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Língua Afiada

Covid-19 – A ignorância mata mais do que a guerra

Não fosse a ignorância a maior causadora de guerras, extermínios e outras situações catastróficas que a Humanidade se sujeita por falta de empatia, solidariedade, tolerância, bom senso e humildade.

O que tenho lido nas redes sociais e nos comentários das notícias sobre o Covid-19 é tão insano que chego a pensar se as pessoas em vez de neurónios têm piolhos no cérebro.

Entendo é que é mais fácil desvalorizar, negar do que enfrentar as complicações deste vírus, é mais fácil acreditar em teorias da conspiração do que na realidade, porque na verdade a realidade é muitas vezes menos romântica e apelativa, assim como é mais fácil culpar o Estado, as farmacêuticas, as multinacionais, a China e o bicho papão de todos os males do mundo do que assumir que fazemos parte do problema.

É uma pena que as pessoas não entendam que também fazem parte da solução, porque para fazer face a este vírus é preciso que todos façam sua parte na prevenção.

Todos sabemos que existem acéfalos desprovidos de sentido de vida que acreditam em historietas e teorias mirabolantes, agora ter esses acéfalos a divulgar as suas crenças constantemente e a fazer da evangelização anti-covid vida, é perigoso e deverá ser travado, a nível global, não é só monitorizar os tweets do Donald Trump.

A quantidade de publicações que fazem em alguns grupos a dizer que o Covid-19 foi criado para nos controlar é aterradora, o que eu ainda não consegui entender é o que é que os supostos controladores ganharão com isso?

A economia mundial está em queda, a níveis só vistos aquando o crush da bolsa de NY nos anos 30, corremos o risco de demorar anos a conseguir recuperar o tecido empresarial e a gerar o mesmo nível emprego, este vírus não mudou a nossa vida, virou-a do avesso e o que era tido como certo passou a incerto.

Por mais dinheiro que se receba da União Europeia, este não será suficiente para travar a regressão económica, será que as pessoas ainda não perceberam que muitos empregos se mantêm devido às imposições do lay-off, passando esse tempo o que acontecerá?

Acham mesmo que o Estado português tem dinheiro para suportar outro abalo? Esqueçam se tivermos de confinar novamente será a ruína do país.

A minha preferida é que há outras doenças que matam mais do que o Covid-19, ainda bem, se este vírus tivesse a mortalidade da gripe espanhola, provavelmente perderíamos metade da população mundial, isto porque nos nossos dias é quase impossível estancar o contágio, dado o fluxo de pessoas e mercadorias.

As pessoas parece que ainda não entenderam e o que está em causa não é impedir que as pessoas contraiam a doença, é prevenir que a contraiam todas ao mesmo tempo sobrecarregando os serviços de saúde, nem com o exemplo da Itália e da Espanha aprendem, não me espanta porque os próprios espanhóis não aprenderam a lição.

A ignorância das pessoas é tão grande, que existem pessoas infetadas a sair de casa para fazer compras, porque têm sintomas ligeiros ou estão assintomáticas e só por isso acham que não faz mal se infetarem outras, não sei se são mais estúpidas ou mais egoístas, mas são um perigo ambulante.

Sinto vergonha alheia do tenho lido e ouvido, os profissionais de saúde que conheço bem tentam alertar, mas as pessoas confiam mais em publicações e páginas duvidosas do que nos médicos e enfermeiros, é assustador perceber ao que as pessoas se agarram por medo de enfrentar a realidade.

Todos sabemos que as medidas de prevenção implementadas no SNS têm consequências para utentes com outras patologias, mas acham mesmo que isso não foi equacionado?

Se com todas as medidas há contágio de profissionais de saúde imaginem se os serviços funcionassem da mesma forma, acham mesmo que o SNS suportaria um surto como que aconteceu em Espanha e em Itália? Por acaso se deixassem isso acontecer as pessoas que morreram por falta de cuidados teriam esses cuidados ou haveriam muitas mais sem cuidados.

Pensem, usem a cabeça para pensar, não é assim tão difícil de entender o cenário.

Pensem antes de seguirem a manada dos que contestam tudo e todos e que acham que tudo isto é uma grande conspiração.

Se não existissem estas medidas não haveriam só mais mortes por Covid, haveriam mais mortes por todas as outras doenças.

 

Clara atende a chamada e não quer acreditar, o marido Rui teve um acidente e informam-na que é grave, corre para o hospital, mas as notícias não são animadoras.

- O seu marido precisa de ser internado nos cuidados intensivos, ainda está na ambulância, estamos a aguardar uma cama.

Volvidos 30m o médico regressa e diz – temos boas notícias o seu marido já foi admitido, o prognóstico é reservado, mas estamos confiantes, é jovem e saudável.

No momento seguinte o telemóvel de Clara toca novamente, era sua irmã.

Clara atende e do outro lado choro e soluçar, Clara diz à irmã para se acalmar.

Sara diz-lhe – Mana o pai acaba de falecer, nem sei como é possível, maltido Covid, disse-me uma enfermeira minha amiga que lhe devem ter desligado o ventilador, chegou um jovem acidentado a precisar de cama e acharam que tinha mais hipóteses de sobrevivência.

 

Irritações – tudo faz falta até açúcar!

Oh mentes desvairadas, desinformadas, retrógradas, atrasadas e estúpidas* quem é ainda acredita que o açúcar processado e adicionado artificialmente faz falta?!

* Desculpem os insultos mas se estas mães têm tempo para comentar posts de treta nos grupos de mães, também têm tempo para abrir o Google e pesquisarem sobre o que o açúcar faz ao nosso organismo.

A propósito de uma pergunta sobre se aconselham dar ou este composto lácteo da Cerelac:

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Hoje li isto “ Açucar para ter força” – com direito a erro ortográfico e tudo.

Numa alimentação diversificada e em conta, peso e medida não faz mal nenhum, só faz é bem. Necessitamos de tudo para viver. As bebidas gaseificadas, mc donalds, molhos, fritos também fazem mal e no entanto também comemos

Pela lógica desta mãe vamos lá dar tudo e mais alguma coisa às crianças porque o argumento é “também comemos”, só que nós escolhemos o que comemos e um bebé come aquilo que lhe oferecem, não escolhe.

A situação só piora quando percebo que há bebés com 5 meses a beber isto, quando na embalagem diz a partir dos 6 meses, a desculpa? A pediatra disse que não fazia mal. Fico na dúvida se a pediatra sabia qual era o produto ou se disse que sim porque já sabia que a mãe a ia ignorar, uma mãe que lê numa embalagem a partir dos 6 meses e espeta com o produto a um bebé de 5 meses deve dar a mesma importância à pediatra que dá às recomendações do produto.

E depois a quantidade de mães que dizem que os filhos adoram! Pois claro que adoram é extremamente doce, quem é não gosta de um docinho.

Isto mexe-me com os nervos, mexe porque sei que terei imensa dificuldade em controlar o que os outros dão à minha filha, já falei com a ama para não lhe dar nada com açúcar, mas claro que já provou bolacha Maria.

A ama da minha filha teve exatamente a mesma resposta, que precisamos de tudo até de açúcar, revirei os olhos, respirei fundo e expliquei-lhe que não precisamos de açúcar adicionado, mas sim dos açúcares naturalmente presentes nos alimentos. Para já acho que não vai inventar, mas terei de estar vigilante pois tenho a certeza que não terá problemas em dar-lhe alimentos doces quando for mais velha.

Um drama, parece que estamos constantemente a lutar contra a sociedade quando na verdade só queremos o melhor para os nossos filhos, e é efetivamente o melhor, está completamente desaconselhado dar açúcar a um bebé, especialmente até a 1 ano de idade, se conseguirmos prolongar até aos 2 anos, melhor ainda.

Sinceramente não sei o que estas pessoas têm na cabeça, dar bebidas com glúten antes dos seis meses? Substituírem leite materno ou de fórmula por um composto de leite com bolacha Maria?

Não venham com a desculpa de que se não são saudáveis, não deveriam estar à venda, como também li como desculpa, como se as pessoas fossem obrigadas a comprar e não tivessem oportunidade de ler os rótulos, é fácil sermos enganadas, mas podemos estar atentas, também comprei iogurtes naturais com sacarose, mas não volto a comprar.

Nos supermercados encontramos um pouco de tudo e não é por isso que tudo é recomendável, no caso dos alimentos para bebés deveria existir mais controlo, pelo menos nos alimentos dados a partir dos 6 meses.

Há uma marca de iogurtes para dar a partir dos 6 meses que tem sacarose e não deveria ter, devemos ser mais exigentes e recusar essas opções, as marcas, acreditem, vendem o que queremos comprar e não o contrário.

Sejam conscientes e se não se sentem capazes de avaliar os produtos falem com os pediatras, não peçam opiniões em grupos.

 

Língua Portuguesa - o que ensinam os pais aos filhos?

As línguas evoluem conforme a evolução da sociedade e do seu uso, é por isso que hoje encontramos no dicionário palavras novas que começaram como modas e que se enraizaram de tal forma que passaram a ter o seu lugar na nossa língua, como exemplo a palavra bué, o seu uso continua a estar associado a uma linguagem informal, mas já consta no dicionário.

Se o calão tem um papel importante na evolução da língua, também palavras formais podem ficar na moda e o seu uso passar a ser frequente, temos o exemplo da palavra procrastinar que de repente passou a estar em voga.

A língua sofre diversas influências e a forma como falamos e escrevemos está muitas vezes relacionada com o que vamos lendo, é por este motivo que a língua portuguesa tem sido ameaçada, têm-se disseminado um conjunto de tiques que degradam e retiram até significado ao que escrevemos.

Se há trejeitos utilizados por comentadores que viram moda e que não causam grande prejuízo por serem corretos, outros há que não fazem qualquer sentido e que são um verdadeiro atentado à língua portuguesa.

Ultimamente há um tique de escrita que tenho visto com frequência e que me irrita até aos ossos e me deixa de cabelos em pé, o uso indiscriminado e incorreto do advérbio de lugar – onde e do pronome relativo – que, a moda é tal que algumas pessoas parecem usá-los como muletas.

“estou com uma crise alérgica em que me afetou as pálpebras”

“fui ao médico onde me foi receitado”

“ liguei à pessoa XPTO onde ele me respondeu”

 

É incrível o que os lugares agora fazem, ouvem, falam e até prescrevem medicamentos.

Se estão a perguntar onde se encontram estas pérolas? Um pouco por todo lado, mas as redes sociais são férteis em exemplos, os Grupos de Mães são a maravilha das maravilhas no que toca parvoíces e a erros de português, o problema é que se propagam as parvoíces e os erros, se as parvoíces, na maioria das vezes, espero eu, terminam com uma ida ao pediatra, já os erros persistem.

Infelizmente e correndo o risco de generalizar, acho que os portugueses estão cada vez mais analfabetos, já que ser analfabeto nos dias de hoje não é não saber ler, nem escrever é muito mais complexo que isso.

Mudam-se os tempos, mudam-se as exigências, mas as pessoas não evoluem na mesma proporção e dou por mim a pensar como é que aquelas mães vão acompanhar o percurso escolar dos filhos quando não conseguem escrever uma única frase sem um erro ortográfico.

Não admira que ainda exista uma relação direta entre a escolaridade e nível social dos pais com o aproveitamento escolar dos filhos, seria de esperar que pessoas que têm 30, 40 e 50 anos estivessem hoje mais bem preparadas para acompanhar os filhos do que os seus pais estiveram, infelizmente não é verdade.