Uma folha em branco
Tenho uma folha em branco, olho para ela e penso no que escrever, sei que tenho uma nuvem negra a pairar sobre o pensamento e sei que consequentemente o meu texto será triste, tento pensar em algo alegre, foco-me nas coisas positivas, mas só pensamentos pesarosos afluem.
Há alturas na nossa vida, em que tudo parece alinhar-se para o lado menos positivo, não há nenhum grande mal, não houve nenhuma notícia trágica, é apenas a soma de muitas pequenas coisas tristes.
Se a felicidade é a soma das pequenas coisas, o contrário também é verdade, pequenas coisas más fazem-nos imensamente infelizes quando a sua insignificância se soma, se multiplica e se eleva ao cubo, sentimo-nos tristes.
- Porque estás triste? Pergunta.
- Não sei. Respondo.
- Não tens motivos para estares triste. Retorque.
- Nem tenho motivos para estar feliz. Digo.
- Tanta coisa boa na tua vida. Diz entusiasmado.
- Tanta coisa má na minha vida. Digo pesarosa.
- Verdade. Anui.
E o meu lado otimista recolhe-se, deixando o pessimista levar a melhor.
Sinto-me cansada, esgotada, respiro fundo, duas lágrimas grosas escorrem-me pela face, apenas duas carregadas de sal e angústia, limpo-as, afogo as seguintes antes de aflorarem e respiro fundo novamente.
Olho pela janela e vejo o céu azul lá fora, ouço os pássaros a cantar e penso a vida é tão bela.
Levanto-me, saio, sinto o ar puro, inalo um longo rasgo de ar, reconforto-me, apanho um punhado de flores para decorar a casa e sorrio.
Afinal é Primavera.