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Língua Afiada

O meu primeiro ataque de ansiedade

Hoje tive o meu primeiro ataque de ansiedade, tenho consciência que foi leve, talvez tenha tido sorte, talvez tenha reconhecido os sintomas e o facto de ter respirado fundo e pensar - É ansiedade já passa - tenha contribuído para que tenha passado mais rapidamente.

Senti o primeiro sinal ao início da manhã enquanto subia a escadaria para o escritório, tremores, arrepios, temperatura elevada, batimentos cardíacos acelerados e falta de ar, ao sentar-me comecei a melhorar e regularizei a respiração e os batimentos cardíacos.

Não estive bem durante toda a manhã, ainda não estou, mas antes da hora de almoço assustei-me, os sintomas voltaram mas com mais intensidade e por momentos pensei que iria ter um colapso, cruzou-me a mente a possibilidade de ser um ataque cardíaco e só depois pensei estou a ter um ataque de ansiedade.

Acho que foi esse pensamento que controlou os sintomas e o ar aos poucos voltou a fluir normalmente, por momentos pensei pedir para me levarem ao hospital, depois pensei ligar ao meu marido, mas lentamente o meu lado racional chamou-me à razão e fui-me acalmando.

Depois deste episódio voltei a ter os sintomas durante o almoço mas respirando fundo consegui que não escalassem, mas sinto-me instável, uma espécie de bomba relógio prestes a explodir e receosa de voltar a sentir e a experienciar os mesmos sintomas.

Não é mentira quando nos dizem que parece que vamos morrer, é mesmo essa a sensação, a par com a impotência e a confusão, sentimos que algo de muito grave se esta a passar connosco e não conseguimos controlar o nosso corpo.

 

Sou uma pessoa calma, não costumo ficar ansiosa e não tenho por hábito pensar muito nos problemas, os que dependem de mim resolvo, a maioria a vida resolve e os sem solução nada mais resta do que aceita-los, mas nos últimos anos tenho acumulado stress a nível pessoal e a nível profissional, com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo já me tinha perguntado quando me iria abaixo, porque há limites para tudo e senti que estava próxima do meu.

Sou resiliente, sou capaz de terminar um ataque convulsivo de choro com o simples pensamento - Não sou assim, não é um entrave na vida que me vai derrubar e coloco um sorriso nos lábios, porque a vida é acima de tudo como a encaramos.

 

Mas não há heróis nem heroínas, todos temos um limite e quando o ultrapassamos pode ser tarde demais para voltar atrás, gerir o stress e evitar que ele se converta em ansiedade é complicadíssimo, não há uma fórmula mágica, na teoria é tudo muito simples, mas na prática lidar com isso é uma aprendizagem pessoal de várias etapas, com vitórias e derrotas, com avanços e recuos.

 

Escrevo para exorcizar os demónios que me assolam a serenidade, ao descrever o que sinto e o que penso a razão das palavras sobrepõe-se às emoções e acalmo-me, é uma terapia e um escape e uma forma de me isolar em mim e de me entender.

Sinto-me mais calma agora e espero pacientemente que o dia termine e que este episódio não passe apenas de uma má memória, esperançosa que nunca mais se repita.

 

A ansiedade a par com o stresse, geralmente andam de mãos-dadas, são na minha opinião as doenças deste século, mesmo com a propagação de doenças como a Diabetes, doenças cardiovasculares e o flagelo do Cancro, devido às suas especificidades a ansiedade e o stress são piores.

São piores porque pioram e escalam qualquer outro problema de saúde, são piores porque são a causa de outras doenças e são piores porque apesar de serem doenças do foro psicológico sintomatizam-se fisicamente.

São perigosas porque são desvalorizadas e porque o tratamento é complexo, recorrer a drogas que afetam a nossa forma de estar e pensar é um passo muito difícil e depois da decisão há o perigo da dependência e há ainda o estigma social, o preconceito de que quem adoece psicologicamente é fraco, débil e incapaz de lidar com as dificuldades da vida.

 

Não somos sobre-humanos, devemos exigir menos de nós e da vida, devemos saber parar e acima de tudo devemos arranjar tempo para respirar, experienciar bons momentos na companhia de quem amamos, sempre que possível caminhar ao ar livre, apanhar sol e viver a vida, sentindo-a, agarrando-a, antes de a vermos passar num flash diante dos nossos olhos.

Se sofre de ansiedade constante procure ajuda, é um problema de saúde grave e angustiante e não tem de passar por isso sozinho.

 

Hoje tive o meu primeiro ataque de ansiedade e espero que tenha sido o último.

Inveja

 

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Nunca se falou tanto de inveja como agora, dizem que foi disseminada primeiro pela era da informação, não soubessem as pessoas como viviam os outros não invejariam essa vida, depois aumentada exponencialmente pelas redes sociais, quando a vida não só de famosos, mas de todos é exposta, é sujeita ao escrutínio, à falácia e claro à inveja.

A diferença reside na forma como vê-mos a vida dos outros, a vida das celebridades por norma inspira-nos, a vida dos nossos semelhantes fragiliza-nos.

 

Temos sempre justificação para o sucesso, um nascimento privilegiado, um talento e/ou inteligência inigualáveis, sorte, quando não há justificação o motivo é a sorte.

Estas justificações funcionavam quando não conhecíamos bem as pessoas, quando não acompanhávamos passo a passo o seu crescimento, quando desconhecíamos o seu trabalho, a sua dedicação, as suas condições e dificuldades.

Agora que conhecemos é muito mais difícil lidarmos com o seu sucesso, nem que seja um sucesso ilusório e destorcido.

É mais difícil porque percebemos que não é sorte, às vezes nem sequer é talento ou inteligência, é luta, é coragem, é correr riscos, é sair da zona de conforto, é dar um salto de fé, de confiança que nem todos conseguem dar.

Assim como é difícil conviver com a aparente felicidade constante, as pessoas parecem sempre felizes, uma ilusão dada pelos bons momentos partilhados, sabemos que ninguém é sempre feliz, mas duvidamos disso quando os outros parecem estar sempre felizes.

 

Quando o discernimento fica toldado pela ausência da lógica instituída, a mente tem necessidade de recorrer a outros meios de lidar com a frustração, inveja é o mais comum.

Quando vê-mos alguém que tem algo que desejamos, podemos ter vários tipos de reação, há quem tente roubar num ato tresloucado de cobiça, há quem se inspire e procure seguir o mesmo caminho na esperança da conquista, há quem sinta inveja e se consuma num misto de frustração e ciúme e há quem deseje, mas tenha consciência que não é alcançável e simplesmente se resigne.

Há ainda os que têm consciência que para atingir tal meta é necessário muito trabalho, dedicação e abdicação, nada se consegue sem abdicar de algo, é o chamado custo de oportunidade, esses, os conscientes são, na minha opinião, os mais felizes.

 

Olho para mim e tenho dúvidas se estou entre os resignados ou entre os conscientes, estou entre os dois, dependendo da situação, já me resignei que há coisas que nunca serei, porque não fazem parte de mim, não se adequam à minha linha de pensamento, enquanto que há coisas que tenho plena consciência de como as obter, mas não quero perder o que teria de perder para as conquistar.

O problema reside na inspiração, há tantas pessoas e tantas coisas que me inspiram, é aí que reside o dilema, perseguir ou não um sonho, dar ou não um salto incerto na esperança de cumprir um desejo.

Nunca tive vontade de roubar algo que alguém tivesse, as coisas não se roubam, conquistam-se e não sinto frustração e ciúme na felicidade dos outros.

Em toda a minha vida só tive ciúmes em duas situações, ciúmes inconscientes e característicos da infância dos meus irmãos e ciúmes do meu marido, por mais confiança em mim e nele, há sempre uma pontada de ciúme aqui e ali, é tão natural como o amor que sinto por ele.

 

Nunca fui invejosa, mas nunca tive consciência disso, é uma característica minha, que julgo ter nascido comigo, não foi moldada ou ensinada, tive a sorte de nascer assim, talvez porque sempre me foquei mais nos meus atributos do que nos defeitos, talvez porque a minha autoconfiança e até algum egocentrismo me impedissem de olhar durante tempo suficiente para os outros para sentir inveja.

Tive a plena consciência que não sou invejosa recentemente, foi nos últimos tempos que percebi que apesar de ter um desejo irrealizável que me afeta profundamente, isso não me fez sentir inveja de quem o realizou, vi pessoas realizarem um desejo igual ou similar e não senti inveja.

Posso dizer que senti frustração, mas não senti ciúme, inveja, rivalidade, ganância, apenas uma tristeza interior profunda, tão profunda que é complemente invisível a quem me rodeia.

Percebi também que odeio a inveja e o que ela representa e que tenho tendência a afastar-me de pessoas invejosas, algumas vezes até ter-me-ei afastado inconscientemente de algumas pessoas por serem assim.

 

Acredito que a maioria das pessoas não escolhe ser invejosa, é algo que é intrínseco, é uma reação a um estímulo, acredito porém que as pessoas podem contrariar esse sentimento. Não é preciso encontrar defeitos na pessoa que se inveja, explicações ou motivos para o seu sucesso ou felicidade, nem sequer é preciso procurar em nós lapsos ou falhas para não conseguirmos os mesmos objetivos, é preciso sim encontrar em nós virtudes que nos façam ultrapassar as nossas possíveis falhas, feitos alcançados que nos realizem e novas metas e sonhos que seremos capazes de atingir e conquistar.

 

A inveja corrói tudo o que existe de bom, faz perecer a bondade, a generosidade, o amor, a amizade, consome todos os recursos, todos os sonhos transformando-nos em pesadelos.

 

Não se deixem levar pela inveja, pela cobiça, pela ganância, pela ambição desmedida, deixem-se levar pela inspiração, pela aspiração, pelo sonho.