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Língua Afiada

Prazer com a desgraça alheia

Sinto um estranho prazer, uma sensação de justiça, quando alguém que se encontra a reclamar sem razão e a ser mal-educado não consegue escrever uma única frase sem um erro ortográfico.

Não deixa de ser maldade, mas dá-me imensa vontade de rir, não me orgulho disso, não devemos julgar as pessoas pela sua instrução, mas se dar erros pode ser compreensível, ser mal-educado não.

 

Por norma tenho atenção redobrada com pessoas menos capacitadas para resolver os seus problemas, ou porque não têm possibilidade de enviar um e-mail ou porque denoto dificuldades em expor a situação, desde que mantenham a educação, quando partem para o ataque, para a maledicência, a ameaça e a má-educação a vontade de os ajudar passa a ser zero, o problema é certamente resolvido, mas a atenção, a simpatia com que o faço são francamente diferentes.

Para quem lida com o público esta realidade não é desconhecida, pessoas mal-educadas e cheias de si são infelizmente comuns, mais uma vez sinto uma satisfação maldosa, odeio pessoas mal-educadas, ríspidas e com ares de superioridade e não consigo deixar de pensar que as coisas lhes correm mal por serem assim.

 

Existem exceções, pessoas que numa primeira fase estão muito aborrecidas e que por causa disso se exaltam, mas que após uma breve explicação compreensiva alteram o seu comportamento, já aconteceu diversas vezes no fim pedirem desculpas por terem sido ríspidas, é a esta a diferença de uma pessoa educada que se exalta devido ao stress de uma pessoa mal-educada e mal formada que mesmo quando percebe que não tem razão é incapaz de recuar e mudar de atitude, fará apresentar um pedido de desculpas, mais uma vez, sorrio internamente, claramente tratam-se de pessoas miseravelmente infelizes e que com níveis de compreensão muito baixos.

Geralmente as reclamações mais complicadas acabam por ser resolvidas pelo marketing e daí que a amostra seja muito complicada, é neste departamento também que se faz a gestão das redes sociais que é agora o canal preferido dos revoltados.

 

Por falar em karma parece castigo que eu que sempre disse que não queria vender, nem lidar com o cliente tenha acabado por fazer ambas as coisas, não há dúvida que a minha praia é a estratégia e o planeamento, especialmente na área da comunicação, mas quando é preciso ser-se polivalente, a solução é adaptarmo-nos, mesmo que para isso seja necessário reajustar a nossa personalidade, especialmente nos níveis de paciência.

 

As funções indesejadas acabaram por me dotar de novas ferramentas, colocando-me à prova todos os dias, posso afirmar que me fizeram mais paciente, compreensiva e diplomata, mas também um pouco mais “falsa”, já que estar constantemente a moderar-nos acaba por nos mudar, é por isso que em algumas situações a nível pessoal já opto por não dar importância e não reclamar e noutras encolho os ombros, sorri-o e penso pobrezinho estás tão enganado que nem mereces resposta, ficas tão bem na tua ignorância e voltámos ao prazer com a desgraça alheia, é mau, mas é reconfortante dá-nos algum sentido de justiça.

Terá o humor limite? Só para os terroristas.

Onde termina a graça e começa a ofensa de uma piada?
Só é ofensa se a piada não tiver graça?
Como se define se uma piada tem graça?
Faz-se uma sondagem? A quem?


Muito se tem falado que o humor tem limites, não acho que o humor tenha limites, acho que o que é limitativo é o nosso poder de encaixe.
É claro que os limites são diferentes de pessoa para pessoa consoante o seu sentido de humor e preferências humorísticas, nem todos gostamos do mesmo tipo de humor, o humor negro não é para todos, digamos que é preciso saber abstrair-se da desgraça para se rir dela.
Depois há a questão do tempo, há quem diga que algumas piadas foram feitas cedo de mais, mais uma vez quem define o timing de uma piada?

Há uns tempos todos eram Je Sui Charlie, hoje são Je Sui Charlie quando gostam da piada.

Podem falar de tudo menos de assuntos que nos toquem diretamente, a mais recente polémica é sobre a crónica de Diogo Faro - Um dia de praia, numa família de betos - publicada pela Visão, esta faz parte do livro Somos Todos Idiotas, um título interessantíssimo, comprava o livro só pelo título.
O autor viu a sua vida complicar-se porque no meio de um texto cheio caricaturas das famílias betas fez uma menção à Trissomia 21, uma afirmação polémica, mas merece ameaças de morte por isso? Obviamente que não.


Agora somos todos do Daesh?
Parece que sim. Basta alguém ir contra os nossos princípios, brincar com os assuntos que nos são caros para a que resposta seja terrorismo.
Que outro nome dar a quem faz uma ameaça de morte por ver as suas convicções colocadas em causa? Não é a diferença de crenças que está na base do terrorismo do Daesh? Para eles somos infiéis. Para alguns portugueses os humoristas são pérfidos não será a mesma coisa?
Há uma linha ténue que separa a piada da ofensa, mas uma crónica humorística boa ou má é uma crónica, não é uma ofensa, é uma caricatura exagerada e apenas isso.
A propósito tive oportunidade de estar com uma família de betos recentemente e posso dizer-vos que a crónica que ele fez não está assim tão longe da verdade, talvez seja esse o problema.
A capacidade de rirmos de nós próprios é uma virtude, não levem a vida tão a sério e especialmente não sejam terroristas, não se inflamem contra as atrocidades do Daesh para logo de seguida ameaçarem de morte e fazerem bullying a um humorista.

Cidadão ou Cidadania? Masculino ou feminino?

O Bloco de Esquerda apresentou projeto no parlamento para alterar nome do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania.

Segundo os mesmos o atual nome – Cidadão, não respeita a igualdade do género porque refere-se, segundo eles, só a homens.

Eu acho que eles deveriam ir mais longe e abolir o feminino e o masculino de todas as palavras, reformular toda a língua portuguesa e não haveriam mais descriminações.

Já agora aproveitem e eliminem o novo acordo ortográfico também.

 

Eu quanto a vocês não sei, mas a mim sempre me ensinaram que quando nos estamos a referir a um conjunto ou a algo geral devemos usar a palavra no masculino.

É verdade que existem algumas palavras que não têm definição de género mas o género acaba por ser definido pelos pronomes que as antecedem.

Dizemos utente, palavra sem género, mas quando usamos a palavra na generalidade usamos sempre o utente, os utentes.

 

Anda por aí um texto nos centros de saúde que diz:

“Os direitos do utente” – Descriminação e então as utentes não têm direitos?

O mesmo se passa com cliente, parece que só os homens são clientes.

 

Uma palavra que se usa muito é utilizador, mas é melhor deixarmos de usar porque é descriminação.

O utilizador poderá bla bla

A pessoa que usa poderá bla bla

Muito mais bonita a segunda opção.

Ah espera a pessoa será feminino?

 

Acho que devíamos reformular toda a língua portuguesa, já que ela maioritariamente favorece o género masculino, o que é perfeitamente natural dado que descende do galego-português que derivou para o português depois de, em 1113, se ter formado o reinado de Portugal, numa altura em que eram os homens a governar e a mandar.

Resumindo toda a língua descende de uma linhagem machista e discriminatória, é essa a sua essência, não temos outra solução se não rever toda a nossa língua para que deixe de ser discriminatória em relação ao género.

 

O que os deputados do Bloco de Esquerda parecem ter esquecido é que cidadania é um substantivo feminino, será que não é uma descriminação para os homens?

 

Só me ocorre um pensamento.

Com tanta descriminação contra o género feminino os deputados do BE focam esforços nisto?

 Não faltará muito para que quando se fale em descriminação de género as pessoas desatem a rir.

 

Por falar nisto tenho de terminar a história ou estória do Catarina.