Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Também quero Exoneração

Exoneração será provavelmente a palavra-chave do mês de Julho, ouviremos e leremos muitas vezes esta palavra nos próximos dias.

E-xo-ne-ra-ção

  1. Libertar ou libertar-se de uma obrigação ou de um dever. = DESCARREGAR, DESOBRIGAR, EXIMIR
  2. Retirar ou retirar-se de uma função ou de um cargo. = DEMITIR, DESTITUIR


Neste texto iremos focar-nos na primeira definição - Libertar-se de uma obrigação ou de um dever.

 

Exijo exoneração sob pena de prejudicar os outros, não o Governo ou investigações, mas sob pena de prejudicar quem me rodeia.

 

Assim sendo peço exoneração das seguintes obrigações:

 

- De trabalhar à segunda-feira.

Trabalhar à segunda-feira não faz bem a ninguém, estamos muito cansados do fim-de-semana, precisamos de um dia para recuperar, só assim seremos produtivos, matam-se logo dois coelhos de uma só cajadada, deixámos de estar remelados no trabalho e aumentamos a produtividade do país.

 

- De pagar impostos

É desanimador todos os meses ver uma boa fatia do meu rendimento sair assim sem autorização para os cofres do Estado, mais desolador é ainda verificar que os meus impostos são encarados com total leviandade, é que parece que o Estado não sabe bem o que fazer com eles. A minha proposta passa por ser eu a gerir os meus impostos, prometo que não serei soberba e darei uma pequena percentagem para pagar os ordenados dos políticos, mas nada de luxos, assim tiro esse peso avassalador do das costas do Estado.

 

- De aturar pessoas parvas

Faz-me mal e faz-lhe mal a elas, por isso exonero-me de as aturar, isto funcionaria de uma forma muito simples sempre que alguém parvo tivesse a ideia peregrina de me chagar a cabeça eu diria as palavras mágicas – exonero-me de te ouvir e elas iriam à sua vidinha e seríamos todos felizes.

 

- De conduzir no trânsito

O trânsito deve ser provavelmente o motivo maior para elevar os meus níveis de stress, não deveria existir trânsito, ponto, agora que falo nisso também não deveriam existir pessoas parvas e quase que uma coisa resolvia a outra, resolvido o mistério da parvoíce, acabem com o trânsito, a parvoíce diminuirá a pique, as pessoas parvas perderiam a oportunidade de ser parvas e o trânsito seria extinto.

 

- Das tarefas domésticas

São aquelas coisas que só servem para ocupar tempo por isso exonero-me de limpar e arrumar a casa, de tratar da roupa, especialmente passar a ferro, de planear as refeições, de fazer compras. Não me importo de cozinhar desde que os ingredientes estejam todos na dispensa e que alguém me diga qual é a ementa.

 

Existiriam muito mais coisas para pedir exoneração, mas não quero abusar, estas para já seriam suficientes.

 

E vocês de que pediriam exoneração?

Sei que é segunda-feira, mas sejam criativos.

Depois do São João a segunda-feira é difícil

Depois de um grande fim-de-semana que foi de dois dias, mas parece que foi de três, a segunda-feira é difícil.

 

Na sexta saímos do trabalho e só deu tempo de trocar as sandálias pelas sapatilhas e rumar ao São João no Porto.

Escolhemos ir de comboio, a CP disponibilizou bilhetes pelo preço especial de 2€ ida e volta, infelizmente não fomos a tempo de apanhar a promoção, mas num dia em que o Porto é 100% confusão o melhor é mesmo optar pelos transportes públicos.

 

Não tínhamos marcado jantar, uma loucura, mas nós gostamos de arriscar tudo e apesar do São João pedir sardinhas nós optamos pela francesinha e um dos restaurantes mais complicados de jantar no Porto, estava com filas de espera bem mais pequenas que o normal, jantamos no Lado B – A melhor francesinha do mundo, não sei se será a melhor, mas é muito boa, apesar de na sexta estar um bocado mais picante do que o habitual.

 

Terminado o jantar era hora de escolher o melhor spot para ver o fogo-de-artifício, não foi fácil, eu quero sempre ir para o melhor local possível e fomos das Fontainhas para a Sé e da Sé começamos a descer as escadinhas à procura de uma varanda com boa vista, fomos descendo até chegarmos à Ribeira e a 30m da meia-noite conseguimos subir para a muralha e ter uma das melhores vistas para a ponde D. Luís e para o rio Douro.

Foi uma pena o atraso do fogo, numa total falta de respeito pelas autoridades e pelos milhares de pessoas que aguardam a sessão de fogo, alguns barcos cruzaram os limites de segurança. Mas valeu a pena a espera, mais uma vez o fogo não desiludiu, há vários anos que não tinha coragem de ir para a confusão da Baixa no São João, já tinha saudades do espírito que se vive nas da cidade, do som dos martelos, dos arraiais, do convívio e boa disposição contagiantes.

Do que eu não tinha saudades era das situações degradantes, pessoas em estado alcoolizado é normal, é frequente, mas estava longe de imaginar assistir a um cenário tão insólito, homens a urinar em todo lado, nem sequer era nos cantos era em todo lado e mulheres, mulheres que baixavam as calças e subiam as saias e ficavam ali com as partes íntimas expostas para se aliviarem no meio de dezenas de estranhos, todos eles na posse de telemóveis com câmara fotográfica.

Nem na Queima das Fitas vi isto a acontecer.

Existiam alguns WC’s portáteis espalhados pela cidade, mas claramente insuficientes para a multidão que invadiu as ruas, pois às 20h da noite já era impossível passar ao seu lado, tal era o cheiro que emanavam. Uma pena um Festa tão bonita ser estragada pela falta de condições de higiene.

 

Questões sanitárias à parte o São João continua a ser a noite mais longa do ano, onde a folia toma conta de nós e não há cansaço que nos assista, andam-se km, pula-se, canta-se, trocam-se palavras, sorrisos e gargalhadas com desconhecidos como se fossem amigos de infância.

É uma noite sem ímpar e a noite este ano esteve perfeita, amena, sem calor e sem frio, com céu estrelado como se quer, faltaram os balões, viram-se alguns à rebeldia, mas faltou a magia das centenas de balões a iluminar o céu, mas no meio de tanta festa, foi detalhe sem relevância.

 

No dia 24 decidimos ir conhecer o São João de Sobrado, conhecido pela guerra entre Bugios e Mouriscos, é uma festa diferente onde os coloridos trajes tracionais marcam a diferença, é uma festa um pouco arriscada, pois é fácil sermos sujos pelas personagens mascaradas e até deitados ao chão, há que manter uma distância razoável para assistir aos desfiles e às lutas.

Estivemos pouco tempo e não assistimos aos principiais cortejos e encenações, mas para o ano conto voltar para ver com mais detalhe o desenrolar da história que recria a guerra entre Mouros e Cristãos, podem saber mais sobre esta tradição aqui.

 

 

 

 

Bugios em descanso #sãojoão #sobrado #party #portugal 🇵🇹 #portugalcomefeitos #instaphoto #instagood #instagram #bestoftheday #tradicion

Uma publicação compartilhada por Língua Afiada (@linguafiadablog) em

No Domingo o dia foi passado em família e durou mais do que o desejado, estivemos o dia todo fora de casa e quando me deitei estava exausta, escusado será dizer que acordei igualmente exausta, agora tenho de recuperar as horas de sono e o cansaço durante a semana, porque o próximo fim-de-semana promete ter o mesmo nível de festa.

Sonhar acordada

Segunda-feira, provavelmente o dia mais odiado da semana, o dia em que abandonamos o livre arbítrio para nos regermos por horários pré-determinados e funções pré-estabelecidas.

Não há nada melhor do que ter tempo para não fazer nada, tão bom, mesmo que por vezes seja um desperdício, é tão bom, faz bem, recomenda-se, precisamos de folgas, de desligar, de verdadeiramente não termos que pensar em nada, apenas no que nos apetecer.

 

Para quem, como eu, nasceu a reclamar das rotinas, nunca gostei que me mandassem fazer alguma coisa, com pouco mais de um ano decidi que não queria dormir de dia e não havia forma de me adormecerem, ter um emprego com um horário rígido é basicamente uma prisão.

Sorte a minha que é uma prisão com amplas janelas e varandas só finitas pela minha imaginação, não se pode conter o espírito e esse leva-me a locais longínquos, locais nunca alcançáveis pelas minhas pernas, nunca palpáveis pelas minhas mãos.

 

E é assim que num dia em que os meus neurónios parecem estar de folga para executar as tarefas mais básicas, salva-me o modus operandis automático, a minha imaginação sobrepõe-se à razão, às obrigações e assume o controlo, dou por mim a viajar à velocidade da luz aos locais mais belos e inusitados, a deambular por ruas desconhecidas com edifícios incríveis, a cruzar oceanos e a ancorar em paradisíacas praias desertas.

Ouço um ruído, desperto do meu sonho acordado, há tarefas a executar, questões a resolver, assuntos a tratar, atendo o telefone e penso em silêncio, enquanto profiro outras palavras:

- Tão bom sonhar acordada!