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Língua Afiada

Grupos de Mães do Facebook, Vacinas e Ignorância

Quando engravidamos há sempre uma amiga ou uma familiar que nos convida para fazer parte dos grupos de mães no Facebook, uma pessoa como lê em todo lado que deve falar com pessoas com filhos da mesma idade, lá aceita e a verdade é que no pós-parto aquelas conversas eram um bálsamo, muito me ri ao ler várias discussões, depois os nossos neurónios começam a trabalhar e rapidamente essas mesmas conversas deixam de ter piada para nos causarem irritação.

Atenção há grupos e grupos e alguns prestam informação relevante e têm moderadoras informadas que dão bons conselhos e que colocam ordem nas publicações, já noutros a confusão instala-se rapidamente e a ignorância multiplica-se à velocidade da luz.

 

A ignorância em relação às vacinas é recorrente, nem é preciso ir às extremistas que dizem que não se deve vacinar, há mesmo falta de informação entre quem procura vacinar e o que mais me espanta é que uma pessoa coloque uma pergunta num grupo, mas seja incapaz de colocar essa mesma pergunta no motor de busca Google, seria muito melhor que lessem as informações disponibilizadas pelas várias unidades de saúde privadas e pelas farmácias, nem é preciso ser um especialista para detetar a informação credível.

 

Há tempos era a confusão entre as vacinas da meningite, com o aparecimento de casos de Neisseria meningitidis dos sorogrupos A, C, W-135, prevenidos pela vacina Nimenrix, vacina que nos últimos anos deixou de ser recomenda devido à ausência de casos, sendo recomendada a Bexsero que previne a infeção pela bactéria Neisseria meningitidis do grupo B, o caos, a confusão entre as duas e a indignação por não existir uma vacina que protegia de todos os tipos?

Li tanta barbaridade, mas o mais grave não é a ignorância das pessoas, ninguém nasce ensinado, o mais grave é a autoridade supra superior com que algumas pessoas afirmam essas mesmas barbaridades, é normal não saber, agora não saber e deitarem-se a adivinhar, jurarem falso a pés juntos e desvalorizarem a opinião e a preocupação dos outros é inadmissível.

A estupidez é tanta que esgrimem farpas (nem lhes posso chamar argumentos) com profissionais de saúde, que se identificam e explicam ponto por ponto, mas nem assim as iluminadas conseguem ver a luz ao fundo do túnel.

 

Nova confusão agora com a vacina da gastroenterite, tanta desinformação, mas adoro acima de tudo as que gritam que não deram e que os filhos nunca tiveram, que bom para elas, isso não significa que os outros não possam ter, mesmo quando lhes dão exemplos de pessoas que não deram e tiveram crianças de seis meses internadas as iluminadas não conseguem perceber o que está em causa, porque a experiência delas, que se resume aos seus filhos, vale mais do que estudos científicos, é ciência no seu estado mais puro, é o que dá tanta vezes se repetir – “A mãe é que sabe!”

É verdade que alguns pediatras não recomendam esta vacina se as crianças não frequentarem a creche antes dos dois anos, porque isso reduz imenso o fator de risco, mas atenção que podem ser contaminadas em casa ou numa saída por alguém que se cruze com elas e um bebé pequeno com uma gastroenterite provocada pelo Rotavírus pode ser problemático, sim é apenas um tipo de vírus, mas é aquele que atira as pessoas, mesmo adultos, para a cama, agora imaginem o que faz a um bebé de meses.

 

É extremamente desanimador perceber que há uma grande fatia da população que é completamente ignorante em relação aos mais diversos assuntos, que não queiram discutir política, que não queiram discutir os problemas do país, os problemas da sociedade, até posso entender, se estivermos constantemente a pensar no que esta mal, nem conseguirmos sorrir, mas este desleixo, esta desinformação, esta ignorância com a saúde deles e acima de tudo com a saúde dos filhos deixa-me profundamente angustiada.

 

Não posso deixar de pensar quantos problemas poderiam ser evitados se as pessoas estivessem mais informadas sobre saúde, não admira que se continue a distribuir açúcar puro em formato de gomas às criancinhas nas festas de aniversário, a maioria das pessoas sabe que faz mal, mas não consegue entender, não tem capacidade para isso, a extensão do dano.

Há um longo caminho a percorrer na informação e na prevenção, não são apenas milhões de euros que podem ser poupados e canalizados para outro tipo de cuidados, são milhares de pessoas e crianças que podem ser poupadas a complicações de saúde e sofrimento.

Uma pena que as pessoas não usem as ferramentas que têm ao seu dispor para informar, mas para disseminar desinformação.

A irresponsabilidade jornalística nas peças sobre vacinação

Que o jornalismo tem deixado muito a desejar estamos cansados de saber, é triste, mas a luta constante por fundos, angariação de publicidade, faz com que sejam disparadas notícias abruptas com títulos chamativos, muitas vezes que não relatam sequer o conteúdo da notícia, tudo se faz pela venda ou pelo click.

Mas há limites para tudo, especialmente para a irresponsabilidade, quando uma publicação duvidosa publica um título escandaloso já não estranhamos, mas há publicações que nos inspiram mais confiança, que temos como credíveis, a essas não podemos perdoar a irresponsabilidade.

É o caso da notícia avançada hoje pelo jornal Público:

“É mais difícil tomar a opção de não vacinar um filho, mas estou segura do que fiz”

 

É o título do texto, que não é propriamente uma notícia, mas uma espécie de entrevista.

É importante que os meios de comunicação escutem ambos os lados e tenham uma atitude imparcial, mas este título não é imparcial, é totalmente parcial, algo como - A visão de quem opta por não vacinar - seria o correto, este ou tantos outros menos tendenciosos, mas quem sou eu para ensinar um jornal a escrever títulos.

A piorar vem o subtítulo:

«“Decidiram não dar nenhuma vacina aos filhos. Como se protege um filho assim? Tanto Eugénia Varatojo como Manuela Ferreira falam da importância de reforçar o sistema imunitário e manter um estilo de vida equilibrado e saudável.”»

 

A entrevista está carregada de pérolas de ambas as mães:

 

«Tiveram varicela e sarampo ainda na infância. “Curiosamente apanharam as doenças com crianças vacinadas, mas em casa e com tempo recuperaram e eu não culpo os pais dessas crianças”, diz Eugénia.»

 

Não culpa os pais das crianças vacinadas? A sério que não? E porque os culparia? A vacina não elimina a possibilidade de contrair a doença apenas diminui os seus efeitos em caso de contágio.

 

«“E como se protege um filho que não está vacinado? Tanto Eugénia como Manuela falam em reforçar o sistema imunitário e em manter um estilo de vida equilibrado e saudável.”»

 

Reforçam o sistema imunitário fazendo o que a maioria dos pais informados fazem, dando-lhes uma alimentação saudável, mas será que nos estão a contar tudo?

Ou os seus filhos tiveram apenas a sorte de ter um sistema imunitário bom, eu tomei todas as vacinas e nunca fiquei doente, era uma criança extremamente saudável e espantem-se nem sequer bebi leite materno, até ao dia que o meu sistema imunitário foi afetado pelo vírus da hepatite A, a alimentação e o estilo de vida saudável de nada me valeram, sucumbi ao vírus que deixou sequelas no meu fígado até o mesmo estar totalmente formado, até aos 16 anos tive que evitar uma série de alimentos porque me faziam dores de barriga.

 

«Manuela diz não perceber as críticas que lhe são feitas. “Se virmos bem, quem está em maior risco até é a minha filha que não está vacinada e, por isso, não vejo que esteja a pôr ninguém em risco. Dar-lhe as vacinas também não era garantia de que não tivesse as doenças. Não gosto quando se fala em passar a ser obrigatório darmos as vacinas. Eu não sou dona da minha filha, mas sei tomar as melhores opções para ela.”»

 

Não vê onde possa estar a por em risco as outras crianças, que não vê já nós sabemos se visse teria vacinado.

Apesar da extensa pesquisa que diz ter feito, não deve ter percebido o mais importante como funcionam as vacinas, o objetivo não é eliminar a possibilidade de contrair a doença mas limitar os seus danos, mais uma vez batemos na mesma tecla a falácia do – as vacinas não evitam as doenças.

 

«“Ainda assim, Manuela admite que possa vir a rever a sua posição em casos particulares, como uma viagem para países tropicais, com doenças mais graves.”»

Doenças mais graves, mais graves porque as pessoas desses países não têm acesso a vacinas, mas por acaso alguém já parou para pensar o que aconteceria se ninguém tomasse vacinas?

 

O que falta a estes pais e à população em geral?

Memória, memória das mortes por sarampo e as sequelas cerebrais irreversíveis que ele deixava.

As pessoas têm de entender que enquanto existirem pessoas não vacinadas os vírus não serão erradicados ou controlados, enquanto países subdesenvolvidos desesperam por vacinas para diminuir a mortalidade infantil e as más formações nos fetos, os privilegiados pelo desenvolvimento brincam com a saúde dos seus filhos e com a dos outros.

Portugal tem uma taxa de vacinação superior à europeia e tem uma taxa de mortalidade infantil inferior à europeia, nos últimos anos existiu uma forte aposta na prevenção e no programa de vacinação, acham que as duas estatísticas são mera coincidência?

Não, não são, são fruto de muito trabalho, muita investigação e muito dinheiro gasto nas vacinas.

 

Quanto aos esquemas financeiros das gigantes farmacêuticas, eles existem, mas não nestas vacinas, basta pensar mais do que dois minutos na cadeia da saúde, os valores gastos na prevenção são infinitamente mais baixos do que os valores gastos nos tratamentos, as farmacêuticas não têm qualquer vantagem em fomentar a vacinação.

Veja-se um exemplo, o Estado terá gasto 14 milhões de euros com a administração gratuita da vacina contra o cancro do colo do útero.

Segundo um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública o Estado gasta 40 milhões de euros por ano com o diagnóstico e tratamento de doenças causadas pelo HPV. Só o cancro do colo do útero custa 27 milhões de euros.

A vacina é dada duas vezes na vida, o valor anual com a vacinação diminuirá com os anos pois serão apenas vacinadas as meninas aos 10 anos e posteriormente aos 13, enquanto numa primeira fase foram vacinadas as crianças nascidas em 1995 e posteriormente as nascidas em 1992, 1993 e 1994, havendo um maior esforço financeiro do Estado.

Façam as contas o que é mais lucrativo para a indústria farmacêutica? A vacina ou o tratamento?

 

Quanto ao jornal Público, no que diz respeito a um assunto que coloca em causa a saúde pública deveria ter mais cuidado na forma como transmite a informação, pois não só importa a informação transmitida, mas a forma como é transmitida.

Faltaram ainda perguntas pertinentes e incómodas que seriam de esperar num artigo deste teor, como por exemplo como reagiriam se um dos seus filhos morresse por falta de uma vacina?

Ou onde encontraram a informação dos efeitos secundários das vacinas e que efeitos levaram a essa tomada de decisão, mas isso seriam questões incómodas e as mães poderiam não se sentir à vontade para responder.

Tratam o tema com uma leveza que chega a ser leviana quando em causa está a saúde de todos nós.

Vacinação – extremismo e ignorância

As entidades já vieram reafirmar que não há motivos para alarme, em Portugal não haverá uma epidemia de sarampo, existem sim surtos de sarampo, mas com a morte da jovem de 17 anos vítima de uma complicação causada pelo sarampo, o alarmismo será muito.

Segundo os dados da Direção Geral da Saúde 95% dos portugueses estão imunizados, cobertos ou pela vacinação ou por terem tido já a doença, no entanto, Portugal teve mais casos de sarampo nos últimos 4 meses do que na última década, depois de em 2016 Portugal ter recebido da Organização Mundial de Saúde um diploma que oficializava o país como estando livre de sarampo.

 

Porquê? Porque mesmo a taxa de cobertura não sendo de 100%, com tantas pessoas imunizadas é muito difícil a doença propagar-se. Crianças não vacinadas no meio de crianças vacinadas estavam protegidas.

Mas o que acontece quando o número de não vacinados aumenta? Um surto.

Há tempos comentei no blog da MJ que a vacinação não era assim tão linear, recordo-me que na altura o meu comentário gerou discussão, quando me referia a não linear referia-me às vacinas opcionais, como por exemplo a Rotarix, RotaTeq, tenho conhecimento que há pediatras que não aconselham a sua toma especialmente quando a criança não frequenta a creche, a taxa de cobertura é baixa e mesmo o risco de invaginação intestinal ser muito reduzido, ele existe, valerá a pena correr o risco?

Outro caso é a vacina da gripe, conheço pessoas que nunca tiveram uma gripe na vida, tomaram a vacina e ficaram de cama, na minha opinião, pessoas saudáveis não a devem tomar, é a minha opinião e a de alguns médicos.

Com tanta desinformação e opinião os pais são facilmente induzidos em erro, teorias da conspiração, suspeita de esquemas económicos aliados a uma opção de vida naturalista são os principais motivos para pais optarem pela não vacinação.

 

Não sejamos ingénuos existem realmente esquemas, conspirações, acredito que até se causem epidemias e alarmismos para se venderem medicamentos e vacinas, mas não podemos generalizar, como em tudo, também no caso da vacinação o problema é o extremismo.

- Darei todas as vacinas possíveis aos meus filhos.

- Não darei nenhuma vacina aos meus filhos.

 

As vacinas gratuitas do plano nacional de vacinas devem ser realmente administradas a todos os cidadãos, sob pena de se colocarem a si próprios e aos outros em risco, basta uma pesquisa sobre as epidemias causadas pelos vírus das vacinas para percebermos a sua real importância.

Escusar-nos da responsabilidade com exemplos não funciona – O meu filho nunca tomou vacinas e nunca teve nenhuma doença!

Não teve porque provavelmente esteve sempre rodeado de pessoas imunes, tão simples quanto isto.

 

E se o vosso filho que não tomou as vacinas não tiver a mesma sorte e se cruzar com alguém que não esteja imunizado?

 

E já pensaram no que pode acontecer quando um dia mais tarde o vosso filho decidir realizar uma viagem a um país menos desenvolvido e viaje sem uma única vacina, sem as do plano nacional de saúde e sem as aconselhadas à viagem?

 

Há quem defenda que devem ser os pais a decidir se devem ou não vacinar os filhos, a verdade é que cabe a eles a escolha já que a vacinação não é obrigatória, mas existem situações em que é exigido o boletim das vacinas atualizado, nas creches, escolas e faculdades e em algumas empresas, uma política para prevenir surtos em aglomerados de pessoas.

Na minha opinião as vacinas gratuitas deveriam mesmo ser obrigatórias, porque a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro e é uma estupidez que alguém com o sistema imunitário fragilizado que esteja num hospital possa vir a morrer porque alguém não vacinado deu entrada no hospital e lhe transmitiu um vírus supostamente erradicado.

Existem um sem fim de vírus novos e esquisitos que não obedecem a tratamentos, um sem fim de bactérias resistentes a antibióticos, todos os dias morrem pessoas nos hospitais com infeções hospitalares o nome que dão a todos os vírus e bactérias que não conseguem combater, será que queremos juntar a estes os vírus que já conhecemos e que quase aniquilamos?

Compreendo que queiram proteger as crianças de químicos, mas o estudo de 1998 que o cirurgião Andrew Wakefield publicou na revista The Lancet que demonstrava uma pretensa causa-efeito entre a vacina tríplice (sarampo, papeira e rubéola) e o autismo foi considerado fraudulento, vão mesmo arriscar a vida dos vossos filhos por uma opinião desacreditada?

 

A única desculpa válida para não dar uma vacina gratuita é acreditar na seleção natural.

Nesse caso esses pais devem deixar de recorrer aos serviços de saúde, a medicamentos, a vitaminas, a tudo o que não seja natural, tudo isto alinhado a uma alimentação completamente biológica e porque não paleolítica, se é para fazer seleção natural é para fazer a sério.