Uma vida preenchida é diferente de preencher a vida
Não me canso de afirmar que a felicidade advém das pequenas coisas, uma vida plena e preenchida não tem de estar povoada de muitas coisas, tem apenas de conter as coisas certas.
Quando damos por nós a tentar preencher a vida de coisas, a querer abraçar o mundo com os braços e com as pernas, estamos na verdade a tentar preencher os vazios mais simples, aqueles que nos fazem falta, mas que nos custa a admitir não estarem preenchidos.
Na nossa busca pelo sucesso muitas vezes
negligenciamos as pequenas coisas
Estes vazios não serão iguais para todas as pessoas, mas não serão muito distintos, porque no fundo todos procuramos as mesmas coisas, podendo existir diferença nas prioridades todos buscamos o amor, a aceitação, a realização e a segurança, o conjunto de coisas que acreditamos ditar o nosso sucesso pessoal.
Na nossa busca pelo sucesso muitas vezes negligenciamos as pequenas coisas, que podem ser pequenos momentos de lazer, hábitos saudáveis, família, amigos, emprego, estabilidade, tudo pode ser colocado em segundo plano quando há um objetivo maior a ser concretizado.
Concretizamos esse sonho, independentemente do que seja, e somos surpreendidos com uma duplicidade de sentimentos, sentimos a conquista mas falta-nos a luta… O que fazer a seguir? Há que escolher um novo desafio.
Mas, e se agora que conseguimos finalmente aquilo que tanto ambicionámos sentimos um vazio?
E se agora que concretizamos o sonho que tanto perseguimos ele fica reduzido à sua concretização, a um breve momento de euforia que logo dá lugar a uma mão cheia de nada?
Faltam-nos as pequenas coisas
Ao longo do caminho fomos deixando espaços importantes por preencher, fomos deixando vazios, pequenos pontos escuros espalhadas pelos recantos da nossa alma que subitamente se juntam e formam um gigante buraco negro que parece não ter fundo.
Faltam-nos as pequenas coisas, pequenos prazeres da vida que fomos deixando para segundo plano, o encontro que não atendemos, a viagem de mochila às costas que não fizemos, o livro que não lemos, o filme que não vimos, a receita que não testamos, o prato que não provamos, a festa a que não atendemos, as flores que não cheiramos, a neve que não nos gelou, o vento que não nos tocou, o calor que não nos afagou.
Abruptamente falta-nos tudo e queremos preencher a nossa vida de nadas, na ânsia de a preenchermos para nos sentirmos preenchidos, queremos ser perfeitos, trabalhadores, empreendedores, pais, esposos, familiares, amigos, companheiros, colegas, divertidos, disponíveis, prestáveis, incansáveis, multifacetados, interessantes, cultos, socáveis, desportistas, políticos, anfitriões, visitantes, turistas, músicos, escritores, cineastas, artistas, solidários, caridosos, incansáveis.
Somos incansáveis em preencher a nossa vida de coisas que agradam aos outros na esperança de nos preenchermos a nós próprios e quanto mais preenchemos a vida mais vazios nos sentimos.
é necessário ao longo da vida ajustarmos o nosso rumo
É importante fazer uma pausa, pensar em nós, no que nos faz felizes, no que nos preenche, nas nossas pequenas grandes coisas, dar importância a nós mesmos e não ao que esperam de nós, focarmo-nos no que queremos de nós, no que conseguimos ser e não ao que projetamos ser, porque é necessário ao longo da vida ajustarmos o nosso rumo, porque o que ontem era prioritário hoje poderá já não ser.
Uma vida preenchida é diferente de preencher a vida.
O essencial é estarmos preenchidos com o que nos é caro, mesmo que todas as coisas que nos preenchem sejam gratuitas.