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Língua Afiada

Quando o Covid-19 nos bate à porta – Não, não é uma gripezinha

Começou com dores de cabeça, embora não seja habitual ter dores de cabeça, associei ao cansaço do trabalho acumulado com consecutivas noites mal dormidas. Ao terceiro dia acordo com uma espécie de ardor na garganta e uma dor intercostal, nevrítica, desconfiei que pudesse ser Covid-19 por causa da garganta, mas a dor parecia derivada de outra coisa, tomei um benurum e aguardei, como era sábado fiquei em casa, os sintomas amenizaram só para piorar no dia no seguinte.

No Domingo a este quadro juntou-se uma tosse seca, embora muito espaçada e uma pressão no peito, o nosso corpo não mente, percebi que algo de muito errado se passava no meu organismo, quase que sentia algo maligno a tecer uma rede dentro de mim, senti prostração, uma vontade inexplicável de vegetar, estar quieta, sossegada.

Não haviam muitas dúvidas do que se tratava, pelo que na Saúde 24 mandaram-me imediatamente realizar teste, era Domingo, só consegui realizar o teste na segunda-feira e o resultado só chegaria na quarta-feira, mas o diagnóstico estava mais que dado, estava com Covid-19.

Quando às 7:30h da manhã a mensagem chegou nem me dei ao trabalho de alcançar o telemóvel, foi o meu marido que leu o resultado, eu não precisava da mensagem, sabia bem o que sentia e a minha única preocupação era não piorar ao ponto de precisar de oxigénio.

O Moralez estava com esperança que pudesse não ser Covid-19, não sei se era esperança ou querer que não fosse, mas a nossa vontade não comanda a nossa saúde. O próximo passo foi testar a ele e à nossa filha, ele mesmo com sintomas idênticos aos meus, embora um pouco mais ligeiros, testou negativo, a nossa filha sem sintomas testou positivo.

Confinamento, isolamento e esperar que o organismo combata o vírus sem consequências.

Os últimos sintomas a aparecerem foram o nariz congestionado e a perda de olfato e paladar, uma sensação muito estranha não conseguir cheirar absolutamente nada, rigorosamente nada, não é a maior desgraça do mundo, nem sequer é o sentido mais importante, mas a vida é muito diferente sem olfato, felizmente o meu foi recuperado poucos dias depois, voltou gradualmente.

O Covid-19 não é uma gripe, nem nada que se pareça, já tive gripes daquelas bravas que me atiraram à cama durante três dias, com dores no corpo e febre alta, tudo combatível com benurum ou griponal, passando a publicidade, é uma bomba mas uma bomba que resulta e quando necessário um anti-histamínico, com o Covid-19 a experiência é bem diferente.

Àqueles que dizem que isto se cura com benurum posso dizer-vos que o paracetamol às dores do Covid-19 faz cócegas, ajuda, mas não cura e não tira as dores e o mal-estar, para a pressão e dor no peito, respiração ofegante, fadiga constante e necessidade constante de respirar fundo para compensar a falta de oxigénio não há medicamento, há quando a situação complica o internamento para fazer oxigénio e nos piores cenários a ventilação.

Houve uma noite que senti que as coisas poderiam correr muito mal, como sempre que a minha filha chora levantei-me rapidamente e acorri ao quarto dela, estava inquieta, peguei-lhe ao colo e enquanto ela sossegava eu estava a acelerar, o meu batimento cardíaco estava acelerado, comecei a sentir suores frios, a sentir-me enjoada, fraca, impotente, pois por mais que pensasse que tudo correria bem, não sossegava, estava ali naquele limbo que se sente quando se está prestes a ter um ataque de ansiedade, mas não era ansiedade, era Covid-19.

A bebé sossegou, eu regressei à cama inquieta decidida que no dia seguinte acordaria melhor, esta situação repetiu-se novamente na noite seguinte, mas com menos intensidade, aos poucos a dor intercostal foi melhorando e a pressão no peito foi diminuindo e o alívio que é perceber que já não nos dói o peito quando respiramos fundo.

Como é possível termos necessidade de respirar fundo para compensar a nossa respiração e esse simples ato de respirar ser doloroso? É mau, muito mau, o segredo é manter a calma, mas ter consciência que há um ponto em que é preciso contactar o 112.

Tive um acompanhamento espetacular da minha médica de família e da minha enfermeira, sempre presentes, sempre muito atentas e preocupadas e sempre vigilantes, se sentires dificuldade em respirar tens de ligar o 112, não podes deixar uma situação dessas evoluir.

Felizmente não chegou a esse ponto, mas tive receio que pudesse chegar, sou saudável, não tenho qualquer doença diagnosticada, mas tive sintomas, sintomas dolorosos e assustadores.

Ninguém sabe o motivo de umas pessoas terem mais sintomas que outras, talvez um dia consigam entender o funcionamento deste vírus, o que sabem é que este vírus é altamente invasivo e contagioso e que se todos formos contagiados ao mesmo tempo viveremos um caos.

A pressão no SNS já é imensa, os números não param de aumentar, mas há quem prefira focar-se nos erros dos outros para se escusar de seguir as regras e as recomendações, perdoem-me mas só consigo apelidar essas pessoas de ignorantes e estúpidas.

Não se trata de concordar com tudo, não se trata de achar que as autoridades procederam bem e atempadamente, trata-se de fazer a única coisa que podemos fazer proteger-nos a nós e aos nossos o máximo que conseguirmos.

Podemos e devermos reclamar de como esta pandemia tem sido tratada, mas não é inteligente, nem prudente realizar manifestações e a acreditar em teorias negacionistas (convenientes) e de conspiração, neste momento a pandemia existe, é real e pode ser muito dolorosa, pode tirar vidas, a economia é importante, mas de nada nos servirá ter economia se não estivermos cá ou se tivermos de viver com a saudade dos nossos.

Para mim não importa a idade de quem morre, todos podemos morrer a qualquer momento por milhentos motivos, por milhares de doenças ou azares, será que só a mim me faz confusão que uma pessoa, mesmo que idosa, se vá devido ao Covid-19 por falta de cuidados?

Acham justo que se viva uma vida longa e se vá morrer de um vírus porque as pessoas escolheram que a sua vida vale menos do que a de uma pessoa jovem?

Custa assim tanto manter a máscara na cara e manter o distanciamento social? É assim tão importante fazer tudo hoje e agora colocando em risco o futuro?

 

 

P.S. Não foi confirmada a minha fonte (pessoa) de contágio, mas terá sido em contexto laboral.

Covid-19 e a irresponsabilidade e ignorância dos portugueses

Seremos sempre um país de terceiro mundo no que toca ao civismo e responsabilidade social, somos uma sociedade egoísta e oportunista e pior uma sociedade ignorante que escolhe ser ignorante.

O primeiro grande irresponsável foi o Estado e respetivos organismos que mantendo-se fiéis a si próprios não tomaram quaisquer medidas preventivas e a mensagem que passaram foi que as pessoas podiam regressar a Portugal de zonas infetadas e fazer suas vidas normais, sem quaisquer restrições e o que é que aconteceu? Um infetado disseminou o vírus, basta uma, uma pessoa para causar um efeito em cadeia catastrófico.

Os casos têm aumentado todos os dias e têm aparecido novos focos, uma pessoa fechou uma fábrica e colocou em estado de alerta umas quantas outras que privaram com ela durante um fim-de-semana em que se desdobrou em atividades sociais, tendo até sido DJ numa festa.

A grande questão é porque é que se permitiu que isto acontecesse? Não teria sido mais fácil ter prevenido do que agora estar a querer estancar o mal a todo o custo? Acreditem o custo será alto.

A legislação não é clara perante a quarentena e no concelho de Felgueiras as pessoas que estão de quarentena passeiam-se alegremente pelas ruas, há relatos de pessoas que terão ido de férias para o Algarve, típico português, não tenho sintomas, isto mata menos que gripe vou aproveitar que está bom tempo e ter umas férias pagas pelo Estado, ou seja, por todos nós.

Os relatos de comportamentos irresponsáveis estão por todo lado, é ridícula a quantidade de pessoas que não está a levar a sério este assunto, que fazem comparações parvas com a gripe comum ou a fome no mundo, atiram as maiores pérolas de ignorância e ainda as publicam e republicam para que outros tal como eles encolham os ombros e continuem a cumprimentar toda a gente com dois beijinhos, de preferência repenicados.

Não há paciência para tanta ignorância, leiam as notícias, vejam o que está a acontecer em Itália, protejam-se e percebam de uma vez por todas que isto não é uma gripe normal.

O Covid- 19 causa complicações que implicam a entubação e ventilação dos pacientes, não é preciso ser um entendido na matéria para saber que este tipo de equipamento não está disponível em larga escala em nenhum local do mundo, simplesmente nenhum sistema de saúde, por mais evoluído que seja, está preparado para um número elevado de casos ao mesmo tempo, se adoecermos todos ao mesmo tempo, as pessoas não morrerão do vírus, mas da falta de assistência médica porque não existirá forma de tratar todas as pessoa.

Esse cenário dantesco está a acontecer em Itália, pessoas morrem porque não existe capacidade para as tratar, não é por acaso que as mortes são maioritariamente de pessoas idosas, é que o critério passa pela análise de hipótese de sobrevivência e os mais idosos e mais frágeis são os que são colocados à mercê da sorte ou do azar.

O que iremos fazer se o número de casos aumentar exponencialmente? Decidir com base na possibilidade de recuperação, num país envelhecido como o nosso em que não se respeitam as regras, nem quero imaginar a tragédia.

A contenção da propagação é a solução, só contento o vírus é que teremos capacidade de resposta para tratar os infetados, o gráfico abaixo demonstra a disparidade da capacidade de resposta dos hospitais perante uma disseminação da doença sem contenção e com contenção.

Covid-19.jpg

Deviam fazer uma ampla campanha de divulgação e consciencialização da população sobre a importância de conter o vírus antes que seja demasiado tarde e fiquemos todos em quarentena.

Não há motivos para alarme, há motivos para tomar precauções e encarar o tema com a seriedade que merece, ser irresponsável e ignorante é que pode resultar num problema de saúde pública gravíssimo.

Cada um de nós pode ser um elemento ativo na consciencialização das pessoas, informem as pessoas mais próximas, não cumprimentem as pessoas, evitem o contacto físico e expliquem a quem não respeita estas indicações as complicações que esse comportamento pode causar.

Se todos fizermos o nosso papel será fácil conter o vírus, se ignorarmos o perigo acabaremos por nos colocar a todos em perigo.

Grupos de Mães do Facebook, Vacinas e Ignorância

Quando engravidamos há sempre uma amiga ou uma familiar que nos convida para fazer parte dos grupos de mães no Facebook, uma pessoa como lê em todo lado que deve falar com pessoas com filhos da mesma idade, lá aceita e a verdade é que no pós-parto aquelas conversas eram um bálsamo, muito me ri ao ler várias discussões, depois os nossos neurónios começam a trabalhar e rapidamente essas mesmas conversas deixam de ter piada para nos causarem irritação.

Atenção há grupos e grupos e alguns prestam informação relevante e têm moderadoras informadas que dão bons conselhos e que colocam ordem nas publicações, já noutros a confusão instala-se rapidamente e a ignorância multiplica-se à velocidade da luz.

 

A ignorância em relação às vacinas é recorrente, nem é preciso ir às extremistas que dizem que não se deve vacinar, há mesmo falta de informação entre quem procura vacinar e o que mais me espanta é que uma pessoa coloque uma pergunta num grupo, mas seja incapaz de colocar essa mesma pergunta no motor de busca Google, seria muito melhor que lessem as informações disponibilizadas pelas várias unidades de saúde privadas e pelas farmácias, nem é preciso ser um especialista para detetar a informação credível.

 

Há tempos era a confusão entre as vacinas da meningite, com o aparecimento de casos de Neisseria meningitidis dos sorogrupos A, C, W-135, prevenidos pela vacina Nimenrix, vacina que nos últimos anos deixou de ser recomenda devido à ausência de casos, sendo recomendada a Bexsero que previne a infeção pela bactéria Neisseria meningitidis do grupo B, o caos, a confusão entre as duas e a indignação por não existir uma vacina que protegia de todos os tipos?

Li tanta barbaridade, mas o mais grave não é a ignorância das pessoas, ninguém nasce ensinado, o mais grave é a autoridade supra superior com que algumas pessoas afirmam essas mesmas barbaridades, é normal não saber, agora não saber e deitarem-se a adivinhar, jurarem falso a pés juntos e desvalorizarem a opinião e a preocupação dos outros é inadmissível.

A estupidez é tanta que esgrimem farpas (nem lhes posso chamar argumentos) com profissionais de saúde, que se identificam e explicam ponto por ponto, mas nem assim as iluminadas conseguem ver a luz ao fundo do túnel.

 

Nova confusão agora com a vacina da gastroenterite, tanta desinformação, mas adoro acima de tudo as que gritam que não deram e que os filhos nunca tiveram, que bom para elas, isso não significa que os outros não possam ter, mesmo quando lhes dão exemplos de pessoas que não deram e tiveram crianças de seis meses internadas as iluminadas não conseguem perceber o que está em causa, porque a experiência delas, que se resume aos seus filhos, vale mais do que estudos científicos, é ciência no seu estado mais puro, é o que dá tanta vezes se repetir – “A mãe é que sabe!”

É verdade que alguns pediatras não recomendam esta vacina se as crianças não frequentarem a creche antes dos dois anos, porque isso reduz imenso o fator de risco, mas atenção que podem ser contaminadas em casa ou numa saída por alguém que se cruze com elas e um bebé pequeno com uma gastroenterite provocada pelo Rotavírus pode ser problemático, sim é apenas um tipo de vírus, mas é aquele que atira as pessoas, mesmo adultos, para a cama, agora imaginem o que faz a um bebé de meses.

 

É extremamente desanimador perceber que há uma grande fatia da população que é completamente ignorante em relação aos mais diversos assuntos, que não queiram discutir política, que não queiram discutir os problemas do país, os problemas da sociedade, até posso entender, se estivermos constantemente a pensar no que esta mal, nem conseguirmos sorrir, mas este desleixo, esta desinformação, esta ignorância com a saúde deles e acima de tudo com a saúde dos filhos deixa-me profundamente angustiada.

 

Não posso deixar de pensar quantos problemas poderiam ser evitados se as pessoas estivessem mais informadas sobre saúde, não admira que se continue a distribuir açúcar puro em formato de gomas às criancinhas nas festas de aniversário, a maioria das pessoas sabe que faz mal, mas não consegue entender, não tem capacidade para isso, a extensão do dano.

Há um longo caminho a percorrer na informação e na prevenção, não são apenas milhões de euros que podem ser poupados e canalizados para outro tipo de cuidados, são milhares de pessoas e crianças que podem ser poupadas a complicações de saúde e sofrimento.

Uma pena que as pessoas não usem as ferramentas que têm ao seu dispor para informar, mas para disseminar desinformação.