Sustentabilidade a palavra de ordem do século 21, a palavra da moda, ouvimo-la em discursos políticos, em palestras de economia, nas aulas, nas notícias, nos estudos, escrita nas missões das empresas, impregnada nos objetivos empresariais e pessoais, o crescimento sustentado é a solução para todos os problemas, o santo Gral da economia, do capitalismo, do sucesso.
Vivemos e respiramos para a sustentabilidade, mas esquecemo-nos da sustentabilidade mais importante, a sustentabilidade da vida.
Não me refiro à sustentabilidade da nossa vida, a essa série de eventos que acontece entre o nascimento e a morte de uma pessoa, essa vida nada mais é que uma gota que cai na terra instantaneamente absorvida e esquecia, matéria que se transforma e reintegra, uma infinidade de nada na vastidão do Universo, um mícron no tempo dos Planetas.
Refiro-me à vida na verdadeira ascensão da palavra, a todos os seres vivos, ao ecossistema terrestre, ao Planeta azul o único planeta vivo que conhecemos, a única sustentabilidade que nos deveria preocupar neste momento é a da Terra.
O único ser vivo com consciência, o humano, é o mais limitado, somos e fomos capazes de grandes feitos, a evolução da nossa espécie até aqui é mais fácil de explicar através de um milagre do que pela ciência, e no entanto com tanto conhecimento, tanta ciência, tanta tecnologia somos tão limitados e tão ignorantes, estupidamente certos que o importante é o tempo que aqui passamos mesmo que para isso em vez de deixarmos um legado, deixemos um rasto de destruição, tão presos ao nosso bem-estar e egoísmo que escolhemos ignorar o que se passa à nossa volta, contribuindo para o esgotamento, desastre e colapso do mundo.
Tenho vontade de rir quando vejo as pessoas preocupadas com a subida dos juros ou com a possibilidade de uma nova crise económica, ainda mais me rio quando se preocupam em ter dinheiro para o telemóvel mais recente ou quando perdem tempo em comparações de poder económico, cegas pela vaidade e pela ganância, afinal não basta ter dinheiro é preciso que os outros saibam que o têm.
Ontem chorei ao ver as imagens do conflito em Ghouta Oriental, senti-me pequenina, insignificante e petulante por estar confortavelmente sentada no sofá, com alguém que amo ao meu lado, depois de um jantar farto após um dia de trabalho produtivo, senti-me encolher perante aquela realidade atroz, o que fazemos? Continuamos as nossas vidas, afinal temos os nossos próprios problemas, os nossos dilemas e não podemos estar sempre a pensar nas desgraças do mundo, é isso que dizemos a nós próprios para conseguirmos fechar os olhos e dormir um sono descansado.
Não dormi bem, estava demasiado agitada, nem o filme que vi depois me fez desligar daquelas imagens, do menino que gritava desamparado e inconsolável.
Poderíamos preparar um mundo melhor para todos, mas os homens preferem brincar a quem tem mais poder, quem é que assusta mais, mais parecem que estão no wc do infantário a medir os órgãos genitais.
Enquanto a guerra e a fome assolam países inteiros, quando acontece um genocídio em pleno século XXI acobertado por um Nobel da Paz, continuamos impávidos e serenos e se a morte e desgraçado dos outros não nos afeta, a ameaça de morrermos à fome deveria, mas o que nos preocupa realmente é saber se amanhã chove ou faz sol.
O Planeta Azul deixou de sustentável, deixou de conseguir providenciar fartura para a nossa fome insaciável de tudo, exploramos desenfreadamente os seus recursos naturais e damos-lhe lixo, uma troca injusta e impossível de sustentar, por mais espetacular e fantástico que seja o nosso ecossistema, há limites e nós há muito que os ultrapassamos.
Hoje, nem que seja só por hoje, não estou preocupada com política, economia, dinheiro, estou preocupada com a sustentabilidade da Terra, pensativa, inquisitiva, será este mundo que queremos deixar para as próximas gerações, merecerão os nossos descendentes herdar esta sociedade consumista e egoísta?
Em breve teremos uma crise do bem mais essencial à vida, teremos uma crise de água potável, mas ninguém parece realmente preocupado, ao mesmo tempo culturas estão ameaçadas pelo aumento da temperatura global, os oceanos e consequentemente os peixes estão poluídos, o consumo excessivo de carne de vaca está diretamente ligado à destruição da camada de ozono, temos culturais intensivas de cereais transgénicos, uma desfloração excessiva afeta a qualidade do ar, estamos a matar o pulmão do mundo, mas o que interessa é saber quem é mais perigoso e quem manda mais.
Somos tão pequeninos, tão inconsequentes, crianças mimadas e egoístas, somos os criminosos que nunca serão julgados, cujos crimes só serão reconhecidos quando formos pó, passado e nada.
Talvez sejamos ainda julgados, talvez seja ainda neste século que a catástrofe natural e ambiental nos esmague na nossa insignificância, talvez tenhamos de enfrentar os crimes que cometemos, o dia do juízo final não será ministrado por uma entidade celestial, mas uma entidade celeste, o nosso próprio planeta.