lugar na história, não fazem isso por altruísmo, mas independentemente de ser por vaidade ou por desdém, o que importa é que o continuem a fazer.

 

No combate à corrupção é importante legislar sobre a denúncia, permitindo o que no Brasil chamam a delação premiada, já que a figura que existe em Portugal, colocação premiada, pela sua configuração não é produtiva e eficaz, a capacidade de o Ministério Público negociar com um ou vários intervenientes para obter provas contra outros, especialmente dos cabecilhas, é uma importante ferramenta no combate à corrupção e permitiria quebrar os pactos de silêncio que os arguidos mantêm, silêncio esse que impede que as investigações avancem.

Na cabeça de muitos portugueses, culpa dos filmes e séries, isto é possível em Portugal, mas só é possível estabelecer acordos por denúncia se o criminoso denunciar livremente o crime até 30 dias depois de o cometer, é claro que isso não acontece, a menos que a polícia judiciária ande a rondar e este se aperceba.

 

Não sejamos crédulos, nem condescendentes, a justiça, assim como os políticos são o espelho da sociedade que temos, num país onde governantes condenados por corrupção são reeleitos, onde denunciar é malvisto, esperavam o quê?  

Políticos e autoridades em geral antes de serem quem são, são portugueses como nós, têm os mesmos valores, a mesma história, o mesmo entendimento e perceção da sociedade, quando algum escolhe ser e fazer diferente é-lhe imediatamente barrado o acesso, a ascensão, é assim em todo lado em Portugal porque haveria de ser diferente na política e na justiça?

 

Já cantava Zeca Afonso “o povo é quem mais ordena”, mas se o povo não estiver interessado em dar ordens, em exigir mudanças, o disco continuará arranhado e esta canção símbolo de uma revolução, não passará disso, de um símbolo e não de uma realidade.

 

A indignação por alguém ter a casa paga em 5 anos

Os portugueses são mesmo mesquinhos e invejosos, não conseguem ficar felizes com as conquistas dos outros e são incapazes de aprender com elas, acredito mesmo que é precisamente o contrário, o seu desporto favorito é rebaixar e arranjar justificações completamente absurdas para tentar diminuir essas conquistas.

Os portugueses perdoam tudo aos ricos, aos que têm tachos, aos que têm cunhas, justificam a sua miséria com a sorte dos outros e são incapazes de sair da sua concha e perceber que é possível fazer diferente, mesmo que eles não consigam há pessoas que conseguem, se pode parecer um milagre nesta sociedade castradora de mobilidade social, pode, mas que é possível é.

Este texto vem a propósito desta imagem no blog Contas Poupança, imagem inicialmente publicada no Facebook do blog e que gerou uma onda de comentários completamente absurda.

72219981_2553734954859868_2269183612211429376_o.jpg

 

 

É impressionante a quantidade de pessoas que sentem incomodadas com o facto de um casal conseguir liquidar o crédito habitação aos 35 anos, a par das incomodadas estão as incrédulas e as que tentam arranjar justificações, que não sejam as dadas pelo casal, para que isso tenha acontecido.

A pessoa escreveu que foi “ com muito trabalho, muita poupança e muita organização”, mas ninguém consegue acreditar nisso e dão as desculpas mais inusitadas e parvas, há mesmo quem fale em incapacidade e doença oncológica, mas está tudo doido?

Não sei que realidade conhecem, mas eu conheço casais que tinham a casa paga até antes dessa idade e não receberam nenhuma fortuna e não viveram reféns em casa como alguns sugerem, mas são pessoas muito organizadas, poupadas e ponderadas e espantem-se até têm carros novos.

Não tenho casa própria, mas tenho capital para a pagar uma (e isto é relativo pois depende muito do tipo de casa que estamos a falar) não recebemos nenhuma herança e não recebemos ordenados milionários, não vivemos fechados em casa e tivemos uma infelicidade na vida que nos privou de ter agora mais capital.

Esta postura irrita-me profundamente porque sofro com ela algumas vezes, assim como pessoas que conheço também sofrem, só porque escolheram organizar a sua vida de forma a não dependerem de créditos, nem todos temos essa escolha, é verdade, mas também não é preciso andar a pagar um crédito em 40 anos só porque o banco permitiu, mas se conseguem estar bem com essa situação, quem sou para dizer que fizeram uma má opção.

Cada um gasta o seu dinheiro como quer e leva a vida da forma que bem entende, as prioridades e escolhas de cada pessoa ou casal apenas a eles dizem respeito, não há formas piores nem melhores de viver, existem apenas diferentes formas de viver e encarar a vida, o dinheiro, por mais que nos custe admitir, faz parte da nossa vida e é uma parte importante, é o dinheiro que define muito do que somos, porque aquilo que somos também depende do que fazemos e o dinheiro condiciona o que fazemos e como nos relacionados, não tenham ilusões, o dinheiro até as nossas amizades condiciona.

O que me espanta é a dualidade de critérios, de uma forma geral, do que vou ouvindo, todas as pessoas dizem que o facto de não terem casa paga e de terem essa obrigação todos os meses lhes condiciona muito a vida e as escolhas, curiosamente não vejo nenhuma dessas pessoas interessada em estabelecer o pagamento da casa como prioridade, preferem gastar o dinheiro num sem fim de coisas à sua escolha, mas amortizar o crédito não é opção, e é simples de explicar, muito simples, financeiramente compensa, especialmente a quem tem filhos, porque neste país tudo favorece quem deve e não quem poupa.

Deixem-se de lamentos se querem estar livres desse fardo psicológico que é ter um crédito habitação, estabeleçam como prioridade a sua liquidação, se não é isso que pretendem deixem de criticar e atacar quem o faz, queriam agora o melhor de dois mundos, ter a casa paga e ter a dedução do crédito nas prestações da creche, no cálculo dos subsídios e dos abonos, era espetacular, mas não é possível.

Deixo-vos um conselho, analisem o vosso crédito, se calhar até poderiam pagar bem menos se fizessem um esforço para entenderem o que é pagam.

 

Ronaldo é o melhor do mundo e mesmo assim não chega

Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo, neste momento é-lo em título, mas mesmo que não fosse, se estivéssemos a comparar jogadores do mesmo nível, para mim seria porque é português e esse seria sem dúvida o fator de desempate, só que não estamos a comparar jogadores do mesmo nível, porque há o Ronaldo e depois existem todos os outros, já que Ronaldo não é comparável a ninguém.

Curiosamente para muitos portugueses Ronaldo não é o melhor do mundo, aliás alguns portugueses parecem ter até uma espécie de ódio de estimação ao jogador e esperam secretamente que este cometa um erro, só para o acusarem de não ser o melhor.

 

Não vou falar de estilo de jogo, efetivamente há quem prefira um jogador que construa a fama com fintas, até esses dizem que Ronaldo é um jogador muito completo, mas depois lá atiram – Gosto mais do estilo do Messi, Messi nasceu para jogar futebol.

O que eu lhes digo é que Messi pode ter nascido para jogar futebol, até pode ter nascido com a bola nos pés, mas Ronaldo nasceu para vencer, neste caso é no futebol, mas a sua capacidade de vencer não se esgota no campo, é assim em tudo na vida.

É precisamente esta capacidade de luta, dedicação, esforço e mérito que chateia os portugueses, porque nós perdoamos os craques que nascem com um talento inato, atribuímos o talento à sorte e não há nada a fazer contra a sorte – Ah teve sorte!

Os portugueses não suportam os esforçados, esses serão sempre os coitadinhos que têm de trabalhar muito para chegar ao topo – Ah é um jogador construído! Não é talentoso, treinou para ser assim!

 

Como é que se explica porque é que valorizamos mais uma pessoa que teve a sorte de nascer com um talento fenomenal do que uma pessoa que transforma uma apetência acima da média num talento de outro mundo?

Simples, porque pessoas como Ronaldo demonstram-nos que podemos sempre melhorar, evoluir, crescer, é claro que para transformarmos uma competência em algo grandioso, é preciso que essa competência seja acima da média, mas mesmo que não seja, é sempre possível fazer mais e melhor.

O mérito, o mérito tira do sério os portugueses, porque em Portugal só encontramos duas formas de chegar ao topo, a cunha e a sorte, nunca por trabalho e esforço.

Ronaldo é a antítese do português, é o esforçado que lutou para chegar ao topo, chegado lá continuou a lutar, nunca se dá por satisfeito, é o inconformado que quer sempre fazer mais e chegar mais além.

 

Os portugueses também não perdoam Ronaldo por este não ter aquela falsa humildade que tanto gostamos, não tem e ainda bem porque se ele é o melhor não tem de se envergonhar de o dizer em voz alta, mas também não é o típico gabarolas desbocado a quem perdoamos as graçolas por lhe darmos “um desconto”, o jogador é equilibrado até no discurso e até aí prova que é possível melhorar.

Cristiano é o melhor do mundo mas mesmo assim não chega para agradar alguns portugueses que preferem os sortudos e as cabeças de vento, esquecendo que podemos ter tudo para sermos grandes, mas se nos faltar o essencial, foco e inteligência nunca atingiremos o máximo do nosso potencial.