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Língua Afiada

A ficção ensina sobre a realidade – Facebook o Westworld social

“Não se trata de diversão, trata-se de perceber o que é que as pessoas querem, o que elas realmente desejam sem filtros, sem medo de julgamentos, se não vês o potencial deste negócio, então não és um homem de negócios que eu pensava que eras”.

A frase que não está transcrita literalmente é da série Westworld, retirada da cena em que William tenta convencer o sogro, um poderoso homem de negócios, a investir no parque de diversões, um parque para adultos onde estes podem viver as histórias e fantasias que desejarem, sem medo de julgamentos morais ou legais.

É impossível não interiorizar esta frase e não fazer um paralelismo com as redes sociais, especialmente com o Facebook, cujo real valor reside no conhecimento das preferências, escolhas, hábitos e interesses dos seus utilizadores.

 

A máquina é de tal modo poderosa que condiciona, escolhe as publicações que apresenta, toma a liberdade de decidir o que é ou não relevante para o utilizador justificando esse poder com a “qualidade do serviço”, essa qualidade é deveras irritante quando nos impinge conteúdos que tidos como relevantes porque um conjunto de pessoas, nada relevantes, aderiram em massa a esse conteúdo.

Um paradoxo, uma falha, os algoritmos são poderosas ferramentas, mas só uma inteligência artificial conseguiria discernir e avaliar o que é realmente relevante para cada utilizador, tecendo juízos de valor, analisando a sua personalidade, fazendo deduções e retirando ilações do que publica, comenta, lê, clica. Se isso acontecesse muito lixo deixaria de figurar no meu mural, isso sim seria qualidade de serviço.

 

Não obstante, o algoritmo conhece as nossas intenções de consumo e os nossos interesses, esses, mais fáceis de parametrizar, são informação valiosa para o marketing, é aqui que reside o potencial do negócio.

Pessoas sem medo de julgamentos, o Facebook e outros locais onde o cometário é livre e público dá-nos uma clara ideia do que as pessoas são quando não têm medo, muitas vezes escondidas por detrás de um pseudónimo, dão voz ao pior de si, ameaçando, insultando, espezinhando sem qualquer receio de julgamento ou punição.

 

É também nas redes socias que as pessoas podem aparentar ser aquilo que não são e ter aquilo que não têm, vivendo no mundo virtual o que não conseguem viver na vida real.

O Facebook é um gigante parque de diversões virtual onde as pessoas fazem o que lhes apetece, sem se aperceberem que estão constantemente monitorizadas, espiadas, na maioria das vezes com o seu próprio consentimento.

Um presente envenenado, não há nada mais sedutor do que pensar que se está no controle, quando na verdade se é sistematicamente controlado, influenciado e avaliado.

É nesta conjuntura que Mark Zuckerberg anuncia uma nova ferramenta de dating, aparentemente preocupado com os milhões de pessoas solteiras, este pretende ajudar as pessoas a encontrar o amor, quem ouve o seu discurso até poderá pensar que o faz porque tem um grande coração e não por razões monetárias.

 

A estratégia é fantástica, aglomerar a maior quantidade de serviços possíveis na plataforma potenciando cada vez mais a dependência dos utilizadores num claro caminho de se tornar na sua rede exclusiva.

Numa altura em que o espaço nos dispositivos móveis escasseia, a concentração de serviços numa só plataforma, numa só conta é uma vantagem competitiva para acabar com a concorrência e fidelizar utilizadores, na mesma medida que perfis para namoro fornecem informação mais detalhada e concisa dos utilizadores, material suplementar com alto valor comercial.

Não posso deixar de denotar uma espécie de descaramento na apresentação desta nova funcionalidade após a mais recente polémica, mas nada como oferecer um novo tema de conversa para que se esqueça o antigo.

 

 

Nota: Westworld é uma série fantástica, a seu tempo farei um review, mas posso desde já aconselhar vivamente a verem, é fabulosa.

The Walking Dead and Fear, The Walking Dead e Sócrates

Spoilers!

 

O Rick resolveu ser o bom da fita e não mata o Negan acha boa ideia prende-lo numa cela, ainda bem que o resto do grupo não concorda com ele, isso dá-nos esperança de ver Negan a morrer uma morte lenta e dolorosa e pagar pelos crimes que cometeu, se bem que a morte talvez seja um ato de misericórdia para ele, mas deixa-lo vivo não é de certeza boa ideia.

Esperava mais deste episódio, a série tem estado muito morna e basicamente deu para adivinhar o final, quando isso acontece é porque a série está a perder qualidade, estava-se mesmo a ver o grupo das Mulheres a aparecer para salvar o dia e que a grande surpresa que não foi surpresa nenhuma porque quando o Eugene disse ao Padre Gabriel para ter fé, adivinhou-se logo, seria a sabotagem das armas.

No início ainda pensei que Dwight tinha adivinhado o plano de Negan e que poderia existir uma grande reviravolta, mas não foi só mesmo previsível.

Ficam para a próxima temporada o grande plano de fuga do Negan e mais novidades sobre o helicóptero.

Um final muito morno, parado, sentimental e previsível, o ponto alto foi o murro que a Rosita deu a Eugene.

 

Passa-se sem paragem para Fear The Walking Dead e foi literalmente sem paragem porque quem é aparece logo no início? Morgan! Sim e logo depois percebemos que é depois de sair da lixeira, se The Walking Dead foi entediante o mesmo não se pode dizer do passeio de Morgan, de repente a personagem mais aborrecida de uma série é a personagem central de outra.

Confesso que já me estava a enervar não ver a família Clark, estavam a saltar uns anos na história e o que tinha sido feito dela? É por isso que existe uma repórter a quem eles agora contarão as suas histórias.

Esta reunião entre Morgan e a família Clark promete, pois creio que a certo ponto da história todas as personagens estarão juntas, mas não será para já, que há ainda muito a contar.

O próximo episódio se tiver de adivinhar vai começar com Madison e é bem possível que a série alterne entre passado e presente para nos contar o que aconteceu às personagens até ao presente.

O mais revelante é que Fear The Walking Dead sim agarra, cria expetativa, está muito melhor do que a série original que tem vindo a perder qualidade nas últimas temporadas, uma pena, porque a personagem Negan é fantástica.

 

Agora um aparte há mais alguém que ache que aquela cara de psicopata de Negan é parecida com a de José Sócrates?

Não sei se foi de ver a série logo após a Grande Reportagem da Sic, mas encontrei bastantes semelhanças.

 

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As minhas séries #6 La Casa de Papel

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***Não tem spoilers***

 

Das séries mais viciantes que já vi, assim de repente só me lembro de ter colado desta forma em The Game Of Thrones, queremos ver episódio atrás de episódio para desvendarmos o final, por várias vezes tive vontade de ver o último episódio só para perceber o destino daqueles assaltantes com nomes de cidades.

Um grupo de oito assaltantes recrutados e liderados pelo “Professor” passa cinco meses a estudar um assalto à Casa Nacional da Moeda Espanhola, entram no espaço e barricam-se com reféns no interior para imprimir milhões de euros impossíveis de rastrear, enquanto o Professor controla habilmente o assalto e as autoridades do exterior.

As personagens são fantásticas, muitíssimo bem construídas, começamos por sentir empatia pela causa, depois carinho pelos seus motivos e finalmente queremos que vençam, que saiam da Fábrica de Papel inteiros e bilionários.

 

Queremos que vençam os maus, porque na série os maus afinal são os bons, queremos que batam o sistema, que façam história, a certo ponto do enredo começamos mesmo a detestar alguns reféns, ganhámos cada vez mais respeito pelos assaltantes e só queremos que todos saiam são e salvos do assalto do século.

No meio e tanta tática, manipulação, estratégia e planeamento somos constantemente surpreendidos pelas soluções que o Professor encontra para resolver os diversos imprevistos que vão surgindo, situações limite que nos deixam em suspenso e que nos fazem querer sempre ver o episódio seguinte.

 

A história poderia ficar por aqui, mas não, pelo meio do brilhante plano e das diversas situações que acontecem, há tempo para conhecer as personagens, os seus medos, dilemas, sonhos, em cinco meses os membros do assalto tornaram-se a família que muitos deles nunca tiveram, mas o cansaço, o stress, a privação de sono e os contantes imprevistos fazem que com que estejam sempre a ponto de perder a cabeça e deitar tudo a perder.

Do lado de fora o Professor manipula habilmente e de perto as autoridades, aproxima-se de Raquel a inspetora responsável pela moderação com os assaltantes, se num minuto ouvimos as hilariantes conversas que ambos têm telefonicamente, nos minutos seguintes conversam presencialmente, enquanto receamos que o Professor dê um passo em falso e seja apanhado.  

A minha personagem favorita é a Tóquio, embora cometa muitos erros durante o assalto, o seu temperamento e a sua garra são incríveis, mas todas as personagens têm personalidades fascinantes e complexas.

O melhor da série é que é quase impossível adivinhar o que acontecerá a seguir, podemos adivinhar o final, mas nunca o caminho para lá chegar, na série toda só consegui desvendar um detalhe antes de ser desvendado no último episódio.

 

Pelo meio de tiroteios, stress e muita adrenalina há espaço para o amor e são várias as histórias que vamos conhecendo ao longo da semana que os assaltantes se barricam na Casa Nacional da Moeda.

É precisamente as constantes alterações do passado e do presente, entre o que se passa no exterior e no interior que dão uma dinâmica vertiginosa à série, pois em vez de abrandarem o ritmo dão-nos ainda mais vontade de conhecer o final do Professor, de Berlim, Tóquio, Rio, Nairobi, Oslo, Helsínquia, Denver e Moscovo.

No final da série há espaço para explicar alguns detalhes como a escolha das máscaras, da música, tudo pensado para vencer o sistema.

 

Uma nota se derem por vocês a dizer ou a pensar palavrões em espanhol, não se espantem, deve ser geral, é impossível não ficar com aqueles chavões na cabeça. Também podem tentar rir como o Denver, tentei e cheguei a conseguir.

 

Por mais tentador que seja fazer uma sequela, não o façam, é altamente improvável que consigam manter o nível de qualidade, uma série destas só se faz uma vez.

Quando terminarem a Casa de Papel ou se já terminaram, para não se sentirem órfãos de séries vejam “O Mecanismo” também na Netflix, falarei dela noutro dia.