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Língua Afiada

Viver é todos os dias

Quando temos uma grande perda na vida o discurso é sempre viver um dia de cada vez, na certeza de que com o tempo a superação será mais fácil.

Levantamo-nos todos os dias com uma dor no peito, provocada pelo aperto do coração, dia após dia a dor dá lugar à saudade, à lembrança ou ao esquecimento dependendo se estamos a fazer o luto de alguém que faleceu para o mundo e vive em nós ou de alguém que morreu para nós e ainda vive no mundo.

 

Quando temos uma grande felicidade, também ela se transforma dia após dia, passando a ser lembrança, recordação, momentos de felicidade pura que guardamos como preciosidades que nos amparam quando o mundo desaba, são a nossa tábua de salvação, agarramo-nos a eles como um náufrago na esperança de em breve encontramos terra firme.

 

"...a vida não é feita de dias muito bons e de dias muito maus..."

 

São esses momentos bons e maus que deixam marcas, que nos moldam, que nos fazem ser quem somos, sobrepõem-se ao nosso ADN cravando rugas de sorrisos e rugas de lágrimas no nosso rosto, antecipando cabelos brancos ou adiando-os no compasso intermitente dos dias muito bons e os dias muito maus.

Mas a vida não é feita de dias muito bons e de dias muito maus, esses são a exceção, a vida é feita de muitos dias normais, corriqueiros, banais, a vida é a soma de todos os dias que vivemos e poucos deles são dignos de lembrança.

 

Porquê?

Porque na maioria dos dias limitamo-nos a fazer o que é suposto, vivemos porque respiramos, porque o nosso organismo vive, fazemos a nossa rotina, cumprimos calendário, levantamo-nos e deitamo-nos com um único objetivo viver, sem vivermos realmente.

Porque um dia de cada vez só faz sentido quando estamos tristes, quando estamos bem o dia de cada vez é apenas uma rotina.

 

"Passamos a vida a planear em vez de viver um dia de cada vez..."

 

A maioria dos dias são passados a planear outros dias, planeamos os fins-de-semana, planeamos as férias, planeamos os estudos, planeamos a carreira, planeamos o casamento, planeamos a casa que queremos ter, planeamos da vinda dos filhos, planeamos a reforma.

Passamos a vida a planear em vez de viver um dia de cada vez, aproveitando cada dia como sendo o nosso último, por mais que estas frases de tão usadas por “life coachings” possam soar a devaneios e utopias, são a mais pura verdade, se não vivermos intensamente todos os dias estamos a desperdiçar dias, dias que são preciosos pois não sabemos quando podemos ter o último ou quando será o último das pessoas que nos são caras.

 

"Não é fácil, não é fácil encontrar todos os dias motivos para viver..."

 

O grande dilema da vida é como viver intensamente todos os dias quando os nossos dias estão preenchidos com rotinas, afazeres, deveres inadiáveis que nos sufocam e nos sujam toda a vitalidade.

Não é fácil, não é fácil encontrar todos os dias motivos para viver, para sorrir, para sentir, para experienciar a beleza da vida, no meio de tantas tarefas estamos demasiado ocupados para viver a vida.

Em alguns momentos de lucidez consciencializamo-nos que mais uma vez as frases feitas são verdadeiras: “Vivemos para trabalhar”; “Esta vida são dois dias e um já passou”.

 

Na correria da vida, ela passa por nós a uma velocidade estonteante, corre desenfreada ao ritmo do tempo e nós limitamo-nos a seguir o guião que não sabemos quem escreveu, não conhecemos o autor, não nos lembramos de termos feito o casting, nem de termos sido selecionados para o papel, limitamo-nos a fazer o que é esperado.

Talvez quem nunca se questione seja mais feliz, não fosse a ignorância sinónima de felicidade, quem questiona demasiado vive atormentado com questões para as quais não tem resposta.

 

"Tudo o que temos o aqui e agora..."

 

Questionar também é inútil, é perder tempo com perguntas retóricas.

Resta-nos a consciência positiva, perceber que não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos, apenas sabemos que temos um intervalo indefinido entre o antes e o depois e é o que fazemos nesse intervalo que é importante, porque é o que conhecemos, o que sentimos, o que sabemos.

 

Tudo o que temos o aqui e agora, o passado é passado, o futuro é apenas um infinito de possibilidades, viver o momento é tudo o que temos.

Independentemente de qualquer mal, de todo o stress, de todas as tarefas, encontrem no vosso dia tempo para serem felizes, façam-no todos os dias.

Por pior que seja o vosso dia adormeçam com algo positivo, uma troca de palavras com um amigo, um abraço apertado de um familiar, um beijo sentido do amor da vossa vida.

Se a vossa vida leva um rumo que não gostam, se sentem que a vossa história não é vossa, mudem, mudem o curso da vossa vida, reescrevam a vossa história, só se vive uma vez, não existem segundas oportunidades por isso agarrem esta como se fosse a última, porque é, efetivamente, a última.

 

Viver é todos os dias, não é só quando planeamos, todos os dias são dias bons para sermos felizes.

Sejam felizes todos os dias, vivam todos os dias intensamente.

6 comentários

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    Psicogata 17.01.2017 15:36

    A casa! Esse é daqueles planos que muitas vezes faz com se adiem todos os outros, antecipa-se um sonho sem se perceber que podemos estar a hipotecar todo o nosso futuro com a hipoteca de uma casa...
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    Miss Winter 17.01.2017 15:42

    Ai se fosse hoje... Eu queria somente um apartamento mas o meu ex dizia que apartamento era para pássaros... fiz-lhe a vontade...

    Usufruiu 7 anos da nossa vivenda depois foi para um apartamento com a outra... irónico não é... é pequena é claro que adoro não ter que estar a ouvir os vizinhos e assim o meu filho pode fazer o barulho que quiser que não tenho que me preocupar.

    Agora ainda continuo nela e sou eu que pago como é lógico porque as taxas estão super baixas e o valor da prestação é menor que o valor de uma renda mas isto é enquanto estiver assim e ele estar de bons amores a continuar sem fazer partilhas e ter o nome no empréstimo. Portanto isto é tudo até um dia :)
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    Psicogata 17.01.2017 15:46

    Mesmo sendo um valor baixo, devias tentar resolver essa situação, pois arriscas-te a estar a pagar anos e anos e ele depois reclamar a parte dele, é certo que estás a usufruir dela, mas é sempre melhor separar totalmente os bens.
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    Miss Winter 17.01.2017 15:54

    Pois é uma coisa que não sei ao certo como é, se mesmo eu estando a pagar se quando se fizer as partilhas tenho que pagar até este momento ou somente até ao divórcio.
    A única coisa que colocamos no meu nome foi a carrinha que se tinha comprado à um anos atrás e também estou a pagar, aqui ele não pediu nada e foi ele que quis que eu ficasse com ela por causa do menino visto termos comprado por causa dele porque o meu carro já estava bastante velho e era de 5 lugares e o dele era comercial.

    Por estas coisas é que eu tenho engolido muita coisa e vou passando ao lado a aproveito este lado bom :D mas às vezes penso em comprar um apartamento pequeno para mim e para o meu filho isto se conseguisse obter boas condições e financiamento e no caso dele aceitar vender a casa ou terá que ficar ele com ela e pagar ele que não acredito.

    Oh pa mas como sou gaja optimista e não gosto de pensar no futuro vamos usufuindo e tudo se vai resolver :D
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    Psicogata 17.01.2017 16:10

    Eu acho que não perdias nada em falar com um advogado, seria o que eu faria.
    Nada como cortar com o passado para seguir em frente, mas eu nestas coisas sou muito obstinada, separaria tudo para saber com o que contar.
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