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Língua Afiada

Barcelona

Tenho no baú das memórias um post sobre Barcelona, sobre a magnífica cidade que adorei conhecer, passeamos pelas Ramblas todos os dias, estávamos alojados num apartamento relativamente próximo e Barcelona é uma cidade que pede para ser calcorreada e nós não ficamos indiferentes ao seu apelo e caminhamos pelas suas avenidas, ruas, vielas, jardins fascinados pelos aromas, pelas cores, pela cultura, pelo ambiente descontraído que a cidade respira.

 

Na altura, apesar de os atentos terroristas em França e das constantes ameaças do Daesh, não me deixei afetar, a cidade absorveu-me de tal forma que a ideia de um ataque terrorista não me cruzou o pensamento, mas cruzou diversas vezes o do meu marido, o Moralez por várias vezes me confidenciou estar sempre atento, não fosse avistar um veículo operado por um terrorista, recordo-me de uma vez precisamente no fim da Ramblas me dizer – “Já viste se decidem entrar aqui com um camião?

 

Ontem decidiram, não foi com um camião, mas com uma carrinha, atropelaram dezenas de pessoas, 13 vítimas mortais e mais de uma centena de feridos em mais uma atitude ordinária e inqualificável.

Não posso dizer que não tenho medo de um atentado, tenho, mas o meu maior receio é que as pessoas comecem a ver os ataques terroristas com normalidade, como atos que fazem parte das suas vidas, não se compadecendo, revoltando e questionando, como já fazem em relação a tantas outras situações terríveis.

 

Será essa a realidade num futuro próximo?

Mais do que viver com a nuvem negra da ameaça, desconfiando da própria sombra, assusta-me que isso passe a ser normal, pois a distância entre a exceção e a normalidade é medida pela frequência, e estão a ser demasiado frequentes.

Por mais frequentes que os ataques terroristas sejam, por mais que nos queiram assustar e reprimir, não se deixem amedrontar e não fiquem indiferentes.

Um ataque terrorista é um atentado contra a justiça, contra a igualdade, contra a liberdade, é um atentado contra a humanidade.

Não percamos a nossa humanidade e empatia, é isso que nos diferencia de quem os comete, é a defesa de um mundo mais justo, da igualdade e da liberdade que a nossa força reside.

Na Passadeira Vermelha do Delito de Opinião

Foi com imenso prazer que aceitei o convite para escrever um texto para o blog Delito de Opinião, um blog de eleição, que aborda temas tão pertinentes.

Tratando-se de um blog de opinião e que se centra, maioritariamente, nos temas da atualidade escolhi um que está na ordem do dia – Terrorismo.

Podem ler aqui a minha opinião.

Mais uma vez agradeço ao Pedro Correia pelo seu gentil convite.

Espero que gostem do meu delito, eu adorei a passadeira.

Terá o humor limite? Só para os terroristas.

Onde termina a graça e começa a ofensa de uma piada?
Só é ofensa se a piada não tiver graça?
Como se define se uma piada tem graça?
Faz-se uma sondagem? A quem?


Muito se tem falado que o humor tem limites, não acho que o humor tenha limites, acho que o que é limitativo é o nosso poder de encaixe.
É claro que os limites são diferentes de pessoa para pessoa consoante o seu sentido de humor e preferências humorísticas, nem todos gostamos do mesmo tipo de humor, o humor negro não é para todos, digamos que é preciso saber abstrair-se da desgraça para se rir dela.
Depois há a questão do tempo, há quem diga que algumas piadas foram feitas cedo de mais, mais uma vez quem define o timing de uma piada?

Há uns tempos todos eram Je Sui Charlie, hoje são Je Sui Charlie quando gostam da piada.

Podem falar de tudo menos de assuntos que nos toquem diretamente, a mais recente polémica é sobre a crónica de Diogo Faro - Um dia de praia, numa família de betos - publicada pela Visão, esta faz parte do livro Somos Todos Idiotas, um título interessantíssimo, comprava o livro só pelo título.
O autor viu a sua vida complicar-se porque no meio de um texto cheio caricaturas das famílias betas fez uma menção à Trissomia 21, uma afirmação polémica, mas merece ameaças de morte por isso? Obviamente que não.


Agora somos todos do Daesh?
Parece que sim. Basta alguém ir contra os nossos princípios, brincar com os assuntos que nos são caros para a que resposta seja terrorismo.
Que outro nome dar a quem faz uma ameaça de morte por ver as suas convicções colocadas em causa? Não é a diferença de crenças que está na base do terrorismo do Daesh? Para eles somos infiéis. Para alguns portugueses os humoristas são pérfidos não será a mesma coisa?
Há uma linha ténue que separa a piada da ofensa, mas uma crónica humorística boa ou má é uma crónica, não é uma ofensa, é uma caricatura exagerada e apenas isso.
A propósito tive oportunidade de estar com uma família de betos recentemente e posso dizer-vos que a crónica que ele fez não está assim tão longe da verdade, talvez seja esse o problema.
A capacidade de rirmos de nós próprios é uma virtude, não levem a vida tão a sério e especialmente não sejam terroristas, não se inflamem contra as atrocidades do Daesh para logo de seguida ameaçarem de morte e fazerem bullying a um humorista.